quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Crítica: Boogie Nights - Prazer Sem Limites (Boogie Nights, 1997)

Lançado em 1997, “Boogie Nights” conta com a direção de Paul Thomas Anderson e mostra, através de sua narrativa bastante dinâmica, o auge e decadência da indústria pornográfica no final dos anos 70. Sem moralismos, o longa tem o poder de ser mais do que pretende e registra um dos retratos mais fiéis e mais impactantes daquela época. Sutilmente engraçado e extremamente original, a obra é um marco na carreira deste brilhante diretor, e porque não, um marco na história do cinema. Um clássico!

Por Fernando Labanca

Década de setenta, nas noites agitadas ao som de disco, Eddie Adams (Mark Wahlberg) trabalha em uma boate, lavando pratos. Tem uma relação turbulenta com sua família, onde é considerado um fracassado, mesmo ele sonhando em ser um ator de sucesso. É neste local onde desperta a atenção de Jack Horner (Burt Reynolds), um famoso e bem sucedido produtor de filmes pornográficos que vê em Eddie a chance de realizar seu grande desejo, fazer uma obra no cinema que seja respeitada. O garoto, então, se transforma em Dirk Diggler, o mais novo astro pornô, ganha fama, notoriedade e um espaço entre as figuras descoladas que circulam neste meio, uma espécie de família, entre atores, diretores e produtores, amigos que cuidam um dos outros. Entre essas pessoas, está a atriz veterana Amber Waves (Julianne Moore) e a encantadora Rollergirl (Heather Graham), além de Reed Rothchild (John C.Reilly), que se torna seu grande parceiro. Mas como sempre, a fama tem seu preço, e Dirk se afunda nas drogas, perde o rumo, sempre acreditando ser o melhor, sem perceber que seu lugar não é tão especial assim e que facilmente poderá ser substituído por outro.


Muito mais do que relatar os bastidores da indústria pornográfica, “Boogie Nights” é um retrato de uma época, a transição dos anos setenta para os oitenta, a vida noturna, a música, a moda, as drogas, o sexo, os sonhos de uma juventude sem rumo, as desilusões de um grupo de pessoas que optaram por abandonar aquela vida correta repleta de regras e viver intensamente exercendo uma função tão julgada, tão ignorada, mas que era tudo para eles. Paul Thomas Anderson, que também assina o roteiro, entrega alma a esses indivíduos, nos dá a chance de olhar para seus personagens sem moralismos, sem julgamentos, partindo sempre do pressuposto de que cada um ali é um ser humano, acima de tudo, complexo, por vezes ambíguo, que sofre, que sonha, que tem conflitos a ser enfrentados, como a atriz que luta pela guarda do filho. E o grande mérito da obra foi esse, relatar, mas sem julgar. Sabe também ser polêmico, sensual, provocativo, sem ser obsceno, vulgar, sempre optando pelo bom gosto, sabe ser descompromissado ao mesmo tempo em que é pesado, complexo. E assim, nos deparamos com este brilhante roteiro de PTA, tão primoroso, rico em detalhes, constrói personagens únicos, memoráveis, reconstrói uma época, nos dando a chance de voltar no tempo e se deliciar com este filme insanamente divertido e inteligente.

Sou um grande fã de Paul Thomas Anderson, elogiar seu trabalho como diretor é quase como chover no molhado. Ele é um gênio. Vejo isso em cada cena, em cada tomada, em cada corte. Se não bastasse toda a originalidade de sua obra, o diretor opta por resolver suas sequências da forma menos ordinária possível, se utiliza de zooms, de rápidas rotações com sua câmera, de mirabolantes planos sequência de deixar qualquer um chocado. É tudo muito incrível, deleite aos olhos, e a excelente edição reforça ainda mais seu talento, dinâmico ao extremo, onde nunca perde o ritmo, me lembrando por muitas vezes seu filme posterior, “Magnólia”, ágil e eletrizante, características incomuns para o gênero. Para melhorar, uma trilha sonora fantástica, talvez uma das mais incríveis que ouvi nos últimos anos, canções pra ninguém por defeito, como as clássicas de Night Ranger, Rick Springfield, The Beach Boys e Marvin Gaye, entre outras.


