quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Cinema ao redor do mundo

Algumas pessoas não sabem, mas cinema também existe fora dos Estados Unidos e Brasil, um cinema de qualidade que existe ao redor do mundo e que nem todos tem acesso (até porque aqui no Brasil, eles mal chegam no cinema). Resolvi, então, comentar um pouco desses filmes, que vi recentemente. Filmes de países como China, Espanha, França, México e Canadá.

por Fernando Labanca


CHINA:

2046: Os Segredos do Amor (2046, 2004)

Uma produção que conta com outros países, como Alemanha e França, o longa dirigido pelo aclamado Wong Kar-Wai, conta com um elenco de peso, como Tony Leung e as belíssimas Zhang Ziyi e Gong Li.

A história é viajada, literalmente. Um escritor (Leung) viaja a Hong Kong para escrever um livro, lá ele se hospeda num hotel barato, até que começa a se envolver amorosamente com várias mulheres, cada uma com seus defeitos e qualidades, todas de um mesmo quarto, o 2046. Enquanto isso, ele escreve uma ficção ciêntífica sobre passageiros de um trem chamado 2046, e todos vão para um mesmo destino, um lugar onde poderão reencontrar todas as memórias perdidas e que gostariam por algum motivo, resgatá-las.

Lendo a história já parece algo confuso, vendo o filme, você tem a certeza de que se trata de algo, definitivamente interessante e inovador, porém, confuso. São tantas mulheres, histórias parelelas que parece que o filme não tem rumo algum e quando ele termina, essa dúvida é esclarecida, viajou demais para chegar a lugar algum.

Já houveram críticos que o citaram como um dos filmes mais românticos de todos os tempos, entretanto, ao meu ver, "2046" nem chega a ser um romance, logo que o personagem principal de envolve com as mulheres de uma forma tão fria e sem nenhum tipo de sentimento, e quando as magoa nem ao menos sente arrependimento. Enfim, o que sobra do filme é apenas o visual, aliás estamos falando de Wong Kar-Wai, o filme surpreende pelas beas cenas, os cenários, os figurinos, mas isso não é tudo.

NOTA: 4



ESPANHA:

Azul Escuro Quase Preto (Azul Oscuro Casi Negro, 2006)

Dirigido e escrito por Daniel Sánchez Arévalo, o filme conta a história de Jorge (Quim Gutiérrez), um rapaz que trabalha como porteiro num edifício, enquanto termina seus estudos. Acredita ter sido responsável pelo derrame de seu pai e por isso, cuida dele, em estado quase vegetativo como se fosse seu filho. Para piorar, seu irmão mais velho, Antonio, homem da pior espécie, preso, acaba se apaixonando por uma jovem prisioneira, a bela Paula (Marta Etura), que por sua vez, não aguenta mais as condições precárias da cadeia feminina, além de apanhar constantemente, ela deseja ficar grávida para ter alguns benefícios, e Antonio, para vê-la feliz, decide engravidá-la (por solidariedade, é claro), até que descobre que é estéril.

Antonio está prestes a ser libertado, porém, para realizar o sonho de Paula, ele pede este último pedido a seu irmão. Jorge, inocentemente embarca nessa idéia, porém acaba se envolvendo demais com a jovem, e ela passa a ser a melhor coisa em sua realidade. Eis que uma antiga namorada retorna, e para piorar seu melhor amigo passa por novas descobertas, como por exemplo, ser homossexual.

Loucura total. "Azul Escuro Quase Preto" viaja legal nas idéias e isso é que faz deste filme algo grandioso. O Título estranho, a princípio, remete a cor do terno que Jorge sempre vê numa vitrine, a roupa de alguém muito importante, coisa que ele acredita que nunca irá ser. E como ele, todos os personagens se veem em um obstáculo, presos em suas próprias realidade, e que nas horas mostradas terão que enfrentar alguns medos e inseguranças.

O problema é o humor que muitas vezes entra em hora indevida, numa cena que se levada a sério seria incrível, perde o encanto por ter uma piadinha, além de algumas atitudes incompreensíveis como a de uma mulher que age naturalmente mesmo descobrindo que tanto seu marido e seu filho são gays...fala sério! Mas no geral, o longa se sai bem, personagens interessantes e muito bem interpretados, histórias envolventes e muito bem guiadas pelo diretor, recomendo!

