quinta-feira, 2 de julho de 2015

Crítica: Sob o Mesmo Céu (Aloha, 2015)

Finalmente consegui ir ao cinema e ver um dos filmes que mais aguardava neste ano. O motivo por esta minha espera? Como já disse algumas vezes no blog, sou um grande fã de Cameron Crowe e fiquei contando os meses, assim que soube que seu mais novo trabalho seria lançado em 2015. Por tudo isso, digo que ao final da sessão só conseguia sentir uma única coisa: decepção.

por Fernando Labanca

Aquele que assinou obras como "Quase Famosos", "Vanilla Sky" e até o subestimado "Elizabethtown", Cameron Crowe é um diretor que acompanho desde mais jovem, gosto de sua filmografia e alguns de seus filmes estão entre os meus favoritos. A leveza e originalidade com que consegue construir um feel good movie, o tornam em um profissional muito único, além de outros elementos sempre presentes que fazem de seus trabalhos bastante autorais, como uma excelente trilha sonora, personagens carismáticos e diálogos marcantes e inspiradores. E o fato dele demorar muito para lançar um filme, sempre fico no aguardo, esperançoso sobre seus próximos projetos e assim, é quase que impossível não criar uma alta expectativa a cada vez que ele ressurge.

"Sob o Mesmo Céu" teve uma campanha de marketing das boas, com direito a comerciais na TV e um excelente trailer, além de atores conhecidos estampados no poster. Aliás, que produto estrelado por Emma Stone, Bradley Cooper e Rachel McAdams poderia dar tão errado? A grande decepção vem de tudo isso, se trata de uma propaganda enganosa, que vende o que o filme não é e nem se esforça para ser. Sendo, na verdade, uma comédia sem graça, um drama que não emociona e um romance que não empolga, onde nem mesmo o brilhante elenco consegue salvar, este que é, infelizmente, o grande fracasso na carreira de Cameron Crowe, que faz seu último trabalho, "Compramos um Zoológico", até então, seu projeto menos interessante, parecer uma obra-prima.

Na trama, narrada às pressas, conhecemos Brian Gilcrest (Bradley Cooper), que após fracassar em uma missão e ver sua carreira decair, decide retornar para o Havaí, sua terra natal, onde trabalharia ao lado do bilionário e excêntrico Carson Welch (Bill Murray), supervisionando o lançamento de um satélite. Lá, ele passa a contar com a ajuda da piloto da Força Aérea Ng (Emma Stone), que tem uma personalidade totalmente oposta a sua, além disso, Brian precisa resolver alguns problemas pendentes com sua ex-namorada, Tracy (Rachel McAdams).


É a primeira vez que vejo uma comédia romântica e não consigo entender do que se trata. É estranho, mas nada na tela faz sentido. Difícil acreditar que Crowe tenha escrito isso, é assustadoramente ruim, desconexo, confuso, fora de lugar, chega a ser bizarro o fato de nada se encaixar ali. Não compreendemos a trama, como ela começou ou qual é exatamente o rumo que ela está seguindo. Não compreendemos as personagens, qual é a função delas ali, como o protagonista de Bradley Cooper, que em nenhum momento fica claro o que exatamente ele é, como quando falam sobre seus fracassos pessoais e seu caráter duvidoso, e nada disso fica claro diante de suas atitudes de bom moço e herói. Não compreendemos sua jornada, suas razões e seus sentimentos. Ou a personagem de Emma Stone que se apaixona logo na segunda cena e de repente já estamos diante de conflitos que não entendemos quando começou. Se os personagens em si já são confusos, a relação que nasce entre todos eles eleva o nível de dificuldade, chegando a um ponto, que pelo menos eu, perdi a vontade de acompanhar o raciocínio do roteiro, já que o final feliz já era óbvio desde o começo e nem isso, ele, como roteirista, decidiu arriscar. De fato, é um desperdício de ideias, de atores, de momentos. Chega a ser triste ver este elenco presente no filme, onde todos se esforçam, mas não há um texto a altura de todos eles. Digo que há, também, um desperdício de momentos, porque houve sequências em que existia, sim, muito potencial, há inúmeros instantes em que se houvesse um cuidado maior da equipe, do roteiro e da direção, sairiam cenas maravilhosas, como a sequência de "todos os sons e imagens do universo". Até mesmo a trilha sonora, geralmente tão marcante na filmografia de Crowe, surge mais contida, É um trabalho insosso, preguiçoso e que difere e muito do que ele já fez em sua carreira.

Bradley é extremamente carismático, mas não há o que fazer com um protagonista tão vazio, que parece ter muito a dizer, mas como tudo no filme, não passa de uma promessa não cumprida. Rachel McAdams sendo Rachel McAdams e Alec Baldwin, ainda que ótimo, sendo Alec Baldwin. Bill Murray, sem fazer muito, sempre se destaca, mas é um personagem perdido. Já Emma Stone, eu diria, é o grande brilho de "Aloha", é mágico o que ela faz, mesmo com todas as limitações de sua Ng. Vale citar, também, a excelente participação de John Krasinski, um dos poucos pontos positivos do longa. Acredito que o que tenha de interessante, também, é a atmosfera criada para a trama, todo o misticismo havaiano, suas crenças, criando um universo bem diferente do que estamos acostumados. Suas cores, sua calma, sua leveza, trazem um certo conforto, onde apesar de todos os erros da obra, é impossível não sentir uma paz diante de tudo o que mostra.

Muito se falou sobre as polêmicas de "Sob o Mesmo Céu". onde muitos acusaram o diretor de racista, por não inserir o povo nativo no elenco e principalmente por tentar nos convencer de que seus protagonistas "caucasianos", seriam, na verdade, havaianos. Sinceramente, a obra apresenta tantos erros que este me pareceu o menor de todos eles, ainda mais, quando o próprio roteiro resolve fazer piada de si mesmo, como a insistente explicação genética de Ng, ou como quando a câmera foca em um camisa de um nativo, que diz "Hawaiian By Birth, American By Force". Portanto, acredito que Crowe, neste quesito, sabia o que estava fazendo, tratando o tema com ironia ao seu decorrer. Para finalizar, queria muito poder escrever um texto enorme dizendo sobre o quanto a crítica especializada estava errada sobre o longa, sobre o quanto adorei, mais uma vez, algo feito pelo diretor. Mas isso não aconteceu. Me senti frustrado, decepcionado por tudo o que vi. Não sei dizer quais foram as intenções de Cameron Crowe com este filme, e se é que ele teve alguma, é triste dizer, mas falhou miseravelmente em todas elas. Um trabalho estranho, mal elaborado, que começa ruim e caminha rumo ao nada, sem direção, numa longa ladeira abaixo. 

NOTA: 5






País de origem: EUA
Duração: 105 minutos
Distribuidor: Fox Filmes
Diretor: Cameron Crowe
Roteiro: Cameron Crowe
Elenco: Bradley Cooper, Emma Stone, Rachel McAdams, Bill Murray, Alec Baldwin, John Krasinski, Danny McBride


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