quinta-feira, 30 de junho de 2016

Crítica: Amizades Improváveis (The Fundamentals of Caring, 2016)

Mais um produto original da Netflix, "Fundamentals of Caring" é uma obra genérica para ser vista em um sábado a tarde e esquecida logo depois.

por Fernando Labanca

Impossível não comprá-lo com outros dois filmes recentes, o francês "Intocáveis" e o romance "Como Eu Era Antes de Você". Em todos eles, temos o curioso encontro entre uma pessoa que sofre de alguma deficiência com aquele que é responsável por seus cuidados e ao decorrer da história, ambos acabam aprendendo e muito um com o outro. A ideia é até interessante e funcionou bem nos exemplos citados, mas deixou de ser novidade, não existe mais o elemento surpresa porque sabemos exatamente como tudo irá acontecer e justamente por isso, "Amizades Improváveis" se torna um produto totalmente descartável, pois não consegue, em momento algum, oferecer um argumento novo ou algo que justifique sua criação. E dentro do contexto que já conhecemos, esta lá o homem frustrado, Ben (Paul Rudd), que teve duras perdas ao longo de sua vida e como forma de se reerguer, se oferece como um "cuidador" e seu primeiro cliente é Trevor (Craig Roberts, de "Submarine"), portador de atrofia muscular. Cansado de ver a rotina do jovem trancafiado dentro da própria casa, Ben resolve levá-lo a uma viagem, realizando alguns de seus inusitados desejos como conhecer "o maior bovino do mundo" e "o buraco mais fundo do mundo".


Com lançamento oficial do último Festival de Sundance, o longa foi comprado pela Netflix e chegou ao seu catálogo recentemente. Este tipo de exibição é ainda uma forma inovadora e interessante de se conhecer novos filmes, no entanto, pelas divulgações, esperava algo a mais do longa. "Amizades Improváveis" segue a risca todos os passos mais convencionais das obras lançadas no Festival e por fim, representa o que há de pior entre essa nova leva de dramédias independentes. Sim, claro, assim como qualquer outro produto do gênero, é gostoso de ver, é fácil de perder um tempo e chegar até seu final, é inofensivo e como já disse, até vale um sábado a tarde. No entanto, sua trama é previsível demais, é possível calcular todos os conflitos que os personagens terão de enfrentar ao seu decorrer. Existe um esquema ali muito pautado, o tempo exato para os personagens se conhecerem, se estranharem, se tornarem amigos, brigarem porque nada deu muito certo até que fazem as pazes porque, na verdade, tudo deu certo. O embate entre Ben e Trevor nunca foge do lugar comum ou encontra uma saída nova que o cinema já não tenha criado antes. É tudo extremamente clichê, imaturo, fácil de ver mas muito difícil de acreditar. 

Os personagens vieram de um protótipo já fabricado e quando os fracos diálogos não dão conta das boas atuações, temos aqui seres vazios e pouco inspirados, que fazem piada para nada parecer triste ou pesado demais, que possuem um passado complicado mas jamais são capazes de expressar isso, que no ápice da fúria dizem frases como "não é sobre mim, é sobre você" (que sempre ficam ótimas nos trailers) e logo depois tudo é resolvido facilmente porque o filme é leve e obrigatoriamente precisa ter um final feliz. Gosto do Paul Rudd mas suas escolhas são sempre questionáveis e ele jamais alcança a profundidade que seu personagem, supostamente, pretende ter. No meio do caminho, eles encontram uma Selena Gomez que agora fala palavrões para provar que cresceu, que por sua vez, não decepciona, porém, ainda me faz pensar em diversas outras atrizes que poderiam estar em seu papel. Não contente o suficiente, a trama ainda nos apresenta uma tal de Peaches, interpretada por Megan Ferguson, que é estupidamente aleatória, que só reforça o quão sem propósito o roteiro é. O mesmo digo do pai de Trevor, que além de terem colocado um ator estranhamente muito ruim para interpretá-lo, surge para intensificar o clichê do pai sem sentimentos, que abandona e ainda tem a capacidade de oferecer dinheiro para demonstrar uma certa preocupação. Resumindo, é tudo muito pobre de ideia, onde o texto nunca sabe como aproveitar seus personagens. 

Entretanto, nem tudo está perdido em "The Fundamentals of Caring". O ator Craig Roberts é o grande destaque nesta produção e me fez questionar o porquê ele não fazer mais filmes. Carismático, ele toma o filme para si e demonstra talento tanto nas cenas mais cômicas como nas mais dramáticas. Jennifer Ehle, apesar da pequena participação, se destaca também. Como road movie, o longa tem seus bons momentos e mesmo com seu esquema previsível de colocar os protagonistas em uma jornada de aprendizagem onde um espera do outro tudo aquilo que lhes falta, é divertido, envolvente, possui ainda uma ótima soundtrack indie e belas locações. Porém, em um site onde existem tantas opções como no Netflix, o longa não se firma como algo obrigatório  ou como um drama imperdível. Não há nada nele que seja único, nada que não nos faça esquecer segundos depois de ter visto ou até o próximo feel good movie ser indicado na nossa tela.  

NOTA: 6





País de origem: EUA
Duração: 97 minutos
Distribuidor: Netflix
Diretor: Rob Burnett
Roteiro: Rob Burnett
Elenco: Paul Rudd, Craig Roberts, Selena Gomez, Jennifer Ehle, Megan Ferguson, Bobby Cannavale


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