segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Crítica: Mãe Só Há Uma (2016)

Com o grande sucesso de "Que Horas Ela Volta?" ano passado, era de se esperar que o novo longa-metragem de Anna Muylaert chegasse com altas expectativas. Trazendo discussões atuais dentro de uma premissa interessante, "Mãe Só Há Uma" é, ainda, um cinema nacional relevante mas que, infelizmente, peca em suas resoluções.

por Fernando Labanca

O filme tem como leve inspiração o famoso caso "Pedrinho", que ganhou grande espaço nos noticiários em 2002, aqui no Brasil. A história do jovem que descobre ter sido roubado na maternidade e então é encaminhado para sua nova família. Em "Mãe Só Há Uma", somos apresentados a Pierre (Naomi Nero), que certo dia é informado de que a mulher que o criou a vida inteira, na verdade, não é sua mãe. Ele fora sequestrado, assim como sua irmã mais nova, e sem ter tempo para discernir tudo isso, o adolescente é obrigado a aceitar sua nova casa, seus novos pais, que agora o chamam de Felipe. O longa, então, narra de forma quase que documental esta difícil transição, relatando este evento através dos olhos de Pierre, aquele que se vê perdido dentro do nada, fazendo parte de lugar algum.


Apesar das relações com o caso real, a obra busca seguir um caminho próprio e por fim, encontra sua identidade. O roteiro acerta em seu tom realista, onde logo nos adentramos e acreditamos na história sendo contada e sentimos a veracidade dos conflitos traçados. A trama, também, se mostra mais interessada no jovem raptado, em como ele absorve tudo aquilo, em como ele reage a tantas transformações em sua vida. Anna Muylaert faz de Pierre um retrato preciso da juventude atual brasileira, em toda sua fuga de definições, daquele que pode ser tudo e não procura rótulo para nada. É um discurso atual e relevante e acaba por trazer ainda mais densidade ao drama, como quando em sua liberdade de se expressar, o protagonista acaba travando um embate com seus novos pais, que se recusam a aceitá-lo como é, mesmo que o que mais querem é aceitá-lo como filho. Por outro lado, sua duração tão curta, pouco mais de 1 hora, impede que situações como esta sejam melhor exploradas, ficando, infelizmente, na superficialidade, não havendo mais espaço e nem tempo para serem aprofundadas.

"Mãe Só Há Uma" peca justamente neste raso aprofundamento de seus temas. É tudo tão interessante, sua premissa, seus personagens e seus conflitos que chega a ser frustrante ver ideias tão boas sendo tratadas, mesmo que de forma honesta, com tanta rapidez. É nítido o quanto havia a ser explorado, o quanto a trama ainda tinha o que dizer, seja a questão das mães que somem na trama e se tornam meras coadjuvantes, seja a questão da mídia ou como essas questões externas poderiam afetar os indivíduos envolvidos. Os próprios desentendimentos entre a família, tão bem costurados pelo roteiro, prometiam muito mais. As sequências finais são brilhantes, todos os diálogos e embates, há muita força em cena, existe um clímax que necessitava de uma continuidade, uma consequência mais drástica do que apenas os créditos finais em nossa cara. Chega a ser triste ver o filme acabando e perceber tudo o que ele deixou de dizer. Não acredito que uma obra de cinema tenha a necessidade de responder todas as perguntas, mas neste caso há tanta lacuna não preenchida que deixa de ser um simples e elegante "final aberto", passa a ser negligência, quase preguiça.

Apesar dos erros, sinto que ainda vale a pena encontrar a obra. Anna Muylaert é uma grande diretora e mesmo com a simplicidade de seu produto, tudo é muito bem realizado, ainda que seja muito aquém de seu trabalho anterior. Me admira, também, a questão do roteiro não ter caído no maniqueísmo, de não influenciar nosso olhar, de não julgar seus personagens. É difícil para os novos pais, a dor da perda, o medo de ser sincero e ofender, o medo de errar e perder novamente. No entanto, por mais difícil que seja se identificar com protagonista e sua total falta de sensibilidade, não há como saber como é perder o que ele perdeu, da forma como ele perdeu. É triste, é denso e desconfortável assistir este reencontro que nunca acontece. São dois lados e o longa acerta ao não dizer o que é certo e o que é errado. Grande acerto, também, com seu elenco. Naomi Nero é uma boa revelação e Matheus Nachtergaele domina algumas sequências, assim como Dani Nefussi, que surpreende ao interpretar as duas mães. Por fim, é um bom filme. Não tão bom quanto prometia ser pelas divulgações e longe de ser tão bom quanto poderia ter sido.

NOTA: 7




País de origem: Brasil
Duração: 82 minutos
Distribuidor: Vitrine Filmes
Diretor: Anna Muylaert
Roteiro: Anna Muylaert
Elenco: Naomi Nero, Dani Nefussi, Daniel Botelho, Matheus Nachtergaele, Luciana Paes





2 comentários:

  1. Realmente ,não há como saber como é perder o que ele perdeu, da forma como ele perdeu (: ,gostei do post !

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