sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Especial CINEMATECA: Charlie Kaufman - 200ª Postagem!!!




Comemorando a 200ª postagem do CINAMETECA, e mais do que isso, horas se dedicando a algo, assim como eu, minha amiga e companheira aqui do blog (Babi), que fazemos com muita vontade, logo que cinema é nosso grande hobbie. Para "celebrar" essas tantas postagens, resolvi escrever sobre uma personalidade que tanto admiro quanto me intriga, um dos roteiristas mais importantes do cinema atual, Charlie Kaufman.

Nada mais oportuno que fazer isso, em homenagem a este indivíduo, e portanto exatamente em seu aniversário, 19 de novembro.

por Fernando Labanca

Vida

19 de novembro de 1958 (segundo IMDB), nasce Charlie Kaufman, a mente por trás de filmes como Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças e Quero Ser John Malkovich. Nasceu em Nova York, numa família judia, mas logo se mudou. Estudou cinema em importantes faculdades, inclusive, um de seus colegas de classe foi Chris Columbus (Harry Potter 1 e 2). Passou a escrever em jornais e revistas, até mesmo em artigos cômicos, é por aí que compreendemos seu humor sempre presente em seus roteiros.

Se mudou para Los Angeles, foi quando passou a escrever para séries de televisão, o que não teve tanto destaque, e sua genialidade foi conhecida nos cinemas, quando em 1999 lança "Quero Ser John Malkovich", filme dirigido por Spike Jonze. Hoje ele vive em Califórnia, com sua esposa e seus dois filhos.


Carreira

Em "Quero Ser John Malkovich", logo de cara, provou que não era mais um roteirista, numa obra extremamente original, foi indicado ao Oscar por Melhor Roteiro, Melhor Diretor (Spike Jonze) e Melhor Atriz Coadjuvante (Catherine Keener) e foi reconhecido por isso. Não muito mais tarde, lançou "A Natureza Quase Humana", com direção de Michel Gondry, que foi praticamente ignorado e facilmente esquecido e pouco se fala nesta obra. Seu retorno, então, é com "Adaptação" em 2002, dirigido mais uma vez por Spike Jonze, com várias críticas positivas, faz o filme mais pessoal de sua carreira e o que mais diz sobre ele mesmo. No mesmo ano, lança sua primeira adaptação de um livro, "Confissões de Uma Mente Perigosa". Em 2004, foi quando ganhou de vez notoriedade e enfim ganhou seu Oscar como melhor roteirista, "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças", que teve na direção o retorno de Michel Gondry. Seu último trabalho nos cinemas, foi em 2008, quando pela primeira vez se arriscou a dirigir um roteiro seu, em "Sinédoque, Nova York".


Compreendendo Charlie Kaufman

Desde o início de sua carreira, Charlie Kaufman provou sempre querer seguir pelo caminho menos óbvio, fugir de tudo o que já havia sido feito. Ver um filme de Kaufman é estar diante de algo inovador, revolucionário, tanto visualmente quanto pela ideia mesmo. Hoje, infelizmente, nos cinemas, não há, ainda, quem consiga ir tão longe quanto ele, criar uma história diferente de tudo e conseguir não só ter a idéia brilhante, mas também conseguir dominar suas estranhezas e construir filmes que muitos diriam impossível de se fazer, um começo, meio e fim, tudo mirabolante, mas genial, sem derrapar.

Seus filmes são sempre algo muito pessoal, consegue colocar muito de si mesmo em suas obras, sua filmografia são como crônicas de sua auto-biografia. Em "John Malkovich", de início não se percebe, mas quando visto todos seus filmes, claramente, voltamos no tempo e temos a certeza de que, seu "eu" era a personagem de John Cusack, aquele que faz loucuras para escapar de sua vida e viver uma outra, infeliz com sua própria realidade. Esse desejo da fuga de ser quem é, sempre esteve presente em seus roteiros.

Em "Confissões de Uma Mente Perigosa" por mais que seja baseada na vida de outra pessoa, a insatisfação da vida está lá mais uma vez. Já em "Adaptação" suas características são melhor exploradas e vemos exatamente quem Charlie Kaufman é, até porque esse sim, é uma auto-biografia oficial. Philip Seymour Hoffman dá a vida para seu outro "eu" em "Sinédoque, Nova York" é quando chega no nível mais assustador sobre sua personalidade.

Charlie Kaufman sempre, então, explora em seus roteiros a vontade de ter outra vida, mais do que isso, a incompreensão e insatisfação com sua própria existência. E nada está ligado ao suícidio, mas sim, uma busca infinita para entender quem realmente é, nunca se compreende, nunca se encaixa no mundo e se vê distante de todos ao seu redor, distante de tudo além das próprias idéias, além do mundo que ele mesmo cria, para se sentir, digamos, alguém importante.Vemos isso, claramente em "Sinédoque", onde a personagem principal comete loucuras para se compreender, entender sua função no mundo e ir além, fazer algo importante antes de morrer.

Podemos dizer, que seu maior intuito é compreender a vida, suas estranhezas, sua complexidade, e através de seus filmes, fazer um estudo psicológico profundo neste assunto, com personagens complexos e histórias mais ainda. Ironicamente, quando decide fugir de suas ideologias, é quando alcança maior sucesso, "Brilho Eterno...", pode se dizer, é seu mais fantástico trabalho e o que mais foi compreendido. É difícil chegar a uma conclusão sobre suas obras, são tão particulares, são como quadros abstratos, onde só o autor poderá compreender por completo, e aqueles que assistem, tiram suas próprias conclusões.


OBRAS


Quero Ser John Malkovich (Being John Malkovich, 1999)

"Você não sabe a sorte que tem
de ser um macaco, pois consciência... é uma maldição terrível."



Seu primeiro trabalho nos cinemas como roteirita e produtor executivo, quando pela primeira vez as pessoas viram e pensaram: "o cara que escreveu esse filme tem problema", hoje essa dúvida foi esclarecida. Dirigido por Spike Jonze, conta com Catherine Keener, Cameron Diaz e John Cusack no elenco, além, é claro, de John Malkovich.

Além das indicações ao Oscar, o filme foi indicado ao Globo de Ouro, nas categorias de Melhor Filme (comédia ou musical), Melhor Roteiro e Melhor Atriz Coadjuvante para Catherine Keener e Cameron Diaz. Venceu o Independent Spirit Award como Melhor Roteiro de estréia. No Bafta, ganhou Melhor Roteiro Original e foi indicado a Melhor Atriz Coadjuvante para Cameron Diaz. Fora do país, o filme foi muito bem recebido também, sendo indicado na França, ao Prêmio César de Melhor Filme Estrangeiro.

Vamos à loucura. Em "Quero Ser John Malkovich", conhecemos Craig Schwartz (John Cusack), uma titereiro, ou seja, trabalha nas ruas, manipulando fantoches e fazendo algumas apresentações afim de ganhar alguns trocados. É casado com Lotte (Cameron Diaz), com que tem uma relação conturbada. Decidido a mudar de vida, ele tenta preencher a vaga como arquivista num edifício comercial, mais precisamente no andar 7 e meio, ou seja, entre o andar 7 e o 8, onde todos andam encurvados. Ele consegue. Lá conhece Maxine (Catherine Keener), uma mulher madura, independente e muito sensual, abalando seu casamento.

