domingo, 16 de setembro de 2012

Crítica: À Beira do Caminho (2012)

Novo trabalho do diretor Breno Silveira, conhecido por realizar "2 Filhos de Francisco", e mais uma vez ele tem a música como a base de sua trama. Tem roteiro inspirado nas canções de Roberto Carlos e as usa para ilustrar a emoção de seus personagens, apostando não só numa forte cultura nacional, como também na emoção do público ao tratar de temas como a morte, a perda de alguém que se ama e as lembranças constantes de um passado que ainda não se foi. Temas que um dia Roberto cantou e hoje são resgatadas de forma sensível neste grande filme nacional.

por Fernando Labanca

Conhecemos João (João Miguel) um caminhoneiro amargo e nada sociável, viaja pelo Brasil ao lado de sua única companheira, a solidão e tem na estrada a fuga perfeita para seu trágico passado. Eis que certa noite se depara com um garoto, Duda (Vinicius Nascimento), que diz órfão recente de mãe e que decidiu ir para São Paulo em busca de seu pai, seguindo um endereço escrito numa foto antiga. João, então, decide levá-lo para uma cidade próxima, seu destino de trabalho, entretanto neste trajeto, com a presença de Duda, seu passado vem a tona em suas lembranças e começa a ter forças para enfim, encarar o que aconteceu, mais do que isso, passa a compreender seus erros e a repará-los.

Confesso que nunca gostei de Roberto Carlos e fiquei bastante receoso ao assistir esse filme. Porém, o que o roteiro, assinado por Patricia Andrade (a mesma de 2 Filhos de Francisco), nos proporciona é muito mais do que uma homenagem ao "rei", a história em si é muito mais importante e o drama vivido pelos personagens recebem seu devido valor sem serem ofuscados pelas canções, estas, que em cena, servem para ilustrar muito dos sentimentos não falados o que acaba enriquecendo muito este projeto. É simplesmente belo como essas músicas chegam e é interessante a relação que ela tem com seu protagonista. Conseguir músicas de Roberto para trilha sonora nunca foi fácil, dizem que ele é bastante rigoroso ao liberar suas canções, aliás, só liberou quatro para o filme, "O portão", "Outra Vez", A Distância" e "Como vai você", além de outras cantadas por Vanessa da Mata e Nina Becker. São, no entanto, suficiente para preencher toda a trama, e são através delas que descobrimos as dores de João, seu amor não acabado, sua saudade do passado e também sua amizade que se inicia com Duda. Vale notar também que o roteiro faz bom proveito não só das músicas de Roberto, como também de outros elementos, como as frases de para-choque, bastante conhecidas por nossa cultura e surgem sempre querendo dizer algo a mais, chega até ser engraçado o quanto que essas simples frases revelam o que a obra queria passar, frases como "Viver é como desenhar sem borracha" e "Quando a saudade não cabe no peito, ela transborda pelos olhos". Ou seja, não precisa ser fã do cantor para apreciar o filme, Breno Silveira nos oferece muito mais para nos encantar. 


"Á Beira do Caminho" é um delicioso road movie, com direito a muitas paisagens e muitas auto descobertas. E nessas estradas nos afeiçoamos rapidamente a seus protagonistas, vamos descobrindo aos poucos o misterioso passado de João e o bom roteiro nos faz querer saber o que fez deste homem tão amargo, além de termos a curiosidade de saber o que acontecerá com o pequeno garoto. Dois caminhos opostos, um correndo atrás de seu futuro, outro, de seu passado. A maneira como João e Duda nos são apresentados é um dos grandes méritos do longa, torcemos por eles, nos apegamos, é belo a trajetória dos dois e a a amizade entre eles é construída de maneira bastante humana, simples, seguindo sempre por momentos de grande emoção. Aliás, tudo acontece de forma bastante natural, verossímil e este é outro grande ponto positivo, desde as viagens de João, a câmera parece conseguir captar toda a solidão daquela vida, os restaurantes em que come, as mesas em que senta, os caminhos que percorre, acreditamos naquela vida, pois cada pequeno detalhe é feito de forma muito bem pensada, é real. A naturalidade com que Breno conduz sua trama e o realismo de cada situação enaltece sua proposta. A atuação de elenco ajuda ainda mais essa verossimidade, João Miguel é um ator extremamente talentoso e consegue demonstrar inúmeros sentimentos ao decorrer do filme, tudo de forma convincente e seu parceiro de cena, por mais novato que seja, conquista espaço e realiza grandes cenas, Vinícius Nascimento, um nome a anotar. Dentre os coadjuvantes, Dira Paes, surge mais uma vez ótima, além de Ângelo Antônio e Denise Weinberg.

Além das canções de Roberto Carlos, o filme conta com uma belíssima trilha instrumental, de Berna Ceppas, minimalista e que consegue trazer emoção nos momentos certos. Ainda vemos na tela uma incrível fotografia, de Lula Carvalho. Enfim, um longa nacional repleto de elementos positivos, de um roteiro bem elaborado e uma direção cuidadosa. Seu único grande defeito, acredito eu, foi seu final, com medo de deixar pontas soltas, acaba que deixando tudo muito resolvido, muito redondinho, um típico final que o público gosta de ver, mas que acaba não sendo muito condizente com o resto da trama. Com certeza, "À Beira do Caminho" será mais um daqueles filmes que usarei em defesa do cinema nacional, realmente me conquistou, por sua simplicidade, por seu humanismo, por conseguir emocionar sem ser piegas, clichê, algo que merece ser visto, apreciado. Recomendo.

NOTA: 8,5





2 comentários:

  1. João Miguel é um ator sensacional. E este é o trabalho mais maduro do Breno Silveira.

    http://planocritico.ne10.uol.com.br/

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  2. Com certeza, Rafael! João Miguel é um ótimo ator e me surpreendeu mto neste filme. E apesar d este ser o segundo filme q vejo de Breno Silveira, não tenho dúvidas d seu talento.

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