Seu elenco é mais um ponto positivo. Julianne Moore é um monstro no cinema, é genial ao mesmo tempo chocante sua habilidade em se transformar, sua interpretação é belíssima, um marco em sua carreira. Burt Reynolds também se destaca, oscilando bem entre a autoconfiança e as desilusões de seu personagem. John C.Reilley, mais uma vez, hilário e muito bem em cena, assim como Don Cheadle. Mark Wahkberg realiza, de longe, seu melhor trabalho como ator, por mais que ele suma ao lado de seus coadjuvantes de peso, ainda assim, é muito bom o que faz, o mesmo posso dizer da bela Heather Graham, que ao longo de sua carreira, este foi seu auge. Ainda há participações menores, mas que surpreendem e muito em cena, como Philip Seymour Hoffman, Alfred Molina, William H.Macy e Thomas Jane.

“Boogie Nights” é um clássico, é mais uma excelente obra na filmografia deste gênio, Paul Thomas Anderson. Se hoje, ele facilmente se destaca como um dos melhores diretores do cinema, é estranho pensar que há exatamente dezesseis anos atrás, poderíamos ter afirmado a mesma coisa. Porque sim, “Boogie Nights” é uma obra-prima, simplesmente não há como não dizer isso diante da beleza de cada cena. Um filme admirável, memorável. Roteiro, direção, atuação, trilha sonora, enfim, tudo em perfeito estado. Recomendo. E muito.


NOTA: 10


País de origem: EUA
Duração: 155 minutos
Elenco: Mark Wahlberg, Julianne Moore, Burt Reynolds, Heather Graham, John C.Reilly, Don Cheadle, William H.Macy, Thomas Jane, Philip Seymour Hoffman, Luis Guzmán, Alfred Molina
Diretor: Paul Thomas Anderson
Roteiro: Paul Thomas Anderson



quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Crítica: Segredos de Sangue (Stoker, 2013)

Chan-wook Park, diretor sul-coreano, ganhou notoriedade no cinema após o grande sucesso “Oldboy”, que hoje ganhou o status de cult. Não poderia ser diferente, seu notável talento o levou até Hollywood, e este é seu primeiro filme em solo norte-americano e devido a isso, vem carregado de boas expectativas. “Segredos de Sangue” merece respeito e admiração, é um grande exercício visual de Park, mas infelizmente não passa disso, uma bela direção tentando dar vida a um roteiro vazio.

Por Fernando Labanca

Em pleno dia de seu aniversário de dezoito anos, India Stoker (Mia Wasikowska) recebe a notícia da morte de seu pai. Ela mantém uma relação conturbada com sua mãe (Nicole Kidman), e a presença constante de parentes, devido ao velório, acaba agravando ainda mais o distanciamento das duas, principalmente com a chegada do misterioso Charlie (Matthew Goode), um tio desconhecido que nunca tiveram notícias, ele decide passar um tempo ao lado delas, é um aventureiro que passou anos viajando pela Europa e agora precisa resolver algumas pendências. Com Charlie na casa, India começa a sentir desejos que antes desconhecia, além de descobrir o passado sombrio de sua família.


Já em seus primeiros minutos, Chan-wook Park nos entrega e deixa claro isso, um suspense diferenciado, com seus interessantes cortes e sua fotografia impecável, ficamos vidrados assim que o filme começa, é tudo belo o que ele nos oferece, uma direção irretocável, e assim “Segredos de Sangue” segue com um clima pesado, misterioso, onde as personagens aparecem de forma fantasmagóricas, remetendo e muito a filmes sobre vampiros, não é toa que sua grande referência é a história de Drácula de Bram Stoker, aliás, Stoker é o nome da família em questão e título da própria obra, há muito de Drácula e sua obsessão por Mina Murray, mas evitarei spoillers. Aliás, referências não faltam para sua construção, Hitchcock também se faz presente, seja na clássica cena do chuveiro de “Psicose” ou nas relações das personagens, as obsessões e desejos proibidos de “Um Corpo Que Cai”, além da própria construção dos indivíduos, Evelyn, interpretada por Nicole Kidman, parece ter saído de seus filmes, seja por seu figurino, cabelo ou modo de agir, além da própria direção de arte que parece ter retirado os fundos de cores fortes e estampados de "Vertigo" para a construção de seus cenários. Como disse, o filme é um grande exercício visual do diretor, que mostra mais uma vez seu talento e sua habilidade em entregar ao público cenas marcantes e extremamente bem elaboradas.

