Crítica: Fora de Série

Um clássico instantâneo. O filme de comédia do ano. 

por Fernando Labanca 

"Fora de Série" é tão bom quanto falaram que era e nem por isso deixa de surpreender. Fui ao cinema com altas expectativas e, ainda assim, saí de lá maravilhado com tudo o que vi. Desde que li sobre a estreia na direção da atriz Olivia Wilde (The O.C., Her) fiquei curioso por conferir, principalmente depois de assistir o clipe de "Dark Necessities", da banda Red Hot Chili Peppers, feito por ela. Há talento em suas mãos e é brilhante o trabalho que ela realiza, agora em um longa-metragem. É ainda mais incrível quando ela pega um gênero com fórmulas tão desgastadas e cria sua própria versão de tudo isso. É assim que a comédia norte-americana acaba ganhando uma nova voz e um novo padrão de qualidade a ser seguido. 

A sinopse deixa a entender que teríamos um "Superbad" com garotas. Exista quem possa definir o filme desta forma mas não acredito que seja uma afirmação justa, ainda que haja algumas semelhanças entre as duas produções. A história de duas amigas extremamente estudiosas que decidem aproveitar ao máximo a juventude antes de entrar para a faculdade soa familiar, mas não se engane, há muito mais aqui do que possa parecer. Seguindo uma linha "Sex Education", o roteiro consegue trazer um cenário muito conhecido pelo cinema ao mesmo tempo em que quebra diversos estereótipos das comédias adolescentes. É um filme que se encaixa bem nos novos tempos e ao colocar duas garotas como protagonistas, a trama consegue dar voz a situações que há pouco tempo atrás não tinham espaço na tela grande. Homossexualidade, sexo, sororidadade e tantos temas que antes não tinham importância, surgem com naturalidade através de um texto divertido, espontâneo, que faz piada sem diminuir nenhum grupo. É bom e raro porque faz rir sem ofender e porque nunca perde seu tom. Aquele filme que tem sempre algo novo a oferecer, sempre se reinventando e nunca perdendo o fôlego. 

Olivia Wilde consegue ainda a proeza de entregar sequências lindamente filmadas e choca porque dificilmente comédias ganham esse cuidado de direção. A delicada cena onde uma das protagonistas mergulha na piscina (e tem uma grande revelação lá dentro) ou o inusitado momento musical que é inserido ali. É tudo tão bem trabalhado e bonito de se ver que espanta pela altíssima qualidade, não apenas narrativa como visual. Há muito tempo não faziam uma comédia tão inventiva como essa. É ótimo, também, quando Wilde, mesmo que revele o colégio de hoje, traz uma vibe nostálgica ao colocar diversas referências para aqueles que viveram os anos 90, como Alanis Morissette ou "Quase Famosos". No fim, os mais crescidos podem desfrutar e muito do que ela expõe na tela, sentindo uma estranha sensação de querer voltar no tempo e desfrutar novamente a adolescência, da liberdade até os eventos mais constrangedores. 

Beanie Feldstein e Kaitlyn Dever brilham e tornam cada momento do filme um presente. Como é bom ver as duas contracenando. A espontaneidade delas é tão fascinante que acreditamos na amizade delas, na cumplicidade que existe ali. Billie Lourd também está impagável e é hilário cada instante que ela surge. "Fora de Série" é um grande acerto e que torna as últimas comédias lançadas completamente desinteressantes. Uma obra extremamente engraçada e isso é, de fato, uma qualidade rara de se encontrar. É possível rir do começo ao fim e isso não é exagero. Saí do cinema apaixonado, com sorriso largo no rosto, feliz por finalmente ver, não apenas uma comédia decente, mas por ter tido a chance de ver um dos melhores filmes desse ano. Em uma bela estreia na direção, Olivia Wilde entregou um trabalho contundente, vibrante, cheio de vigor e paixão.

NOTA: 9,5

País de origem: EUA

Título original: Booksmart
Ano: 2019

Duração: 105 minutos

Distribuidor: Imagem Filmes

Diretor: Olivia Wilde
Roteiro: Katie Silberman

Elenco: Beanie Feldstein, Kaitlyn Dever, Skylar Gisondo, Billie Lourd, Jason Sudeikis, Lisa Kudrow, Will Forte