quarta-feira, 20 de junho de 2018

Crítica: Coherence


Um experimento cinematográfico como nunca se viu antes.
Simples no formato, grandioso em suas ideias. 

por Fernando Labanca

Sempre gostei deste modo de contar uma história. Reunir um grupo de pessoas em um único local e permitir que a trama vá sendo construída dentro daquele pequeno limite. É assim que nasceu o ousado projeto de James Ward Byrkit (que, curiosamente, trabalha como ilustrador de storyboards, participando de obras como "Rango" e "Baby Driver"), que definiu apenas os personagens e espaço, alguns caminhos que deveriam percorrer e sugestões de como agir em cada situação. Sem um roteiro estabelecido e uma equipe de produção enxuta, ele gravou o filme em sua própria casa durante cinco noites. Se trata de uma enorme ruptura do cinema tradicional e é brilhante quando pensamos em todas as limitações que tinha e ainda assim conseguiu entregar um produto tão refinado, complexo e inteligente. Sua câmera nos hipnotiza e ficamos ali, vidrados por cada solução que encontra.


A trama é bastante intrigante e segue sempre com um clima de alerta. Acompanhamos, então, um grupo de oito amigos que se reúnem para uma noite de confraternização. Apesar da descontração do momento, nenhum deles esconde a tensão que surge quando fenômenos estranhos começam a acontecer, que sempre são justificados pela rara passagem de um cometa. No meio da loucura de eventos inexplicáveis, eles descobrem, que dentro de uma outra casa, ali perto, se reunia uma espécie de clone deles mesmos. Conturbados e tentando encontrar uma lógica para aquilo, eles chegam a estranha conclusão de que além daquelas paredes, se deu início a uma realidade paralela. Eles mesmos, vivendo caminhos alternativos. 

É muito raro o cinema nos presentear com obras como esta. Justamente por isso, é tão prazeroso de assistir. Ao mesmo tempo em que é assustador e nos faz sentir claustrofóbicos dentro deste bizarro universo, também diverte e tem potencial para manter o público preso desde o primeiro segundo, inebriado por cada sequência. A naturalidade da narrativa e a espontaneidade dos atores nos faz sentir empatia por sua bizarra "aventura", nos faz sentir parte daquele grupo de amigos, ainda mais quando o roteiro nos revela parte das intimidades de cada personagem. Entramos na tela e nos colocamos dentro da situação e isso é primordial para a condução de um bom suspense. A maneira como vai entregando suas respostas é um jogo que funciona, lançando teorias interessantes, principalmente quando faz uma relação dos eventos retratados com o estudo real sobre o Gato de Schrodinger, que acredita, através da física quântica, que um gato pode estar vivo e morto ao mesmo tempo. A ideia da "multiplicação" e das realidades paralelas é muito bem empregada aqui, seguindo sua trama por caminhos inesperados e cada vez mais complexos. O final é soberbo, finalizando bem o ciclo criado.


O mais interessante ainda é como esses personagens são construídos. É curioso como ao falar sobre mundos paralelos, cada indivíduo que retrata parece querer, dentro de si, ser outra pessoa, viver outra realidade. Seja um relacionamento que não deu certo, seja uma carreira que fracassou. Talvez essa seja a razão da obra causar empatia, devido esse nosso constante desejo de estar em outro lugar, ter o que ainda não temos ou recuperar o que já tivemos. São essas pequenas ideias que tornam a obra tão brilhante. "Coherence", no fim, surpreende e traz frescor para a ficção científica. É um produto relevante, intrigante e prova que não é preciso super produções para prender a atenção do público. Simples e nem por isso, pequeno. Genuíno e nem por isso, ordinário. Fazia tempo que um filme não me fazia sentir esse baque, de estar ali, diante da tela, assustado, hipnotizado e ao mesmo tempo maravilhado por seu fantástico argumento.

NOTA: 9



País de origem: EUA
Ano: 2013
Duração: 89 minutos
Distribuidor: -
Diretor: James Ward Byrkit
Roteiro: James Ward Byrkit
Elenco: Emily Baldoni, Maury Sterling, Nicholas Brendon, Lorene Scafaria, Lauren Maher, Elizabeth Gracen, Hugo Armstrong, Alex Manugian



3 comentários:

  1. Bom conhecer esse filme.
    Gosto muito, também, dessas experiências de filmes que desenvolvem sua histórias em uma locação só. Em que as pessoas confrontam a situação e vai-se revelando suas camadas.
    Fiquei interessado em assistir, principalmente porque a temática de realidades paralelas me interessa muito. E esses filmes mais independentes sempre trabalham melhor a história quando efeitos e trucagens caras não são opção.
    Crítica certeira e dica ótima!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que bom que curtiu a dica, Maicon! Se curte este tipo de trama e a temática, com certeza, vai gostar desse filme!

      Obrigado pelo comentário!

      Excluir
  2. Assisti ontem. Achei a ideia é criativa mas achei que o roteiro poderia ser melhor trabalhado e a direção considerei muito fraca. Este vale um remake pra ficar joinha! Parabéns pelo Seu texto!

    ResponderExcluir

Deixe um comentário #NuncaTePediNada

Outras notícias