Por outro lado, “Segredos de Sangue” carece de um roteiro mais trabalhado, onde ele nos dá a entender que algo grandioso está para acontecer, alguma revelação surpreendente que mudará drasticamente o rumo da trama. Mas nada acontece. Seu final, de fato, é muito interessante, confesso, mas a sensação que fica é que poderia ter sido muito melhor, que aliás, tudo poderia ter sido melhor. As revelações não são óbvias, mas também não surpreendem, o roteiro nos aponta desde o início o que poderia haver de errado, nos antecipa aonde está o mistério, e em nenhum momento ele guia para outro lado, é o que era para ser, o que parecia ser desde o início, não ousa, e apesar do bom suspense que nos prende ao decorrer do filme, bate aquela decepção, por nos criar aquela expectativa de que estamos diante de algo inovador, mas infelizmente, não. O que vemos é uma obra esteticamente muito bem trabalhada, no entanto, não é capaz de disfarçar ou amenizar suas fracas ideias.

No elenco vemos nomes interessantes. Mia Wasikowska trilhando brilhantemente sua carreira, escolhendo sempre bons projetos, sua grande atuação é notável, e com certeza, faz deste filme algo melhor do que ele teria sido sem ela. Não sou a melhor pessoa para avaliar Nicole Kidman, sou um fã, me dá sempre a impressão de que mesmo sem se esforçar tanto, ela é capaz de roubar a cena, aliás, é dela um dos melhores diálogos do filme, ao falar sobre suas fraquezas como mãe e do que espera para sua filha. Matthew Goode está muito bem também, é um papel difícil e se mostra bastante versátil em cena.

“Segredos de Sangue” merece ser visto e admirado, é um cinema de qualidade que vale como exercício visual, por pura contemplação cinéfila mesmo. Entretanto, ao seu término, me senti diante de algo vazio, tão belo, tão deslumbrante, mas vazio, com personagens que dizem palavras mas não expressam vida, com situações absurdas e mal desenvolvidas, longe de serem verossímeis e longe de causar qualquer empatia. Faltou vida, agressividade, causar impacto, tudo o que o trailer prometia e tudo o que se espera de Chan-wook Park. É um diretor talentoso que não deixarei de apostar minhas fichas, faz deste filme uma verdadeira obra de arte, vazio em sua essência, mas ainda assim, belo.

NOTA: 7


País de origem: EUA
Duração: 98 minutos
Elenco: Mia Wasikowska, Matthew Goode, Nicole Kidman, Dermot Mulroney, Jacki Weaver
Diretor: Chan-wook Park
Roteiro: Wentworth Miller




quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Crítica: Em Transe (Trance, 2013)

Mais um brilhante trabalho de Danny Boyle (Extermínio, Quem Quer Ser Um Milionário?), onde mesmo sendo um projeto tão diferente dos que ele já realizou, ainda assim, é coerente com toda sua filmografia. Original e de uma inteligência extrema, vemos um dos filmes mais interessantes que passou pelos cinemas este ano. Um quebra-cabeça bem elaborado, com reviravoltas surpreendentes e cenas de grande impacto. Prepara-se para fundir sua mente.

Por Fernando Labanca

Já em seu início percebemos, há algo de errado ali, precisamos prestar atenção aos detalhes. E sim, é daqueles filmes que com um diálogo perdido, sua interpretação poderá ser alterada e sua compreensão se tornará mais difícil. Conhecemos Simon (James McAvoy) que trabalha em um leilão de pinturas clássicas, e certo dia presencia uma tentativa de roubo realizada por Franck (Vincent Cassel) e sua gangue. Simon, por sua vez, fica responsável por proteger o quadro, o levando até um cofre seguro, eis que ele é interditado por Franck que lhe dá um soco na cara e leva o quadro embora, logo percebendo, porém, que a pintura não estava mais lá e somente Simon saberia onde a escondeu. Ele e Franck, na verdade, trabalham juntos no furto, no entanto, aquele soco não planejado faz com que Simon tenha uma amnésia, o que o leva ao encontro de Elizabeth Lamb (Rosario Dawson), uma hipnoterapeuta que mergulhará em sua mente em busca do local que todos estão a procura, escondida na mais profunda lembrança deste homem, totalmente atordoado pelos atos do passado, mas que aos poucos seus segredos mais íntimos serão liberados, até mesmo aqueles que ele fez questão de esquecer, revivendo lembranças que nem mesmo ele sabia que havia vivido.


