segunda-feira, 12 de março de 2012

Crítica: Tão Forte e Tão Perto (Extremely Loud and Incredibly Close, 2011)

Baseado na obra de Jonathan Safran Foer, o longa indicado ao Oscar de Melhor Filme este ano, narra a história de um garoto que perdeu o pai no fatídico 11 de setembro, sendo muito mais do que apenas uma homenagem às perdas desta data, "Tão Forte e Tão Perto" é um drama competente, extremamente bem dirigido por ninguém mais que Stephen Daldry, nome por trás de belíssimos projetos como "Billy Elliot", "As Horas" e "O Leitor", sendo este, apenas seu quanto filme e por incrível que pareça, sua quarta indicação ao Oscar.

por Fernando Labanca

Assim como em 1999, Stephen Daldry lançava ao cinema um ótimo protagonista mirim, Jamie Bell em "Billy Elliot", neste seu novo trabalho, coloca o jovem Thomas Horn para guiar toda a história. Horn interpreta Oskar Schell, um garoto que tem a síndrome de Asperger, possuí graves problemas de comunicação e interação social, encara o mundo de outra forma e para isso conta sempre com a ajuda de seu pai, Thomas (Tom Hanks) que inventa diversos "mistérios" na cidade de Nova York para incentivar seu filho a interagir com a sociedade enquanto fizesse suas "investigações". Até que Thomas falece por uma ironia do destino, estava presente no World Trade Center no dia 11 de setembro de 2001. Oskar, então, se vê perdido no mundo, sem chão. Eis que ele encontra, guardado nas coisas do pai, uma chave dentro de um pequeno envelope com o nome "Black". 

A partir deste momento, o garoto resolve ir atrás de todas as famílias Black's da cidade, acreditando que encontraria um segredo importante guardado por seu pai. Desenvolve, então, um roteiro rico em informações e detalhes para sua incrível jornada, para isso, passa a contar com o auxílio de um misterioso vizinho (Max Von Sydow), um senhor mudo que se comunica através da escrita. E a cada porta em que bate, uma nova vida que conhece, uma nova história. E a cada passo que dá, mais perto se vê de seu pai, porém, mais longe se vê de sua mãe (Sandra Bullock).


"Tão Forte e Tão Perto" me surpreendeu e muito e acredito que possa surpreender muitas pessoas também. É aquele filme que chega do nada, ninguém espera muita coisa e quando ele termina, aquele sentimento de imensa satisfação. A verdade é que eu não esperava muita coisa, desde que vi seu nome entre os indicados ao Oscar, não acreditava em seu potêncial e nem que pudesse existir algum motivo para o filme estar ali. Também achava que seria mais um clichê hollywoodiano sobre o 11 de setembro. O longa de Stephen Daldry mereceu estar entre os indicados e é mais ou tão poderoso quanto qualquer outro indicado este ano. O ataque terrorista, aqui, serve como pano de fundo de uma história muito mais profunda, o roteiro não usa do ocorrido para criar a emoção ou pena no público, o roteiro é bom demais e não se permite a isso, consegue ir muito mais além, emociona, mas não por isso. Emociona pelo todo, por toda a trajetória de Oskar, sua relação com o pai falecido, os fantasmas de suas lembranças, emociona pela delicada relação com sua mãe, ou por inúmeros outros detalhes de uma trama muito bem escrita, que não força a barra e não exagera ao tentar criar esta comoção no público, como muitos críticos vem apontando, a empatia para com as personagens vem fácil, logo, nos vemos envolvidos por seus dramas. Vale citar que os conflitos na família gerados pela morte do pai são fortes e nem sempre trilham pelo caminho fácil e pelo clichê, vemos então, ótimas cenas, que comovem pelos bons e surpreendentes diálogos.

O roteiro tem a assinatura de Eric Roth, conhecido por seu trabalho em "Forrest Gump" e "O Curioso Caso de Benjamin Button". É interessante notar algumas pequenas semelhanças na sua escrita, o talento que ele tem para criar algo grandioso, pegar uma personagem, seja Forrest, Benjamin ou agora Oskar, e colocá-lo diante de uma jornada, onde ele acaba se envolvendo com outras histórias e acaba tirando lições destas novas relações. Este mesmo roteiro, surpreende em outros detalhes, como a personificação do garoto, a maneira como trabalham suas manias e estranhezas, ajudado sempre pela ótima direção de Daldry. Achei interessante também as voltas que a história dá, ganha força ao não seguir uma linha cronológica correta, por vezes nos revelando eventos passados e que fazem toda a diferença, melhor ainda é seu final, onde um pequeno detalhe revelado muda toda a forma como estávamos vendo a história, o roteiro nos mostra uma outra perspectiva, acaba sendo inovador essas sacadas e por elas o filme ganha fôlego, onde a cada instante, uma nova informação. O roteiro não usa sua premissa inicial, o segredo do pai, para prender a atenção do público, consegue criar diversos elementos interessantes na trama para isso. O talento de Roth é nítido, infelizmente não sei avaliar como adaptação, mas como cinema, tudo funciona perfeitamente bem. 

As atuações é outro ponto alto do longa. Thomas Horn, o jovem protagonista consegue e com muito êxito passar as emoções de sua personagem, mesmo que Oskar seja chato e extremamente irritante, o ator mandou muito bem e soube guiar o filme, trabalho difícil, talento provado. Os coadjuvantes são de grande peso, Tom Hanks faz uma pequena participação e convence, fazia tempo que não o via tão a vontade e tão bem num filme. Mas os grandes destaques ficam para o indicado ao Oscar de Ator Coadjuvante, Max Von Sydow, o senhor mudo e consegue dizer tanta coisa sem ao menos dizer, passa tanta emoção sem usar nenhuma palavra, belíssima performance. Assim como Sandra Bullock, que surpreende e muito na pele da mãe do garoto, se destaca nas cenas dramáticas, para minha surpresa, está mais ousada que o normal, se entrega de forma fantástica, emociona e constrói algumas das melhores cenas do filme. Ainda vemos ótimas participações de Viola Davis, Jeffrey Wright e John Goodman.

Com um elenco poderoso, um roteirista de primeira como Eric Roth e um dos diretores mais brilhantes do cinema norte-americano, Stephen Daldry, não teria como dar errado. Daldry soma este poderoso filme a sua belíssima filmografia, e assim como todos seus outros trabalhos, realiza algo admirável, soube guiar o ótimo roteiro, faz ótimas sequências, contando com o auxílio da incrível trilha sonora de Alexandre Desplat, além da bela fotografia. Perde um pouco de pontos pelo excesso de narração em off, por vezes, revelando o que já estava na tela e por algumas atitudes exageradamente estranhas de Oskar que acabam o afastando do público. Para se ver, se envolver, se emocionar, admirar. Hollywood já realizou inúmeros filmes sobre 11 de setembro, mas nenhum conseguiu ser tão completo como este. Recomendo. 

NOTA: 8,5




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