quinta-feira, 7 de julho de 2016

Crítica: Mais Forte Que o Mundo - A História de José Aldo (2016)

A vida do lutador de MMA José Aldo chega aos cinemas pelas mãos do diretor Afonso Poyart, que já havia realizado o excelente "2 Coelhos" e retorna para provar que o cinema nacional pode mais, pode muito mais.

por Fernando Labanca

"2 Coelhos" foi lançado em 2012 e, de certa forma, trouxe uma grande revolução na forma de conduzir uma produção nacional. Efeitos especiais de qualidade dentro de uma trama inteligente, que trazia uma junção equilibrada de ação e drama. Dito isso, não haveria diretor melhor que Afonso Poyart para retornar aqui e dar o tom épico que esta história merecia e que, felizmente, recebeu. Logo, podemos afirmar que "Mais Forte Que o Mundo" é mais um passo adiante para o cinema realizado no Brasil, que pode até ter seus pequenos erros, no entanto, é grandioso como quase nunca se viu por aqui. E isso é bom, isso é muito bom.

A trama nos mostra a vida José Aldo Júnior (José Loreto) antes dos ringues, quando vivia em Manaus ao lado de sua família. Pai alcoólatra (Jackson Antunes), o jovem nunca sabia como lidar com a situação, ainda mais quando era sua mãe (Claudia Ohana) quem sofria as piores consequências. No momento em que ela resolve fugir, José vê a chance de buscar algo novo, longe dali, longe da desgraça que era sua rotina, partindo para o Rio de Janeiro para viver em um alojamento de uma Academia, logo que acreditava em seu potencial como lutador. Era a luta que desde sempre lhe serviu como uma válvula de escape, como o momento ideal para expulsar seus demônios internos. Não demora muito até chamar a atenção do treinador Dedé (Milhem Cortaz), que passa a lhe dar um voto de confiança, iniciando, enfim, sua carreira no MMA.


"Mais Forte Que o Mundo" é um filme surpreendente. Durante suas duas horas me vi chocado ali na poltrona, logo que jamais poderia imaginar que o longa alcançaria níveis tão altos. Talvez pela pouca divulgação ou simplesmente por se tratar de um assunto do qual não tenho afinidade, não esperava algo tão impactante, tão grandioso, tão brutal. Sou um grande admirador do cinema nacional, mas confesso que não me recordo quando o nosso cinema se entregou desta forma, sem medo dos exageros, sem receio de parecer uma produção hollywoodiana, sem freios, construindo momentos épicos, tanto por seu deslumbrante visual tanto por sua extasiante narrativa. O que se vê aqui é o resultado de uma produção corajosa, de um trabalho, nitidamente, muito árduo, que se recusa a entregar uma simples tomada. que encontra em cada sequência uma chance de realizar algo marcante. Afonso Poyart merece elogios, ele traz uma movimentação constante e consegue dar vida a algo que pode, facilmente, ser comparado a produções estrangeiras. Não que isso seja uma obrigação, mas sejamos honestos, faz bem para o ego. É bonito de ver, é ágil, eletrizante e extremamente divertido, empolgante. Adicione ainda uma ótima trilha sonora, uma belíssima fotografia e uma edição eficiente. Destaque para as sequências de luta que são visualmente incríveis e muito bem filmadas. 

Claro que existe o excesso. É plano sequência, montagem picotada, slow motion e ainda uma animação inserida no meio. Durante algum tempo me perguntei se tudo isso era preciso. Talvez, realmente não fosse, no entanto, é tudo tão bem feito que acredito que este excesso só tenha a somar ao filme e ao público que quase nunca tem a oportunidade de ver um produto nacional deste tamanho. E no meio de sua grandiosidade e megalomania, Poyart não esquece do que sua obra é feita. É feita de personagens, de histórias, é feita de sensibilidade e o diretor jamais esconde seu poder de comoção, encontrando beleza em cada ato. E este seu excesso gráfico, por fim, acaba por ilustrar a conturbada mente do protagonista, sempre constante, vivendo da fúria, se alimentando de um rancor que nem mesmo ele consegue definir. O roteiro acerta ao mostrar José Aldo não por suas conquistas, por suas vitórias, a dúvida nunca é sobre como ele chegou no topo, mas sim sobre do que ele é feito. É um personagem intrigante, que briga, não apenas luta, que vê em seus adversários pessoas a serem punidas, e este seu ódio é seu elo com o passado, é aquilo que o impede de crescer. "Mais Forte Que o Mundo", é mais do que a simples história de José Aldo, é sobre as batalhas deste homem fora de um tatame, é sobre pai e filho e digo que é emocionante este embate travado pelos dois, é profundo, é doloroso e isso nos destrói, principalmente em seu belíssimo final. 

José Loreto surpreende, dá vida a um personagem difícil e mostra que pode ir muito mais além do que mocinhos de novela. Sua entrega é impactante, tanto nos combates como fora deles e sua parceria com o restante do elenco funciona, ainda mais quando o bom texto nunca esquece de seus alívios, sejam eles cômicos ou românticos, dando a atenção necessária para os coadjuvantes. Jackson Antunes interpreta um papel que não é novidade em sua carreira, mas ainda o faz de forma competente. Cleo Pires é maravilhosa sempre e é muito bom vê-la aqui, adorei sua personagem e sua química com Loreto traz alguns momentos divertidos de se assistir. Temos ainda um descartável Rafinha Bastos e os ótimos Milhem Cortaz e Claudia Ohana. 

"Mais Forte Que o Mundo" é extraordinário. Senti orgulho do cinema brasileiro enquanto o assistia e isso é sempre bom. É difícil sair ileso da sessão, indiferente, pois algo acontece ali, há muito o que sentir diante de um filme que diz e faz tantas coisas. É aquele tipo raro de uma produção que funciona do começo ao fim, que não decai, não perde ritmo, pelo contrário, sempre encontra um novo fôlego. É brilhante toda sua construção, a evolução dos personagens, as reviravoltas, as surpresas, o drama, o humor, tudo no seu lugar e tudo muito bom de ver, gostoso de assistir, que diverte, emociona. Afonso Poyart entrega um filme primoroso, difícil de ser esquecido. Visceral, brutal, é o cinema nacional em sua melhor forma. 

NOTA: 9




País de origem: Brasil
Duração: 120 minutos
Distribuidor: Paris Filmes
Diretor: Afonso Poyart
Roteiro: Afonso Poyart, Marcelo Rubens Paiva
Elenco: José Loreto, Jackson Antunes, Cléo Pires, Milhem Cortaz, Rômulo Arantes Neto, Rafinha Bastos, Cláudia Ohana, Paloma Bernardi, Felipe Titto, Thaila Ayala



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