Eis que certo dia, ele descobre no trabalho um portal, uma porta que se abre e escorregando em um túnel sujo se depara na mente de outra pessoa. Até que logo ele percebe que essa mente nada mais é que a mente de John Malkovich, um ator de cinema não muito famoso, mas todos adorariam ser e lá permanece por 15 minutos até ser jogado no acostamento de uma rodovia. Deslumbrado com a situação, descobriu como encontrar a satisfação mais uma vez em sua vida, logo que amava manipular os fantoches, pois tinha a chance durante alguns minutos viver outra vida, ter outra alma e esquecer de si, e agora ele poderia ser John Malkovich. Mas satisfação não é tudo, ele também precisa comer, e logo conta para Maxine sua descoberta e juntos passam a alugar o portal, anunciaram, e de repende milhares de pessoas, desesperadas, infelizes com suas vidas, pagavam para ser outra pessoa, independente de quem fosse.

Até que Craig apresenta Maxine para Lotte, e Lotte se apaixona perdidamente pela colega de trabalho de seu marido, ele por sua vez, não esconde dela, sua paixão por Maxine também. Para piorar, Craig decide mostrar o portal para Lotte, e ela vicia nisso como uma droga. Até que em uma das idas a mente de John Malkovich, Lotte descobre que Maxine conhece o ator e está prestes a ter um encontro romântico com ele, é quando ela decide voltar todas as vezes em que ele se encontrava com a sedutora mulher, sua intenção não era ser outra pessoa, mas sim, ter Maxine, pois sabia que nunca a teria na realidade. E para piorar mais ainda, John descobre a invasão de sua mente, mas já era tarde, pois Craig bloqueia o portal, para ele ser, eternamente John Malkovich.






"-Craig, por que você gosta tanto de marionetes?

-Talvez seja a idéia de ser outra pessoa por um instante. Estar em outra pele... pensar e mover-se diferentemente...sentir de outra maneira."






Muita coisa, não? Isso não foi nem a metade das grandes surpresas do filme, que quando achamos que já tinha alcançado o ápice do absurdo, vai muito mais longe. E numa idéia tão mirabolante, Charlie Kaufman consegue dar um fim digno, transformando de vez o filme numa obra-prima, que com certeza será lembrada ainda daqui há muitos anos, já sobreviveu 11 anos e ainda é algo moderno, inovador.

Como havia dito anteriormente, Craig é autobiográfico, Charlie Kaufman e suas imperfeições, suas complexidades. Sua relação com a vida é algo, apesar de ser tratar de uma comédia, muito comovente. A relação de John Malkovich na vida das pessoas, é mostrada com muito humor também, mas se refletido, trás uma verdade não muito engraçada assim. As pessoas não queriam ser John Malkovich, elas queriam não ser elas, escapar da realidade. O interessante ainda é que o roteiro nos mostra, que apesar de ser um ator, ter fama, dinheiro, ele tem uma vida normal, e o que as pessoas presenciam durante os 15 minutos são situações do cotidiano, mas para elas já é o suficiente.

John Cusack consegue com perfeição transmitir toda essa complexidade de sua personagem, o drama e o humor, com uma atuação digna e merecedor de aplausos, um dos melhores momentos de Cusack no cinema. Podemos dizer o mesmo de Cameron Diaz que surpreende, apagando os belos traços de seu rosto e dando espaço para a estranha Lotte, convense e faz um dos papéis mais interessantes de sua carreira e uma de suas melhores atuações, pena que pouca gente se lembra ou viu este seu momento e acreditam que ela é só uma modelo que atua, aqui ela prova que não. Catherine Keener, indicada ao Oscar, ganha bastante espaço na trama, se tornando a protagonista da metade para o final, numa atuação brilhante, está divina, incrível. Destaque para John Malkovich que empresta seu nome e seu corpo para a obra, também incrível.

Um filme divertido, estranho, extremamente inteligente e original, diferente de tudo do que já se fez, memorável. Palmas não só para o brilhante roteiro de John Malkovich, mas também, para a direção de Spike Jonze, que sem ele, essa loucura talvez não desse certo.

NOTA: 9


Confissões de Uma Mente Perigosa (Confessions of a Dangerous Mind, 2002)


"Meu nome é Charles Hitchbarris. Eu escrevi canções... eu fui um produtor de televisão...eu sou responsável por poluir o ar com minhas idéias burras de puro entretenimento. Em adição, eu assassinei 33 seres humanos. Estou condenado ao inferno."
Chuck Barris



Dirigido por George Clooney, não, você não leu errado, George Clooney, o astro de Hollywood também dirige e muito bem, por sinal. O filme tem outros astros em papéis de destaque como a revelação da época, Sam Rockwell, Drew Barrymore e Julia Roberts e também George Clooney. Primeira adaptação de um livro, ou seja, primeiro filme que faz sem se basear num roteiro original, baseado no livro autobiográfico de Chuck Barris, ou melhor, em sua autobiografia não autorizada, assim como sugere o filme.

Sabe aquele sábado e domingo que você ficava em casa quando criança assistindo TV com sua família e via programas idiotas com gincanas e brincadeiras ao estilo Programa Silvio Santos, Domingo Legal ou Domingão do Faustão, jogos entre casais, jogos de paquera entre estranhos, show de calouros, enfim, essas baboseiras que só a televisão nos oferece. Acredite, isso não foi invenção do patrão falido, mas sim, de Chuck Barris, o que causou tudo isso.

Chuck Barris (Sam Rockwell) é um jovem ambicioso capaz de fazer qualquer coisa por dinheiro e reconhecimento. Tendo noção de sua imença "criatividade", começa a bolar pilotos para a televisão, inovando em muitos aspectos, e quando uma rede de TV estava falindo pela baixa audiência, ele dá sua cartada final e salva todos com suas idéias idiotas, mas que lucravam. Nessa loucura toda, ele conhece Penny (Drew Barrymore) com quem passa a namorar e dividir seu sucesso recente. E do nada ele vira estrela. Passa a apresentar suas idéias em horário nobre, passa a ser reconhecido e muda a história da televisão.

Até que ele passa a ser perseguido por um agente do FBI (Clooney) que diz que Barris é o cara perfeito para a realização de "alguns serviços" e o convoca para ser um agente secreto. Ele aceita. E para conseguir ter essa vida dupla, ele insere em um de seus quadros para casais, viagens para os vencedores, como a "romântica Berlim Ocidental" para que enquanto isso ele cometa assassinatos em nome do governo dos Estados Unidos.

Na verdade, Chuck Barris chega ao fundo do poço e decide escrever um livro, sua biografia não autorizada, "Confissões de Uma Mente Perigosa", para tentar compreender sua trajetória e mostrar aos outros como não viver uma vida.


"Eu apareci com o Show de Jogos ideal recentemente. É chamado 'Jogo dos Velhos':
Temos 3 caras velhos com armas carregadas em cena. Eles olham pra trás, nas suas vidas para ver o que eles foram, o que eles fizeram e quão perto eles chegaram de realizar seus sonhos. O ganhador é o que não atira nos seus miolos. Ele ganha um refrigerador."
Chuck Barris



Charlie Kaufman e Goerge Clooney constroem um filme bem diferente e divertido, apesar de ter uma temática um tanto quanto pesada, Clooney opta por seguir outra linha, transformando num filme leve e que vale a pena ser assistido. E acima de tudo, um filme muito estiloso, bem "cool".

