terça-feira, 24 de abril de 2018

Crítica: Um Lugar Silencioso

Quando o silêncio fala muito. 

por Fernando Labanca

O terror tem passado por uma bela fase de renovação. Chamem de post horror ou chamem como preferirem, a questão é que o público sai beneficiado com isso. Há muito tempo não víamos uma sequência de filmes do gênero tão boa quanto agora. "Um Lugar Silencioso" é mais um a entrar nessa lista e é mais uma obra que você, definitivamente, precisa assistir. Este é apenas o segundo longa-metragem de John Krasinski, conhecido por interpretar Jim Halpert na série The Office (2005-2013), que surpreende ao entregar um produto de extrema qualidade, revigorante, esperto e de uma sensibilidade admirável. Ele navega com cuidado entre o susto e o drama em uma trama onde seus personagens necessitam do silêncio para sobreviver. É o tipo de história que requer, além de criatividade, uma boa dose de coragem e ousadia. Krasinski provou ter tudo isso.


Sem interesse em nos revelar como tudo aconteceu, apenas o que sabemos é que se trata de um mundo pós-apocalíptico, onde criaturas estão exterminando a população. Ao ser detectado que esses seres são cegos e atacam pelo som, a única saída de sobrevivência é o silêncio. Acompanhamos, então, uma família e como eles tentam viver diante deste novo contexto. Desta maneira, é muito interessante como tudo se desenvolve, como os personagens ganham forma e a trama evolui. Com pouquíssimos diálogos, os mistérios são revelados nos detalhes e os indivíduos ali retratados tem suas personalidades expostas através de suas atitudes silenciosas. É bonito a relação entre eles. A perda de uma pessoa querida no início, desenvolve uma certa paranoia em cada um. O luto, a culpa e um sentimento doloroso que não se pode expor, precisam estar calados mesmo quando há tanto o que dizer. 

Nesta qualidade de dizer tanto com tão pouco e de se expressar no silêncio, Krasinski consegue revelar o melhor de cada ator. Marido e mulher na vida real, a química entre ele e Emily Blunt na tela é poderosa. São dois excelentes atores. Blunt entra para aquela lista de atuações marcantes em filmes de terror. Ela é terna, sensível e carrega muita coisa em seus olhos. A presença de Millicent Simmonds, que é uma atriz muda, já por si só tem muito peso. É incrivelmente interessante o fardo que sua personagem enfrenta: estar neste mundo onde o som mata é necessário ouvir, e não poder identificar um barulho a coloca em um risco constante. É brilhante sua passagem e me emociona vê-la atuando. E emociona esta capacidade dela em dizer tudo o que diz sem o uso de palavras. Nesta ausência do que parece primordial para a construção de um filme, "Um Lugar Silencioso" acerta na trilha sonora, que muitas vezes é a voz daquela família. Composta por Marco Beltrami, ele conduz com maestria cada momento do filme. O trabalho com os sons também se destaca aqui, onde um ruído sequer já nos causa pânico. 

"Um Lugar Silencioso", porém, falha nos ciclos que acaba se prendendo. É uma repetição de fatos, onde um barulho os coloca em perigo e logo uma solução repentina (e convencional demais) surge para salvá-los. Chega um ponto que deixamos de sentir o medo quando o roteiro nos ensina, logo no início, que uma coincidência - personagens sempre chegam na hora e no lugar certo para ajudar - irá acontecer. Apesar disso, é um filme bem conduzido, que nos prende e nos deixa constantemente apreensivos. E ainda que seja uma trama que um final mais "concreto" seja impossível, gosto da saída criada, não decepciona e finaliza no mesmo nível que começou. Um terror diferenciado, inteligente e com potencial para ser um dos melhores ou até mesmo o melhor do gênero neste ano.

NOTA: 8,5

País de origem: EUA
Título original: A Quiet Place
Ano: 2018
Duração: 90 minutos
Distribuidor: Paramount Pictures
Diretor: John Krasinski
Roteiro: John Krasinski, Bryan Woods, Scott Beck
Elenco: Emily Blunt, John Krasinski, Millicent Simmonds, Noah Jupe


2 comentários:

  1. Enquanto assistia ao filme, me imaginei no lugar da personagem da Emily Blunt. E que sensação pavorosa! A cena da banheira então, é de uma coisa quase que inimaginável. Tensão pura!!! Ótimo filme!!!

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    1. Siim! A cena da banheira é realmente muito tensa! Me coloquei no lugar dos personagens o tempo todo!

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