
por Fernando Labanca
Penso que um dos grandes erros da divulgação de "Sob a Pele" foi logo em sua sinopse. Em todos os sites já nos entregam o fato da protagonista ser uma alienígena. É uma pena. Este detalhe poderia ser a grande surpresa de seu final e durante sua projeção, esta dúvida no público poderia ter sido a grande força da obra. Infelizmente, começamos o filme já sabendo disso, pois sim, Scarlett Johansson interpreta uma alienígena que perambula pelas ruas da Escócia a procura de uma presa, homens livres e de boa aparência, para se alimentar, sem lamentar, com a frieza de um serial killer. Tudo muda quando se depara com um homem incomum. É então que começa a se sentir mais humana, e como consequência disso, se torna mais frágil.


"Under the Skin" é uma obra bastante ousada, inovadora eu diria. Jonathan Glazer realiza uma ficção científica muito única, longe do espaço, a ação ocorre nas ruas, no cotidiano das pessoas, e este seu realismo é mostrado de forma crua, seca e que entra em um forte contraste quando o diretor se joga ao surreal, nos entregando sequências visualmente perturbadoras, trash, porém impecáveis. Todas as soluções que o diretor encontra são bem originais, que apesar de buscar referências em Kubrick, seu visual choca justamente por ser tão novo, por buscar alternativas jamais alcançadas. A trilha sonora, que muito remete à "2OO1", assim como os sons e ruídos, causam tanto incômodo quanto aquilo que vemos. A lentidão e o uso mínimo de diálogos também fazem parte desta sua proposta. Glazer domina tão bem aquilo que tem mãos, constrói uma obra extremamente original, um sci-fi como nunca se viu igual. Vale ressaltar a fantástica sequência onde um dos corpos presos pela alienígena se desintegra e a sequência final, tão perturbadora quanto delicada.

Não teve muito o que Scarlett Johansson fazer em cena, ainda assim, é impossível não elogiá-la, sua coragem é admirável, mesmo que desde sempre ter abusado de sua sensualidade no cinema, resolveu se expor justamente neste, num projeto tão arriscado que não agradará todos os públicos, onde sua nudez tem um propósito e surge longe de ser sensual ou provocativo, sua presença tem o poder de chocar, assim como o resto do filme.

NOTA: 6
País de origem: Reino Unido
Duração: 108 minutos
Distribuidor: Paris Filmes
Elenco: Scarlett Johansson
Diretor: Jonathan Glazer
Roteiro: Jonathan Glazer, Walter Campbell
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe um comentário #NuncaTePediNada