O que mais chama a atenção no longa, porém, é a dúvida que salta no final, seria a vida que ele conta sua história real? A verdade é que Chuck Barris realmente existiu, a televisão está aí para provar, porém, sua segunda vida que ele revela e foi como uma bomba na época em que lançou o livro, fica na incerteza, não foi preso por seus 33 assassinatos, não há prova deles, ninguém viu os agentes e não há indícios de suas existências. Seria seus assassinatos uma metáfora para os cérebros que queimou e as pessoas que ficaram mais burras depois de suas idéias? Estariam seus crimes somente em sua mente, assim como sugere o título? Ninguém sabe até hoje, e o filme só veio para alimentar essa dúvida.

Mais do que brincar com essas incertezas, "Confissões de Uma Mente Perigosa" mostrou ao grande público grandes revelações para o cinema. Charlie Kaufman provando mais uma vez seu talento, George Clooney como diretor que surpreende e principalmente Sam Rockwell como protagonista. Rockwell é incrível, não o conhecia tão bem antes do filme e depois fiz questão de ir atrás de outros trabalhos do ator, mas este, definitivamente, foi seu melhor desempenho. Talvez o filme não fosse tão bom sem ele no papel principal, que sabe lidar com as diversas situações de seu personagem, se transformando num ator de altíssimo nível, seu trabalho é excepcional. Drew Barrymore, carismática e bela como sempre, sua Penny é doce e simpática e ninguém sabe fazer esse perfil melhor do que ela, infelizmente são poucas as cenas que o roteiro explora um pouco mais da atriz, mas as poucas que exige um talento de verdade, ela convence. Julia Roberts, bela, mas descartável e Goerge Clooney, correto.

Em "Confissões de Uma Mente Perigosa", por ser uma adaptação, as idéias de Kaufman voam menos alto, e mesmo sendo um especial de Charlie Kaufman, o filme vale mesmo por Sam Rockwell.

NOTA: 8,5



Adaptação (Adaptation, 2002)

"- Quero que o filme exista, sem um enredo forçado.

- Está bem, mas aviso que não vai ter sexo, armas, nem perseguições de carros, entende? Nem personagens aprendendo grandes lições de vida, fazendo as pazes, ou superando obstáculos no final. O livro não é assim, nem a vida. Ela não é assim."
Charlie Kaufman



Mais uma vez com a parceria com Spike Jonze que dirige, assim como havia dito, seu filme mais pessoal, isso porque é como uma biografia do autor, não de sua vida, mas de uma experiência muito única que teve. Ou seja, o personagem principal é Chalie Kaufman, intrepretado por Nicolas Cage. O filme ainda conta com atuações marcantes de Maryl Streep e Chris Cooper.

Vencedor do Bafta de Melhor Roteiro e Indicado ao Oscar na mesma categoria, "Adaptação" é citado como roteiro adaptado, e não roteiro original de Kaufman, eu o vejo como uma mescla dos dois. A intenção inicial era fazer uma adaptação do livro "Ladrão de Orquídeas" de Susan Orlean, o livro foi entregue a Kaufman para ele fazer o roteiro para o cinema, mas como fazer um filme somente sobre orquídeas? Os realizadores do longa queriam algumas mudanças no scrip para se tornar algo aceitável a nível de Hollywood. É quando Charlie escreve um filme sobre ele adaptando o livro de Susan. Metafilmagem total.

Charlie Kaufman (Nicolas Cage) e seu irmão gêmeo Donald Kaufman (que também assina o roteiro), são dois roteiristas, Donald viaja mais, tem idéias bobas, já Charlie é mais pé no chão, viaja, mas com consciência. Charlie, então, é contratado para adaptar o livro "Ladrão de Orquídeas", que por sua vez, conta a trajetória de uma escritora de um famoso e renomado jornal em busca de um artigo sobre um homem, John Laroche (Chris Cooper), que rouba orquídeas, e está um busca de uma planta rara e usa isso como sentido de sua vida. Susan vai atrás dele, descobre seus planos e seus objetivos e quanto mais passa ao lado deste excêntrico homem, mais ela percebe o quão especial ele é, e quanta beleza há na vida quando se tem algo para buscar, algo para amar com tanta paixão, e começa a refletir sobre suas escolhas
e o que ela tem em sua vida de tão importante que valha a pena viver.

Sem criatividade para seguir com o roteiro, Charlie pede ajuda de Donald e de um expert
e palestrante em roteiros (Brian Cox), e tantando fazer dessa obra algo mais publicável, cria uma relação de amor entre Susan e John, um acidente de carro, mortes e lições valiosas de vida, tudo para ser aceito, uma história somente de orquídeas nunca daria certo, era preciso adaptar o roteiro e ao mesmo se adaptar às necessidades do público, sobre uma história de adaptação.


"Sabe por que gosto de plantas? Por serem tão mutáveis. A adaptação é um processo profundo. Temos de descobrir como sobreviver no mundo. Mas é mais fácil para as plantas. Elas não têm memória. Apenas passam à fase seguinte. Mas para as pessoas adaptar-se é quase vergonhoso. É como fugir."
Susan Orlean



Parece confuso, mas conforme vamos vendo começamos a entender do que se trata, sem saber que Charlie Kaufman é um roteista que realmente existe, e o livro de Susan também, acredito que o filme se tornaria mais confuso, mas sabendo desses pontos importantes a compreensão é fácil. E é muito mais aproveitoso se visto "Quero Ser John Malkovich" antes, logo que são feitas algumas relações com o primeiro filme de Kaufman, onde John Malkovich, Catherine Keener e John Cusack fazem até uma ponta como eles mesmos, e há cenas onde ele está nos sets de filmagem, fazendo "Adaptação" um filme obrigatório para quem curte o roteirista e um filme, mais uma vez, diferente e único, uma experiência incrível, uma aula de como se fazer um roteiro. A metafilmagem funciona e é bem desenvolvida, só é preciso pensar um pouco para compreender, mas se tratando de Charlie Kaufman isso não é novidade.

A insatisfação como ser volta na pele de Charlie (Cage), durante o filme acompanhamos uma narrativa em off do personagem e muito compreendemos sobre sua personalidade, a todo momento se irrita com sua falta de cabelo, por ser gordo, por ser feio, por não conseguir se encaixar e sempre se sentir deslocado, e não há quem não se identifique com seus pensamentos, nem que pelo menos uma frase, pois é tudo muito sincero e muito espontâneo.

A intenção do longa fica para a personagem de Susan, interpretada por Maryl Streep. Sua personagem é bela, interessante e muito sensível e facilmente nos comove, e nos pega de surpresa, pois ela era só uma jornalista fazendo um artigo, não dá para imaginar tantas reflexões que ela consegue fazer com a história de um cara que rouba orquídeas. Há também narrações de sua personagem, e nos emocionamos com alguns depoimentos, principalmente quando fala sobre amar algo com paixão, isso é a vida e é disso que "Adaptação" se trata, sobre amar algo, ir atrás de um sentido para a vida, seja uma pessoa, um obejeto, uma profissão ou uma planta rara.

Maryl Streep está maravilhosa, encantadora, indicada ao Oscar e vencedora do Globo de Ouro por sua atuação, comove e conquista o público fácil com sua personagem, apesar de madura e independete, é frágil e sensível. Chris Cooper também surpreende, vencedor do Oscar por seu John Laroche, que tem uma atuação digna de prêmios, um dos melhores momentos de sua carreira e Nicolas Cage me pegou de surpresa também, depois de tantos fiascos em sua carreirta recentemente, não tinha noção do talento do ator e do que ele é capaz de fazer, infelizmente não soube escolher muito bem seus trabalhos, mas "Adaptação" ficou marcado e para mim, foi, diaparado, sua melhor atuação. No elenco, ainda vemos Tilda Swinton, Brian Cox, Judy Greer, Cara Seymour e Meggie Gyllenhaal.

