Retorno do diretor Barry Jenkins que, após vencer o Oscar por "Moonlight", volta para falar sobre a luta das minorias nos Estados Unidos. Baseado no livro de James Baldwin, temos aqui um duro relato sobre tantas injustiças raciais que permeiam até hoje.
por Fernando Labanca
O filme narra a história de um casal, Tish Rivers (Kiki Layne) e Fonny Hunt (Stephan James), que tem suas vidas separadas quando ele, um jovem negro, é preso injustamente por assediar uma mulher, mesmo que não houvesse provas contra o crime. Fora da prisão, Tish procura, ao lado de sua família, meios de inocentar aquele que ama, ao mesmo tempo em que precisa lidar com o nascimento de seu filho.
O filme intercala muito bem os momentos de romance entre o casal, e daquela felicidade que sentem quando tudo parece dar certo entre eles, com os momentos em que Fonny já está na prisão. É triste acompanhar a jornada deles e saber que nem tudo será fácil, nem tudo será justo. Há uma cumplicidade muito grande ali e bela de assistir, não só pela deliciosa química que há entre os dois atores, mas principalmente porque Barry Jenkins sabe como filmar uma cena romântica. Tudo é extremamente lindo de se ver! As trocas de olhares, a filmagem e a delicada e poderosa trilha sonora de Nicholas Britell, que torna cada instante ainda mais sublime. Tudo nos leva a acreditar naquela relação e viver aqueles sentimentos tão belos ao lado deles. Por outro lado, a trama perde a força quando nos mostra os momentos atuais e com as famílias de ambos. Há uma teatralidade que nem sempre funciona em cena, tornando alguns momentos exageradamente dramáticos e pouco convincentes. A história, também, parece não sair muito do lugar. Começa e termina exatamente no mesmo ponto. Não avança e isso enfraquece a experiência de vê-lo, ainda que seja tecnicamente impecável.
O elenco está todo correto, no entanto, é inevitável não ficar de olho em Regina King a espera de seu grande momento no filme. É uma atriz fantástica e isso é fato, porém, seu momento nunca chega na obra ou alguma cena que justifique seu Oscar. Sua coadjuvante é pequena ali dentro e não há muito material para ela se destacar. O que é uma pena, ela merecia mais. Por fim, "Se A Rua Beale Falasse" termina com uma triste sensação de que falta algo, tem muito a dizer mas não explora ao máximo as situações nem seus personagens, entregando um filme desconfortavelmente linear, previsível. Entretanto, ainda há o que se admirar neste novo trabalho de Barry Jenkins, que retorna com mais uma direção irretocável. Seu olhar é único e vem para nos revelar esse romance que tinha tudo para ser o mais belo conto de fadas, mas é constantemente destruído pela realidade.
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