segunda-feira, 11 de julho de 2016

Crítica: Prova de Redenção (Twice Born, 2012)

Às vezes o cinema tem este poder, de nos deixar extasiados diante de tanta emoção, de nos deixar ali, impactados diante de tamanha grandeza. Mais do que uma grande surpresa, "Prova de Redenção" é um dos melhores filmes que tive o prazer de conhecer nesses últimos meses.

por Fernando Labanca

Apesar de não ter um catálogo tão imenso, ainda é possível descobrir algumas pérolas perdidas na Netflix. E foi assim que conheci "Twice Born" (traduzido como "Bem-Vindo ao Mundo" pelo site), que poderia até ser só mais um título dentre tantos se não fosse sua notável qualidade. Dirigido por Sergio Castellitto, o longa é uma adaptação do livro "A Rosa de Sarajevo" e narra a história de Gemma (Penélope Cruz), que após receber uma ligação de um antigo amigo, decide fazer uma viagem de volta à Bósnia ao lado de seu filho, local onde o pai dele foi morto durante os duros conflitos do país. Ao retornar à Sarajevo, Gemma relembra toda sua jornada neste instável território em meados da década de 90, quando viajando a trabalho conheceu o carismático fotógrafo Diego (Emile Hirsch), com quem se apaixonou profundamente e lutou, durante anos, para realizar seu grande desejo...ser mãe.


É sempre muito delicado fazer o relato de uma guerra no cinema, alguma produções conseguem criar a ambientação perfeita para nos inserir ao contexto que pretende discutir, outras não. Felizmente, "Prova de Redenção" se enquadra no primeiro grupo e acerta com êxito seus propósitos. É fácil acreditar naquele mundo, no caos que apresenta, é real, logo, tudo aquilo nos atinge. Doloroso acompanhar a jornada desses indivíduos, perambulando em um local em degradação, é ainda mais doloroso quando adentramos à época pelos olhos de seus fortes protagonistas, que travam suas próprias batalhas, que lutam, neste local quase sem esperança, por encontrar a vida. Gemma, brilhantemente defendida por Penélope Cruz, é uma mulher apaixonada, mas é também uma mulher infértil, e a partir desta sua incapacidade que nasce os grandes conflitos, que ganham, ao decorrer da obra, proporções inimagináveis. O roteiro, tão bem escrito, nos revela uma trama envolvente e extremamente poderosa, aliás, fazia muito tempo em que não via uma história tão grandiosa, que carrega uma carga dramática pesada, densa, que trabalha suas nuances perfeitamente. É doce e poético quando fala de amor, no entanto, é também, bastante cruel e profundo quando fala da guerra, quando fala dos sonhos corrompidos, das perdas, das desilusões.

Penélope Cruz entrega uma performance hipnotizante, acreditamos na sua dor, na sua luta. É sempre muito bom vê-la nesses papéis a altura de seu potencial, é quando ela brilha e nos emociona. Emile Hirsch é outro ator que nem sempre tem boas chances, mas quando ele encontra personagens como este, algo mágico acontece. Seu olhar, tão profundo e tão verdadeiro, intensifica ainda mais esta belíssima história. O diretor italiano Sergio Castellitto acerta no tom e entrega um filme especial, um filme muito fácil de gostar e bem difícil de esquecer, eu diria. Há poesia onde menos esperamos, seja na canção do Nirvana quando uma nova possibilidade surge na vida dos protagonistas, seja na voz de Sia quando a descrença toma conta de seus corpos. As canções, os diálogos, a forma delicada como são construídas cada cena, não poderia haver outra maneira de traduzir esta fantástica jornada e me sinto grato por ter tido a chance de conhecê-la.

Belo, poético e sensível, "Twice Born" acabou e eu fiquei desacreditado, refletindo por alguns longos minutos, tentando me recompor de toda a dor que senti e tentando absorver toda a beleza que acabara de ver. Do começo ao fim, um nível sempre acima, entregando ainda boas surpresas, onde seus conflitos, extremamente bem construídos, sejam sempre resolvidos de forma madura e surpreendente, chegando a um final arrebatador. Uma grande história e um filme poderoso, emocionante, memorável. Uma obra a ser encontrada.

NOTA: 10 



País de origem: Espanha, Itália
Duração: 127 minutos
Distribuidor: Paris Filmes
Diretor: Sergio Castellitto
Roteiro: Sergio Castellitto
Elenco: Penélope Cruz, Emile Hirsch, Adnan Haskovic





5 comentários:

  1. Filme maravilhoso e suas observaçoes também. Até copiei o link no meu facebook pessoal. Caso você discorde disso, me avise que deleto.

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    1. Obrigado, Waneska...que bom que gostou do texto! E quanto ao link...tranquilo! Qualquer tipo de divulgação é sempre bem-vinda :)

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  2. Boa noite. Vc acha que ele se matou por ter vivenciado tantos sofrimentos na guerra ? Inclusive quando ele atira no mar a câmera fotográfica ele visualiza na mente dele todos os rostos daquelas pessoas que sequestraram a Aska. Ele voltou a aplicar na veia LSD pra tirar toda a dor da vida. Aí te pergunto: ele depois que levou a Gemma e Pietro no aeroporto e que perdeu o passaporte..ele deixou de ama-la???

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