Mais um acerto na carreira de Charlie Kaufman, na direção do sempre impecável Spike Jonze, um dos melhores diretores da atualidade, e um acerto também na escolha dos atores que fizeram toda a diferença. O Filme peca um pouco no final, cheio de clichês, claro que eles surgem, também como brincadeira e sátira do roteirista, mas num filme tão inovador e diferente que durante toda a projeção optou pelo menos óbvio, merecia um final mais decente, ainda sim é bom, tudo se resolve de maneira correta, mas numa história tão diferente, é inevitável esperar muito mais.

Detalhe: Donald Kaufman não existe e mesmo assim seu nome é visto nos créditos do filme como roteirista, e ainda foi indicado ao Oscar ao lado de Charlie. O primeiro indicado fictício.

NOTA: 9



Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (Eternal Sunshine of the Spotless Mind, 2004)

"Feliz é o destino da inocente vestal! Esquecendo o mundo e sendo por ele esquecida. Brilho eterno de uma mente sem lembranças. Toda prece é ouvida, toda graça se alcança."

Mary (Kirsten Dusnt), citação do poeta Alexandre Pope.



Retornando na direção, Michel Gondry que foi aclamado por sua direção e foi seu trabalho mais notável. Mais aclamado ainda foi Chalie Kaufman, que se supera, numa carreira já incrível, ele consegue a proeza de ir mais longe e realizar um dos filmes mais inovadores da história do cinema, que definitivamente, entrou para a história. E que finalmente veio em suas mãos o tão desejado Oscar de Melhor Roteiro.

Em "Brilho Eterno..." vemos uma história de amor ao contrário, das brigas finais, passando pela triste rotina, chegando no auge da paixão e enfim chegando ao primeiro encontro. Tudo isso porque Clementine (Kate Winslet) decide apagar todas as lembranças que tem com seu namorado, Joel (Jim Carrey). Depois de muitas brigas, ela enfim toma uma decisão, e entra em contato com uma empresa, a Lacuna, onde eles possuem uma tecnologia inovadora que pode apagar as memórias indesejáveis. Sem saber, Joel não entende o porquê dela não o reconhecer mais quando se encontram, até que ele descobre o ocorrido e decide fazer o mesmo.

Stan (Mark Ruffalo) e Patrick (Elijah Wood), funcionários da Lacuna e os operadores de tal máquina, vão até a casa de Joel como constava no contrato, e depois dele ter entregue todos os objetos que lembrasse de Clementine, suas lembranças com ela começam a ser apagadas, sem seguir uma ordem cronológica correta, Joel passa a ver e entender o porque dela ter se tornado uma pessoa tão detestável, até que os momentos iniciais do casal vem a mente para serem apagadas, é quando ele percebe que ainda a ama. Ele tenta desesperadamente acordar, mas já era tarde demais, e para impedir que se esquecesse dela, Joel começa a colocá-la nas lembranças em que ela não estava presente, como na infância ao lado da família. E para piorar, ele descobre mesmo desconectado com a realidade que Patrick está usando suas idéias e táticas para consquistar Clementine.





"O que Howard faz ao mundo: deixar as pessoas recomeçarem. É lindo. Olhamos para um bebê e é tão puro, tão livre e tão limpo. Os adultos são essa confusão de tristezas e fobias"
Mary




Genial, simplesmente Genial. De ficar sem palavras quando o filme termina, não há nada como "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças", um filme maravilhoso, que alcança a perfeição. O roteiro de Kaufman é simplesmente impecável, correto em tudo, e a direção de Michel Gondry foi essencial, acredito que tenha sido a melhor em toda a carreira de Charlie, o melhor diretor que soube transpor sua idéia maluca para as telas.

Como havia dito, o longa que mais se distancia dos propósitos de Kaufman, é o menos complexo de seus filmes, mas nem por isso menos inteligente e menos interessante, pelo contrário, o melhor do roteirista que cria uma deliciosa história de amor, a mais inteligente e inovadora história de amor já contada nos cinemas. Mesclando fatos do passado, futuro e presente, um quebra-cabeça genial, que quando completo, surpeende pelo resultado final. Outra brincadeira de Charlie, a história de duas pessoas apaixonadas contadas do final para o começo e isso é o mais interessante, pois o final de um relacionamento atualmente é tão óbvio, sempre acaba em brigas e o melhor de um filme é o fim, e o melhor de uma relação a dois é o início, e por essa perspectiva vemos o quanto as pessoas mudam e o quanto elas esquecem quem foram no passado e as promessas que fizeram, e depois de tantas histórias juntos, duas pessoas no fim, chegam a conclusão que não passam de dois estranhos que não se conhecem.

Jim Carrey provou neste filme que pode ser um grande ator de drama, apesar do toque sutil de humor, seu personagem é mais dramático e se sai bem, já havia feito isso em "Show de Truman", e ele retorna no gênero com grande êxito. Kate Winslet, indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, é definitivamente, uma das melhores atrizes norte-americanas, e sua Clementine é uma de suas melhores performances, extremamente adorável, carismática, verdadeira e divertida. Kate fazendo um papelo que geralmente é dado a Jim Carrey e ele, por sua vez, fazendo um papel que seria dela. Invertendo os papéis, até nisso, o filme inova. Ainda temos Kirsten Dunst, também incrível, assim como Mark Ruffalo e Tom Wilkinson.

Um filme obrigatório, não vai mudar a vida de ninguém, mas vai mudar a percepção do que é realmente cinema e o que ele pode nos proporcionar, uma experiência divertida, emocionante, única. Um filme revolucionário, que inova na maneira de contar uma história e de se fazer filme.

NOTA: 10


Trecho de uma das cenas finais, do último encontro nas lembranças de Joel, ou seja, do primeiro encontro do casal. Que conscientes de que no dia seguinte não se recordarão da relação que mantinham, se despedem. Uma das cenas mais belas do filme e uma de minhas prediletas:

"- Eu preciso ir.
- Então vá.
-Eu fui...achei que talvez fosse maluca. Mas você era interessante.
-Queria que tivesse ficado.
-Eu também queria ter ficado. Agora eu queria ter ficado, queria ter feito um monte de coisas.
-Eu desci e você já tinha ido.
-Eu saí, saí pela porta.
-Por quê??!!
-Eu não sei. Me senti um menino apavorado. Era mais forte que eu.
-Estava com medo??!
-Estava. pensei que soubesse que eu era assim. Corri de volta para a fogueira, tentando superar minha humilhação, eu acho.
-Foi alguma coisa que eu disse?
-Foi. Você disse: 'Então vá', com tanto desdém, sabe?
-Me desculpe.
-Tudo bem.
-E se você ficasse dessa vez?
-Eu fui embora pela porta, não sobrou nenhuma lembrança.
-Volte e faça uma despedida, pelo menos vamos fingir que tivemos uma. Tchau, Joel
-Eu te amo.
-Encontre-me em Montauk!!"



