sexta-feira, 3 de maio de 2013

Crítica: Hitchcock (Hitchcock, 2012)

Alfred Hitchcock é um dos nomes mais importantes da história do cinema, o diretor que trouxe para as telas alguns clássicos como "Os Pássaros" e "Um Corpo Que Cai", finalmente ganhou um filme para si, finalmente se tornou um personagem, o que de certa forma, ele sempre foi, aquela figura icônica tão cheia de manias e uma mente que poucos conseguiram compreender. Pelas mãos do novato Sacha Gervasi e na pele de Anthony Hopkins, Hitchcock revive e nós, como grandes cinéfilos, somos presenteados com esta inusitada trama sobre como ele acreditou em "Psicose", grande sucesso do cinema, mas que antes de ser lançado, era visto como fracasso.

por Fernando Labanca

Baseado no livro "Alfred Hitchcock e os Bastidores de Psicose" de Stephen Rebello, conhecemos como nasceu esta obra-prima do cinema. Desde as primeiras inspirações, quando o diretor se depara com um caso policial que chamou a atenção da sociedade na época, os assassinatos de Ed Glein no estado de Wisconsin e sua estranha obsessão em querer compreender as mentes doentias. Hitch vive com sua mulher, Alma Reville (Helen Mirren), que aliás, sempre o ajudou na construção de seus filmes e o fez se tornar um dos nomes mais importantes da indústria cinematográfica. Porém, pela primeira vez indo contra o que ela achava, ele decide adaptar o livro Psicose e levar a história de Norman Bates para o cinema, um projeto extremamente arriscado, com uma história que poderia chocar muita gente e o fazendo inserir num gênero que até então pouco conhecia, o terror. Conhecemos, a partir deste momento, os bastidores do filme que todos apontavam como fracasso, o fazendo até mesmo hipotecar a própria casa para pagar as despesas. Vemos a contratação do elenco, Janet Leigh (Scarlett Johansson), a bela loira que faria a famosa sequência no chuveiro, Anthony Perkins (James D'Arcy) que interpretaria Bates e Vera Miles (Jessica Biel), atriz com que Hitchcock sentia uma certa decepção. Entre curiosidades dos bastidores, vemos a construção desta obra, vemos a história de como um diretor que já havia alcançado seu auge, arriscou tudo, sua fama, sua carreira, seu nome, simplesmente por acreditar em um projeto que ninguém mais acreditava.


Definitivamente, a maior graça de "Hitchcock" é saber que hoje Psicose é visto como obra-prima, aquele que revolucionou o terror, marcou sua carreira e definiu o que seria feito depois na história do cinema. O filme nos trás aquele sorriso irônico toda vez que ouvimos um personagem dizendo que o diretor estava errado, e hoje, o tempo provou o quão certo ele estava. É interessantíssimo ver toda a devoção dele neste projeto, a obsessão dele por assassinatos e querer compreender seu protagonista, o pedido de retirada de todos os livros de Psicose das lojas, impedindo que seu público lesse a história antes do filme, a vontade que ele tinha em ver as pessoas reagindo a este filme, se envolvendo, se surpreendendo ao seu final, ao mesmo tempo em que ele temia em que todos vissem Psicose como comédia, logo que se tratava de uma trama tão bizarra e seria impossível ser levada a sério. Interessante também é seu envolvimento com o elenco de seu projeto, a estranha relação que ele mantia com suas protagonistas, o seu esforço em querer vê-las como verdadeiras divas do cinema, o que acaba chamando a atenção seu desapontamento com Vera, interpretada por Jessica Biel, onde há anos atrás ela havia recusado um papel dele, foi como se ela o tivesse traído. Aliás, alguns acreditam que matar a protagonista no começo do filme foi quase como uma vingança do diretor para as beldades que o negavam.

Enfim, toda esta loucura dos bastidores não seria possível sem um personagem tão excêntrico para comandá-lo, Hitchcock na pele de Hopkins se torna não apenas divertido, mas complexo a ponto do próprio roteiro não conseguir desvendá-lo e este é um dos méritos do filme, não querer desvendar a estranha mente do diretor, seja do homem que fala sozinho, que dorme em cama separada de sua mulher, seja do homem que vigia uma estranha pela janela todas as manhãs sem nenhuma intenção aparente. Melhor ainda é quando este mesmo roteiro não tem a intenção de ser levado a sério, de relatar de forma realista os acontecimentos da época, é bizarro, o tempo inteiro trabalha com o inusitado, o inesperado, diverte facilmente com seu humor, seu deboche. "Hitchcock" não veio para decifrar nada, muito menos diminuir a imagem icônica do diretor, é um filme sem grandes pretensões que ainda assim consegue flertar com os amantes do cinema, os admiradores de Psicose e de Alfred. É irreal, tão absurdo e fantasioso quanto qualquer filme do próprio Hitchcock.

Anthony Hopkins agrada, apesar da maquiagem pesada que pouco dá para ver suas expressões, consegue construir um personagem bem diferente do que já fez em sua carreira, não tenta ser o diretor Hitchcock, não é uma imitação, é uma grande interpretação do que ele acredita ser este personagem. Entretanto, é Helen Mirren quem rouba a cena, a veterana trás força a seus diálogos e é ela quem acaba guiando a trama. Os coadjuvantes me surpreenderam bastante, Scarlett Johansson parece realmente ser aquelas belas atrizes de antigamente, suas expressões e seu jeito de falar é a prova de seu grande talento e seu esforço em compreender aquela época, aquele contexto. Jessica Biel também surge ótima, assim como James D'Arcy, assustadoramente parecido com Anthony Perkins. Ainda vemos a sempre incrível Toni Collette e Danny Huston. Além do bom elenco, o filme ainda possui outros pontos positivos com a incrível trilha sonora de Danny Elfman, o figurino e a bela construção dos cenários que nos levam de volta ao clássico dos anos 60.


Apesar de "Hitchcock" ser o título do filme, esta obra acaba sendo muito mais de Alma Reville, sua esposa, do que do próprio diretor. Psicose é apenas o pano de fundo para as intrigas deste casal. O que vemos é muito mais do que o esforço dele em realizar aquilo que todos eram contra. Alma acreditou neste projeto como sempre acreditou no que seu marido fazia, por fim, vemos a trajetória desta mulher, que abdicou tudo para viver esta estranha vida ao lado de Hitchcock, que o inspirou, que lhe deu força, que relevava suas manias, suas neuroses, que o ajudava inclusive a realizar seus filmes, sem ter seu nome estampado nos cartazes, sem ter seu nome reconhecido. Um filme leve, descontraído, que não pretende decifrar Hitchcock, muito menos ser tão bom quanto ele, que não nega o bizarro, o forçado, que não pretender ser levado a sério, o que de certa forma, não o impede de ser admirado, é para se ver e ser lembrado, com seus ótimos e divertidos diálogos e grandes atuações de seu poderoso e esforçado elenco. Nos prende no início e nos faz esquecer um pouco da vida real até seu final, com sua trama simples que é até mesmo capaz de emocionar. Recomendo.

NOTA: 8




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