“O que nós somos é a soma de tudo que alguma vez dissemos, fizemos e sentimos, tudo envolvido num único encadeamento que é constantemente revisto e recordado. Então, para ser você mesmo, tem que, constantemente, se recordar de você. É um trabalho constante, mas é assim que funciona.”

A mente humana. Não há nada mais complexo que a mente humana. O roteiro faz uma viagem por dentro da cabeça de seu protagonista e expõe o que há de mais monstruoso e conturbado dentro dele. E assim como aqueles quadros valiosos mostrados ao início do filme, que diante de algum incidente, devem ser retirados e colocados num lugar seguro, assim também ocorreu com as lembranças de Simon. Um item valioso, um detalhe importante, que definiu quem ele era lhe foi retirado para sua segurança e desde o começo não sabemos exatamente qual a sua índole, qual é sua verdadeira identidade e aos poucos, quando sua mente vai sendo exposta e descoberta através da hipnose, vamos descobrindo quem ele é, e sensações vão sendo desencadeadas, como sua fúria, seu sentimento de traição. “Em Transe” é um suspense bem arquitetado, um jogo violento, agressivo e sensual, que coloca seus personagens em situações extremas, expondo o que há de pior e melhor em cada um, e vamos revisitando as recordações que os definem, que os tornaram mais fortes e as que os tornaram mais frágeis. E em cenários com bastante utilização de espelhos, vemos cada um desses personagens revirando o passado, seus reflexos, neste grande exercício da mente, onde o que eles precisam enfrentar de mais doloroso é olhar para si mesmos.

O que há de mais interessante em “Trance” são seus personagens. Simon, Elizabeth e Franck. Simplesmente não há como saber quem são os mocinhos ou vilões, quem é a vítima ou o espertão, o roteiro brilhante jamais deixa vestígios e com suas reviravoltas e surpresas constantes, sempre voltamos atrás sobre aquilo que achávamos acreditar. Nada é confiável nesta obra e até seu instante final, ficaremos rodeados de perguntas, tentando encaixar cada peça deste confuso e interessante quebra-cabeça, onde seus personagens vão crescendo, evoluindo a cada diálogo e a cada informação nova mudamos nossa opinião sobre cada um. E para isso funcionar tão bem, escalaram três grandes atores que se entregam com força, é o típico papel ideal para um ator mostrar seu talento, pois o roteiro lhes dá a chance de transmitir diversos sentimentos e todos trabalharam perfeitamente bem suas oscilações. Rosario Dawson, fazia tempo que não a via tão linda e irradiante em um filme, sem dúvida, um dos trabalhos mais memoráveis da atriz. James McAvoy, mais uma vez, incrível e Vincent Cassel também se esforça e se destaca, como sempre, um excelente coadjuvante.

“Em Transe” é, com certeza, um dos filmes mais geniais que vi este ano, me surpreende não ter feito sucesso nos cinemas, espero que o público o descubra, é uma obra de inteligência rara, que nos prende até seu final, com seus diálogos bem escritos e cenas tão bem montadas que nos obrigam a ficar vidrados a cada sequência, há tensão a todo o momento e sua fantástica trilha sonora nos faz ter diversas sensações. Aliás, o diretor Danny Boyle, mais uma vez, surpreendendo e depois de várias obras-primas em sua filmografia, ele retorna tão bom quanto antes em um dos filmes mais interessantes que ele já realizou. Um excelente diretor que nos entrega um filme belíssimo, impactante, poderoso. É daqueles para se ver, rever e ainda assim permitir que sua história fique remoendo em nossa cabeça. Genial, brilhante. Recomendo.  