Sinédoque, Nova York (Synecdoche, New York, 2008)

"Eu vou ter alguém para me interpretar, para investigar na melancólica, covarde profundidade de minha solitária e fodida existência"
Caden Cotard



Definitivamente, seu filme menos compreendido, tirando "Natureza Quase Humana" que nem conta, "Sinédoque, Nova York" é seu filme mais tenso, mais difícil de se assistir e talvez mais complicado de se entender, muitos dizem que ele extrapolou, alguns até o veem como alguém com problemas mentais de verdade após verem o filme. Pois, mais uma vez é possível ver muito de Charlie Kaufman no filme, e seu "alter ego" vai longe demais, é doentio, suas atitudes são incompreensíveis e assustadoras.

Sem premiações importantes, o filme foi simplesmente ignorado pela Academia. Primeiro longa dirigido pelo próprio Kaufman, que muitos acreditam ser um dos grandes problemas do longa. Caden Cotard (Philip Seymour Hoffman) é um diretor de teatro, é casado com Adele (Catherine Keener) e tem uma filha, Olive. Até que depois de muitas brigas, Adele decide abandoná-lo e viver com uma mulher (Jennifer Jason Leigh) na Europa, o problema que ela leva a filha junto, acabando de vez com a vida de Caden. Livre do relacionamento, ele passa a se relacionar com a doce Hazel (Samantha Morton), sua grande amiga e companheira.

Como prêmio honorário de sua brilhante carreira no teatro, aposentado, Caden ganha uma grande quantia em dinheiro. Insatisfeito com sua própria vida, com todas as coisas que aconteceram e por ele sempre ter se sentido um grande bosta, resolve utilizar esse dinheiro para fazer algo grandioso, algo que o marcaria na história antes de morrer e mais do que isso, um estudo sobre sua própria existência.

Ele vai para Nova York, abandonando Hazel, que por sua vez, segue com sua vida. Lá, Caden descobre um galpão antigo e abandonado, um espaço gigantesco e vazio no meio da grande cidade, e neste espaço, ela passa a fazer uma peça de teatro. A peça sobre sua vida, como maneira de compreender a complexidade de se viver, compreender suas atitudes perante o mundo ao seu redor, ele começa a buscar atores para ser sua esposa, Adele e sua filha, e para isso, ele conta com a ajuda de Claire (Michelle Williams), uma aspirante atriz capaz de fazer de tudo para se dar bem, inclusive se relacionar com o diretor, e quando os dois passam a namorar e morar juntos, ele pede para ela interpretar ela mesma na peça. Ela aceita, é claro. Até que Hazel retorna, e passa a ser sua secretária, e ele contrata uma atriz para ser Hazel no teatro, Tammy (Emily Watson). Percebendo que ter os coadjuvantes de sua vida não seria o suficiente, contrata Sammy (Tom Noonan) para ser ele nos palcos.

Até que ele passa a perder o controle de tudo isso, e viver duas vidas paralelas começa a ficar cada vez mais difícil. Perde a razão, e começa a confundir não só a si mesmo como as passoas ao seu redor, e sem ter a noção de que cada um tem sua própria vida, ele não consegue enxergar nada além de sua peça e do que ele quer construir, algo maior que sua própria existência, não importando com pagamentos, nem espaço físico, deixando de se importar com sua vida real e se
dedicando com sua vida fictícia.


"Olhe para mim. Eu tenho olhado para você sempre, Caden. Mas você nunca realmente olhou para ninguém mais além de si mesmo. Então olhe para mim, olhe meu coração partido, olhe-me pular. Olhe-me descobrir que depois da morte não há nada, sem mais vigilância, sem mais perseguição, nenhum amor. Diga adeus a Hazel por mim, e diga isso pra si mesmo também, nenhum de nós tem muito tempo."
Sammy

Impressionante, de deixar qualquer de boca aberta, alguns poderão até desistir de chegar até o final, mas garanto que vale a pena, e apesar das críticas negativas (a maioria, positiva), acredito que seja um filme poderoso, assustador sim, pois os acontecimentos são surpreendentes e inimagináveis, e o filme cresce tanto que quando chega ao fim, parece que nem mais respiramos, o longa, assim como a própria história, ganha proporções tão grandes, é espantoso ver o resultado e as idéias deste ser, que realmente extrapolou, mas em nome da arte, e como cinema, o filme é maravilhoso, muito original, surpreendente em cada cena, cada fala.

Seria Charlie Kaufman tão maníaco obsessivo pela própria existência? Capaz de ir tão longe a ponto de se descobrir, sem se importar com as pessoas ao seu redor? A verdade é que todos seus filmes foram o palco de "Sinédoque", e a cada trabalho, uma experiência nova, mas um mesmo intuito, se compreender como pessoa, entender seu objetivo de vida, buscar por um significado, por algo importante, algo para amar. "Sinédoque, Noa York" é a junção de tudo isso, é como uma explicação de toda sua obra.

Philip Seymour Hoffman arregaça, simplesmente, arregaça em sua atuação, incrível, consegue, através de suas expressões demonstrar toda sua angústia, infelicidade e ao mesmo obsessão pelo próprio trabalho. O Elenco coadjuvante é de peso. Samantha Morton, doce, maravilhosa, impecável, desde muito tempo vem provando ser uma das atrizes mais talentosas de Hollywood e aqui ela não deixa dúvidas sobre seu talento. Emily Watson surpreende também, como Tammy, quase irreconhecível, interpretando Hazel no teatro, se tranforma em Samantha Morton interpretando Hazel, fantástico, quase confundimos as duas, de tão parecidas que ficaram. Tom Noonan, ator que para mim, desconhecido, fiquei surpreso, fazendo algumas das melhores cenas do filme, emocionante sua participação. Michelle Williams mais uma vez acerta em sua escolha no cinema, construindo uma carreira invejável com uma atuação de destaque, digna de aplausos. Ainda aparece depois de um bom tempo sem vê-la num bom papel, Dianne Wiest, numa atuação surpreendente. Catherine Keener, Jennifer Jason Leigh e Hope Davis, também ótimas.

Um filme explêndido, maravilhoso, original e muito emocionante. Há cenas em que lágrimas não se conterão, como o forte reencontro de Caden com sua filha, muitos anos depois e a cena em que Caden decide contratar Sammy depois de um comovente discurso sobre sua vida. Entre outras cenas memoráveis e atuações marcantes, um filme digno de milhares de prêmios, que só conquistou o Independent Spirit Award como Filme de Estréia, o que já é muita coisa, mas um filme, que se melhor compreendido, teria feito um grande sucesso. Realmente ficou faltando a mão e a visão de um diretor mais experiente, que conseguisse guiar melhor o longa, impedindo que ele se tornasse um pouco cansativo em determinadas partes. Ainda sim, recomendo, assim como todos de Charlie Kaufman, não há um que eu tenha comentado que não valha a pena conferir.

NOTA: 9,5


"(...) Eles dizem que não existe destino, mas existe. É o que você cria. E mesmo que o mundo continue por essas eras e eras...você está aqui apenas por uma fração de uma fração de segundo. A maior parte de seu tempo é gasto sendo morto ou ainda não nascido. Mas enquanto está vivo, você espera em vão desperdiçando anos por um telefonema, uma carta ou um olhar, (...) algo para fazer você se sentir conectado, algo para fazer você se sentir inteiro, algo para fazer você se sentir amado."
Caden Cotard



As frases foram retiradas de trechos dos respectivos filmes, para ilustrar a genialidade de Charlie Kaufman. Os diálogos são sempre um ponto alto em seus longas, também, assim como toda a história, bem originais.

Quem já teve a oportunidade de ver algum dos filmes de Kaufman, não deixe de ver os outros, vale muito a pena. Sua filmografia não é tão grande e já é muito poderosa e importante. Recomendo todos, sem excessão. Um ser talentoso, inteligente e cheio de conteúdo, seus filmes são feitos para serem refletidos e por isso, se tornam memoráveis.

Crítica: As Melhores Coisas do Mundo (2010)

Filme de Laís Bodanzki, entra para a lista dos principais filmes nacionais do ano, e ao meu ver, o melhor de todos. Um filme diferente e novo aqui no país, com uma linguagem mais jovem, preenchendo o vácuo deixado pelo estilo aqui no Brasil, logo que, são pouquíssimos os filmes para este público.

por Fernando Labanca

No longa, Mano (Francisco Miguez) é um adolescente de 15 anos, tem seu grupinho de amigos, e junto com eles presencia a grande fase da vida, a fase onde tudo muda, onde algumas decisões feitas podem afetar toda suas vidas. Sua melhor amiga é Carol (Gabriela Rocha), que por sua vez, é apaixonada por um professor (Caio Blat), o que para ele é ridículo da parte dela. Enquanto isso, ele faz aulas de violão para conquistar a garota mais popular da escola.

Sua vida andava bem, até que seus pais se separam, pois, seu pai sai de casa para viver com outro homem, ou seja, seu pai é homossexual assumido, e como ele mesmo diz, o maior paradoxo de todos, e devido a isso, sua mãe (Denise Fraga) começa a passar por momentos difíceis. Na escola teme que os outros descubram a verdade, pois é o local onde todos são taxados de alguma coisa.

Eis que Carol beija o professor e uma série de acontecimentos começam a mudar o rumo dos estudantes, pois o professor é expulso da escola, Carol briga com Mano pois acha que foi ele quem dedurou e para piorar, a escola descobre que Mano é filho de um homossexual, enquanto isso, a garota que tanto amava é humilhada pois foram encontradas fotos sensuais dela, e juntando com uma jovem que era escluída pois achavam que ela era lésbica, Mano então, decide reunir todas essas pessoas e formar um grêmio da escola, o grêmio "Mundo Livre" e colocar um fim na maneira como os estudantes agem, não mais bullying, sem mais taxações, permitindo que cada um seja livre para ter o que quiser e sem quem realmente quer ser.

Um filme, acima de tudo, sincero, com pensamentos, personagens e dilálogos reais. Um retrato interessante sobre o que é ser jovem, expondo não só as maravilhas de ser um, mas também as complicações, os dilemas e as dificuldades. Todos os personagens são muito bem escritos e muito bem interpretados por jovens atores, mas que compreenderam a intenção da diretora e foram muito verdadeiros em suas atuações.

Todo o universo criado por Laís Bodanzki é muito novo aqui no país, infelizmente, essa linguagem mais jovem está longe de ser prioridade no cinema nacional, sendo grande parte do público nos cinemas, são os adolescentes e raramente são representados no cinema nacional. "As Melhores Coisas do Mundo" surge, então, provando que é possível fazer um filme inteligente utilizando esta linguagem. Aqui os jovens, diferente do que é mostrado no cinema norte-americano, não estão preocupados em fazer sexo antes da faculdade, suas preocupações são maiores e muito mais compatíveis com a realidade, sexo também é uma preocupação, mas não ocupa 100% da mente, que tem problemas como os pais, com os amigos e professores. No filme, os alunos passam a se preocupar como a maneira que são expostos para os outros, talvez essa preocupação ainda não exista e o bullying é uma preocupação e infelizmente está presente nas escolas, mas o filme levanta um ponto a ser discutido e refletido entre os jovens, e por isso, já vale a pena, e prova seu grande conteúdo e sua grande intenção, como cinema, maravlhoso, como papel social, fundamental.

Os atores veteranos, todos bons, como Caio Blat e Paulo Vilhena, entre outros, mas o destaque vai para Denise Fraga, excelente em cena. Os atores iniciantes se dão bem, o protagonista é vivido por Francisco Miguez, que aliás, já foi até premiado em alguns festivais, e assim como todos no elenco, dá muita verdade para sua interpretação e acreditamos que ele realmente é um estudante e age como qualquer colega nosso. Destaque também para Gabriela Rocha, sua melhor amiga, hiper espontânea, carismática e uma das personagens mais interessantes do longa e sua química com Francisco é ótima e suas conversas, hilárias e muito bem escritas, que saem naturais, como qualquer conversa de um adolescente.

Palmas para Laís Bodanzki como diretora que construiu um filme nacional único, e palmas para todo o elenco que se saiu muito bem. "As Melhores Coisas do Mundo" merece ser visto, uma outra visão do nosso cinema, e que apesar de explorar o universo de jovens brasileiros que muito tem a influência norte-americana, o filme ainda consegue ter uma "pegada" bastante nacional, principalmente pela trilha sonora, ótima, aliás, e com tudo o que é construído, pelos diálogos, pelos pensamentos, pela escola e pela maneira como ela é tratada. Um filme divertido, delicioso, carismático, emocionante e memorável.

NOTA: 10

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

3 em 1: Comédia Romântica

Comédia Romantica, um gênero um pouco duvidoso, devido a falta de criatividade daqueles que as criam. Duas pessoas se conhecem de uma forma inusitada, durante o filme há alguns conflitos bobos para no final perceberem que se amam. Entretanto, confesso que ainda tenho esperanças no gênero pois sempre encontro algum com que me identifico, são raridades, mas sei ainda existem, citarei algumas que assisti nos últimos dias, que não são necessariamente os melhores exemplos para o estilo, mas que por determinados motivos, valem a pena serem conferidas, seja por algum ator ou atriz ou por alguma inovação.

por Fernando Labanca

Simplesmente Complicado (It's Complicated, 2009)

Com direção de Nancy Meyers, veterana nas comédias românticas, criadora de algumas das melhores do gênero, como "Alguém Tem que Ceder" e "O Amor Não Tira Férias", ela retorna no que a consagrou e como roteirista e diretora, inegavelmente na atualidade é uma das melhores. Para completar, ainda tem em mãos a protagonista de ouro, Maryl Streep.

Jane (Streep) é uma mulher madura e independente, mãe de três filhos, separada há dez anos e vive muito bem sózinha. Tem uma relação bastante amigável com seu ex, Jake (Alec Baldwin), que por sua vez, está casado com uma mulher bem mais nova. Até que quando um dos filhos está para se formar em outra cidade, a família faz uma viagem, o que faz com que todos se reúnem, porém, deste encontro, ocorre algo que ninguém imaginava, Jane e Jake depois de algumas bebidas acabam transando e passam a manter um relacionamento secreto, o que a torna amante de seu ex, a outra mulher, a mulher que ela sempre detestou e nunca imaginou ser.

Eis que em sua vida, surge Adam (Steve Martin), um arquiteto renomado, educado e inteligente, tudo o que Jake não é, e depois de alguns encontros, ela fica dividida entre começar do zero um relacionamento com quem admira e respeita ou voltar no tempo e retomar aquilo que não terminou no passado.