NOTA: 9,5



País de origem: Reino Unido
Duração: 101 minutos
Elenco: James McAvoy, Rosario Dawson, Vincent Cassel
Diretor: Danny Boyle
Roteiro: Joe Ahearne, John Hodge



quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Crítica: A Delicadeza do Amor (La Délicatesse, 2011)

Baseado no livro de David Foenkinos, que também roteirizou e dirigiu o longa, ao lado de seu irmão, Stéphane Foenkinos, “A Delicadeza do Amor” é um romance francês, que trata com bastante humor e sensibilidade a história de uma mulher e os caminhos que ela percorreu após a morte de seu marido, passando pela dor do luto até o envolvimento com outro homem. Com mais uma marcante atuação de Audrey Tautou, é o típico filme difícil de não gostar, leve, divertido e também emocionante, simplesmente adorável.

Por Fernando Labanca

Conhecemos o casal Nathalie (Tautou) e François (Pio Marmai), feitos um para o outro, se amam, se entendem, planejam uma vida juntos, porém o destino planeja outra coisa, e ele sofre um acidente e acaba morrendo. Transtornada com o ocorrido, a vida de Nathalie vira de cabeça para baixo, perde seu rumo, seu chão. Entretanto, a vida segue, precisa seguir, ela passa a se dedicar inteiramente ao trabalho e é lá que certo dia, sem pensar duas vezes, beija um dos seus funcionários, Markus (François Damiens). Ele é o típico “loser”, com poucos amigos e baixa autoestima e vê neste beijo a promessa de uma vida diferente, se entrega e tenta investir nesta relação, por mais que não leve jeito algum para isso. E Nathalie, que após sentir a dor da perda, tenta se reerguer e se deixa envolver por ele, mesmo que isso esteja completamente fora de seus planos.


"Ela me permite ser a melhor versão de mim mesmo."

O filme já inicia com um certo impacto, de certa forma, nos afeiçoamos ao casal apresentado em seu começo e assim, a morte de Fraçois carrega uma forte emoção, sofremos por Nathalie e de repente, aquele adocicado romance se transforma num drama pesado, eis que o filme nos surpreende mais uma vez, dando mais uma reviravolta, pois a questão nesta obra não é exatamente a perda, mas sim, o recomeço. E é neste recomeço na vida da protagonista que o longa mostra sua verdadeira face, bastante sutil e leve, uma comédia romântica sofisticada, quase que difícil de encaixá-la neste gênero, pois muito se difere das demais. E com a entrada do personagem Markus, com quem Nathalie se apaixona, o roteiro, muito bem escrito, relata a paixão num clima bem intimista, talvez por nos colocar dentro da mente de cada um deles através da narração em off, mas compreendemos bem cada um deles e nos afeiçoamos e torcemos por eles, por mais que todos ao redor olhem torto para o casal, devido ao fato de Markus ser, para muitos, um homem feio, que jamais poderia estar ao lado de alguém como Nathalie, tão bem de vida e tão bonita. E esta é a beleza desta relação, por todos apontarem as diferenças que há entre eles, mas somente os dois sabem o quanto um completa o outro, e nós, como público, também sabemos o quanto um precisa do outro. “A Delicadeza do Amor” também explora o amor de forma mais sensível, não aquela louca paixão de duas pessoas que querem aproveitar a vida intensamente, mas de um casal que apenas espera ter alguém para acompanhar até em casa.

“La Delicatesse” conta com mais uma interessante interpretação de Audrey Tautou, meiga mas que consegue transmitir com força as dores de sua personagem. François Damiens diverte com as estranhezas de Markus e funciona muito bem ao lado de Audrey, formando um casal adorável. Como disse anteriormente, é o típico filme difícil de não gostar, que emociona, que diverte e encanta facilmente com sua história, tratada de forma sensível e bastante delicada pelo diretor David Foenkinos, talvez por ele mesmo ter escrito o livro que o originou, soube guia-lo da melhor forma, nos entregando, acredito eu, um dos romances mais cativantes que surgiu nos últimos anos, e constrói cenas extremamente bem feitas, que de tão belas nos faz esquecer a própria vida. Com direito a uma ótima trilha sonora e um incrível final, tão simples, encantador e poético como todo o resto. Recomendo.  

NOTA: 9


País de origem: França
Duração: 108 minutos
Elenco: Audrey Tautou, François Damiens, Pio Marmai, Bruno Todeschini
Diretor: David Foenkinos, Stéphane Foenkinos
Roteiro: David Foenkinos





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