História interessante, uma brincadeira de Nancy Meyers com a inusitada hipótese daquela que um dia foi traída, tomar as rédeas do jogo, virar o mesa e se tornar a amante. E no roteiro, essa idéia flui bem, realmente divertido as situações, entretanto, nem tudo flui tão bem assim. Tudo ocorre bem no longa, eis que Meyers decide incluir determinados elementos completamente fora de contexto, como a personagem de John Krasinski (o Jim, da série The Office), com bastante destaque na trama, ele não altera nada e só piora, não pela atuação, que aliás está correto, mas pela personagem inútil mesmo. Outro problema é a patética sequência de Maryl Streep e Steve Martin fumando um "baseado", simplesmente essa foi a gota d'água, ou seja, o que já não estava indo tão bem, vai por água abaixo nessas cenas, deixando de ser um filme respeitável, até porque o modo como a sequência funciona é totalmente grotesca, sem graça, criada por alguém que não entende nada desses "negócios" mas quer bancar de "cool".

Maryl Streep está incrível, maravilhosa, adorei sua personagem e sua atuação. Steve Martin provando ser um ator mais versátil, deixando o humor escrachado de lado e encarnando um personagem mais sério e convense. Alec Baldwin, convense no humor e sua veia cômica só melhora o filme e sua química com Streep funciona, por outro lado, nas cenas mais sérias, deixa a desejar. Ou seja, "Simplesmente Complicado" é interessante até certo ponto, digamos, é algo assistível, porém, o pior de Nancy Meyers.

NOTA: 6






Maluca Paixão (All About Steve, 2009)

Vencedor do Framboesa de Ouro este ano de Pior Atriz para Sandra Bullock, que em contra partida ganhou o Oscar, o filme ainda trás Thomas Haden Church e Bradley Cooper no elenco. Sempre tive o pé atrás com este longa, pelo título, pela capa, pelo trailer e pelas indicações ao Framboesa de Ouro, por outro lado, tinha Sandra Bullock como protagonista, eis que tive a oportunidade de vê-lo e enfim formar minha própria opinião, então vamos lá.

Em "Maluca Paixão", Mary (Bullock) é uma mulher excêntrica, diferente na forma de ser, agir e se vestir, trabalha fazendo palavras cruzadas para um jornal e devido a isso é ótima em palavras. Num encontro às escuras, conhece Steve (Cooper), um cinegrafista da CNN. Ele, se assusta com a personalidade de Mary e ela tem a certeza absoluta que ele á homem de sua vida.

Decidido a nunca mais encontrá-la, Steve parte numa grande reportagem, num lugar muito distante, ao lado de seus colegas de trabalho, Angus (Ken Jeong) e o repórter narcisista Hartman (Church), o que ele não imaginava é que Mary vai atrás dele. Ela enfrenta milhões de obstáculos para encontrá-lo e provar que foram feitos um para o outro.

Não há muito mais para comentar da história, o resto é só palhaçada, o filme viaja muito, o que o torna algo nada previsível, pois nunca dá para saber o que vai acontecer, tudo de mais louco acontece, Mary enfrenta desde um tornado, até ficar presa num buraco com kilômetros de profundidade, tudo por amor! Engraçadinho, só isso, não há nenhuma cena em que a risada apareça, só um sorrisinho sem graça, até porque o roteiro se esforça mais no humor forçado em situações exageradas do que na comédia mesmo.

Sandra Bullock definitivamente não mereceu seu Framboesa, já fez coisas piores em sua carreira e sua Mary está longe de ser classificada como a pior. A atriz se esforça, constrói uma personagem estranha, mas carismática e sua atuação não está nada mal, muito pelo contrário, está simplesmente hilária. Thomas Haden Church está bom em cena, diferente de seu colega, Bradley Cooper, bem fraco.

Mas teve algo que me chamou muito a atenção em "Maluca Paixão" e por isso merece ser comentado, seu final. Que foi contra todos os "padrões" hollywoodianos em comédias românticas, foi algo inovador e surpreendente, e só pelo final, vale a pena conferir. A verdade é que vi o filme com expectativas tão baixas que a sensação que tive é que é algo muito melhor do que aparenta ser, que apesar dos exageros, no fim, percebemos que tudo teve um propósito para a mensagem final: não mude pelos outros! Com piadas sem graça, algumas até que funcionam, cenas forçadas e algumas sequências grotescas (nem todas), "Maluca Paixão" força a barra por uma boa intenção, e boas intenções é o que vale.

NOTA: 7






Casa Comigo? (Leap Year, 2010)

Lançado diretamente em DVD aqui no Brasil, "Casa Comigo?" é um delicioso filme com a queridíssima Amy Adams e Matthew Goode. E como tradição aqui no Cinameteca, deixo o melhor para o final.

No filme, Anna (Adams) é uma mulher extremamente romântica que se decepciona por não ganhar um anel de noivado no aniversário de quatro anos de namoro com Jeremy (Adam Scott). Decidida a não ficar de mãos vazias toma uma grande decisão, e quando Jeremy viaja para Dublin a trabalho, vem em sua mente o pretexto perfeito. Numa antiga tradição irlandesa, as mulheres pediam seus namorados em casamento nos anos bissextos, e Anna, então, decidi viajar a Irlanda para pedí-lo exatamente no dia 29 de fevereiro.

Porém, nesta viagem, ela acaba parando no lado errado do país, parando especificamente numa cidadezinha bem sem graça, bem interiorrrr mesmo. Lá, ela conhece Declan (Goode), um irlandês arrogante e taxista e promete levá-la até seu destino correto. Até que, devido a um incidente, ele perde seu carro, mas como parte de sua promessa, ele passa a guiá-la, o problema é que ambos não se suportam devido a personalidades completamente destintas e por se desintederem em vários aspectos. E nessa viagem em busca de ter seu casamento, ela acaba percebendo que o que procura não é exatamente o que precisa.

Parece bobo, mas "Casa Comigo" surpreende fácil. Nesta viagem, muitas coisas interessantes acontecem e o filme nunca derrapa, muito pelo contrário, ele vai crescendo e evoluindo, isso devido ao ótimo roteiro que permitiu que muitas coisas acontecessem, e nisto temos o privilégio de vermos diversas locações, belas, por sinal, e facilmente entramos na história e nos identificamos e viajamos juntos e é tudo muito belo, bem feito, divertido e algumas vezes comovente. Poucas comédias românticas se preocupam em levar o público a um universo novo, a história não é tão inovadora, mas a forma como ela é mostrada é o grande diferencial.

Amy Adams é sempre bela, divertida e carismática ao extremo, parece que ela nem existe de tantas coisas boas que ela consegue transmitir na tela, sua ótima interpretação só aumenta o nível do longa que por si só é alto. Matthew Goode também agrada e juntos tem uma ótima química, simplesmente delicioso ver os dois juntos, se o filme tivesse quatro horas, ficaria lá sem cansar, de tão interessante e delioso que é o longa, bem diferente do que se espera não só de uma comédia romântica, mas também de um filme que foi direto para locadora, que aliás, algumas vezes surgem algumas pérolas, e este com certeza é uma delas. Simplesmente surpreendente.

NOTA: 9,5

domingo, 14 de novembro de 2010

3 em 1: Inglaterra

Filmes ingleses sempre me chamaram a atenção, sempre conservadores e muito elegantes, o cinema da Inglaterra tem muito a mostrar e vale a pena conferir. Selecionei três que vi recentemente, todos com temáticas leves e muito bem produzidos: Brilho de Uma Paixão, Educação e Tinha Que Ser Você.

por Fernando Labanca


Brilho de Uma Paixão (Bright Star, 2009)

Com uma produção que conta também com paises como França e Austrália, o filme é dirigido por Jane Campion (O Piano) e explora os sentimentos por trás dos poemas de John Keats.

Londres, 1818. John Keats (Ben Whishaw) é um poeta muito criticado na época e ao lado de seu melhor amigo, Sr. Brown (Paul Schneider), ele escreve sobre seus sentimentos e tenta não ligar para como suas palavras são recebidas pelos outros. Seu irmão está muito doente e devido a isso, sua vizinha, Fanny Brawne (Abbie Cornish) decide oferecer seus cuidados. Ela, estudante de moda e com opinião formada sobre tudo, começa a se interessar por poesia ao passar tempo ao lado de John e para isso, pede para lhe ensinar, até porque ela não consegue entender suas palavras e o porquê dele ser tão criticado.


Desse "estudo", nasce uma bela amizade, que logo se torna amor. Um amor frágil, sentimental e inocente e sob as belas palavras de Keats, ambos entram de cabeça nesse relacionamento, so tornando quase obsessão. Até que as pessoas ao redor do casal começam a provar para eles que esta união não deve acontecer, ele se desviará da profissão, ela, manterá um relacionamento com alguém que não poderá sustentá-la, logo que John não tem renda fixa e por isso jamais consiguirá lhe dar uma vida digna. E juntos tentam evitar a realidade, pois ela os afasta, e embarcam num romance lúdico, cheio de fantasias e ilusões.


Um filme simples, belo, extremamente belo, mas simples. Um roteiro frágil que se perde facilmente, um filme quase que sem assunto, sobre um casal que se ama mas não pode ficar junto, isso não é novidade. O problema maior é que os obstáculos que surgem são pouco explorados pelo roteiro e quando tudo parece estar perdido para os dois, e acreditamos que algo vai acontecer, já na cena seguinte, eles aparecem felizes e juntos e o roteiro parece se esquecer dos conflitos, optando sempre pelo caminho mais fácil.

Por outro lado, temos dois promissores atores como protagonistas, Abbie Cornish que há um bom tempo vem provando ser uma grande atriz e aqui ela demonstra seu talento perante as câmeras e surpreende, assim como Ben Whinshaw, outro excelente ator. "Brilho de Uma Paixão" ainda tem uma fotografia e cenários incríveis, e um figurino deslumbrante, indicado ao Oscar esse ano por eles. Enfim, um filme bonito embalado pelos poemas de John Keats, um romance verdadeiro e convincente na pele de dois grandes atores, porém, faltou história para contar, o filme para na metade e o resto e só visual.

NOTA: 6






Educação (An Education, 2009)

Indicado ao Oscar de Melhor Filme este ano e vencedor do Bafta de Melhor Atriz (Carey Mulligan), vencedor de Independent Spirit Award de Melhor Filme Estrangeiro e vencedor do Festival de Sundance como Melhor Filme-Voto Popular, Educação é um simpático filme dirigido por Lone Scherfig e conta com a surpreendente atuação de Carey Mullingan.

Londres, 1961. Jenny (Mulligan) é uma jovem de 16 anos e ambiciosa, estuda latim e toca instrumentos musicais. Seu sonho é ir rapidamente para a fase adulta e seus pais acreditam que ela será a nova aluna em Oxford. Porém seus planos mudam quando conhece um homem mais velho, David (Peter Sarsgaard), elegante e rico, ele a convida para entrar em sua vida, lhe mostra uma Londres que desconhecia, o glamour noturno, festas elegantes, leilões de arte e concertos de músicas clássicas, o brilho de uma vida cheia de liberdade, conhece o mundo fora dos muros da escola.

E deste relacionamento, que logo é aceito pelos pais da moça, devido o respeito e educação de David, Jenny começa a viajar, conhecer novos lugares, inclusive Paris, seu grande sonho. E esta união vai muito além, e a jovem começa a questionar as doutrinas da escola, a questionar o que é a verdadeira educação, se é aquela que os professores nos passam ou se é aquilo que aprendemos na vida. Entretanto, deste sonho, começam a surgir novas dúvidas, principalmente quando David começa a lhe mostrar suas verdadeiras intenções, que não são belas nem inocentes assim como ela imaginava.


"Educação" é Carey Mulligan. O filme é ela, uma atriz competente, cheia de brilho e carisma, nas primeiras cenas já nos chama a atenção e quando o filme termina chegamos a conclusão de que não só foi a melhor atuação feminina do ano, mas também, uma das melhores atrizes de sua geração. Sua personagem ajuda, delicada e independete, menina e mulher, e sua atuação convense em todos os casos. Os coadjuvantes também são ótimos, Peter Sarsgaard num bom momento de sua carreira, Olivia Williams como uma professora, quase irreconhecível e Alfred Molina, incrível como pai de Jenny.

A história é interessante, e apesar de ter seus clichês, o filme consegue nos prender, seja pela trilha sonora envolvente, as atuações ou até mesmo as belas locações, não há como não se envolver com a trajetória de Jenny. Um filme simpático, assim como disse anteriormente, que de início nos convida para entrar e a verdade é que, não queremos sair mais.

NOTA: 9






Tinha Que Ser Você (Last Chance Harvey, 2008)

Indicado ao Globo de Ouro 2009 como Melhor Ator e Atriz Comédia ou Musical para Dustin Hoffman e Emma Thompson, o longa dirigido por Joel Hopkins, nos aprensenta uma outra dimensão das comédias românticas atuais, com humor sutil, numa história madura, inteligente e até mesmo comovente.

Londres, dias atuais. A cidade será palco de uma grande cerimônia, e Harvey (Hoffman), de Nova York vai até Londres para celebrar o casamento de sua filha. Porém, para este ato, ele corre o risco de perder o emprego, trabalha numa gravadora e sua idade está pesando e seu chefe está em sua cola e uma derrapada ele estará fora e devido a isso, seu plano é assistir o casamento, não participar da festa e ir embora salvar sua profissão. Até que quando ele chega, descobre que o padrasto de sua filha é quem a levará no altar e seu desampontamento tem que ser escondido para manter as aparências. Para piorar sua situação, na volta para Nova York, ele enfim recebe a notícia que foi demitido.

Para se lamentar, Harvey para num bar, é onde conhece Kate (Thompson). Kate é uma mulher madura e ainda mora com a mãe, não consegue se firmar num relacionamento e não tem uma carreira profissional muito relevante, até que certo dia, num bar, quando era para ser só mais um dia, ela conhece Harvey. Ambos numa idade elevada, na idade que seria do sucesso, sucesso que nenhum dos dois alcançou, tanto no profissional quanto no pessoal e quando os dois conhecem as fraquezas de cada um é quando percebem o quanto são parecidos. E dessa inusitada amizade, Kate faz com que Harvey tenha força e prova que essa pode ser a última chance dele provar que pode ser um pai de verdade e mais do que isso, juntos percebem que essa pode ser a última chance deles se salvaram da triste solidão.





Confesso que não esperava nada deste filme, até ver, e descobrir de que se trata de algo, simples, mas que se refletido se torna algo grandioso. Belo, sensível, divertido e emocionante, "Tinha que Ser Você" é um filme que merece ser visto, um prato cheio para aqueles, assim como eu, admira esses dois grandes nomes do cinema, Dustin Hoffman e Emma Thompson, ambos ótimos em cena, numa química inquestionável, que só por eles já vale parar para ver, mas o filme ainda sim nos proporciona outras coisas para admirar, como as belas locações de Londres, o humor leve mas eficiente e um roteiro simples mas delicioso.

NOTA: 9,5

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