NOTA: 7



FRANÇA:

Caché (Caché, 2005)

Dirigido por Michael Haneke, de "A professora de Piano" e "Violência Gratuita", o filme considerado por muitos um dos melhores da década, conta a história de uma família amedrontada por um "espião".

Georges (Daniel Auteuil) e Anne (Juliette Binoche) começam a receber fitas de vídeo que mostram uma gravação da fachada da própria casa, como se alguém do lado de fora, ficasse o dia inteiro os observando o mostrando o que via, além disso, lhes enviava desenhos, aparentemente feitas por uma criança, mostrando um garoto vomitando sangue e uma galinha estrangulada.

Até que Georges recebe uma gravação da casa onde passou a infância, é quando começa a duvidar se aquele que está destruindo a paz de sua família nada mais é que seu irmão adotivo, que foi retirado de sua casa devido a mentiras contadas por Georges. E ele começa a temer e refletir se isso é uma vingança, de alguém tentando destruir aquilo que nunca teve devido a seu próprio irmão, uma família.

Interessante, uma história ótima e uma direção impecável. Porém, "Caché" começa muito bem, nos prende facilmente na situação mostrada e acabamos superestimando o longa logo de início, nos faz acreditar que vai ter um grande final, daqueles bem surpreendentes, mas não passa de um engano. Logo na metade do filme, os mistérios são revelados, a partir de então, é só enrolação para o final, sem mais surpresas, e quando acaba sentimos que faltou algo, uma história como essa merecia um final muito mais decente.

NOTA: 6



Entre os Muros da Escola (Entre Les Murs, 2008)

O vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2008, "Entre os Muros da Escola" mostra um lado da França pouco conhecida pelo público brasileiro, a periferia, mas precisamente numa escola, onde ocorre todo o filme.

Um professor, interpretado por François Bégaudeuau, ator não-profissional, que havia escrito um livro sobre suas experiências como professor. Aqui ele também é François, um professor iniciando mais um ano letivo, e durante o filme, acompanhamos um ano na vida dele dentro de uma sala com seus alunos, e conhecemos de perto os conflitos que ele enfrenta a cada dia, tentando passar conhecimento para jovens que não sabem nem o porquê de estarem ali. Ainda existem os conflitos entre os próprios alunos e dos alunos para com o professor, logo que muitos levam esta relação para o lado pessoal.

Claustrofóbico. Um filme inteiro dentro de uma sala de aula, dentre esses muros que o título anuncia, que aliás, muros que existem até de forma, digamos, invisível, nesta relação professor/aluno, e quando esses "muros" caem, é quando surgem os choques de civilização.

"Entre os Muros da Escola" é bastante realista, até porque é feito por não-atores, François um professor de verdade e os jovens mostrados, alunos na vida real, somentes eles entenderiam o que se passa de verdade, naquele universo tão único e isolado. Parece que entramos na sala de aula e durante o filme fazemos parte daquela turma enfrentando os mesmos dilemas, surreal.

Definitivamente, o melhor retrato já feito sobre a escola, sobre tudo o que faz parte desta instituição. Palmas para o diretor Laurent Cantet e para todos os envolvidos. Brilhante, merecedor dos elogios que recebeu.

NOTA: 9




Piaf - Um Hino ao Amor (La Môme, 2007)

O longa, dirigido por Olivier Dahan, conta a trajetória de uma das cantoras francesas mais respeitadas, Edith Piaf, interpretada por Marion Cotillard, vencedora do Oscar 2008 por Melhor Atriz.

Piaf, uma mulher independente e muitas vezes arrogante, com uma voz inconfundível e admirada por muitos. Mas por trás desta fama existe uma história, fatos do passado que definiram quem ela se tornou. De uma infância sofrida, acompanhava a mãe cantar nas ruas, eis que seu pai ausente aparece e decide mudar o rumo da garota, sem condições de ficar com ela, lhe entrega para a avó da menina, sua mãe. Ela, uma dona de um bordel, Edith cresce no meio de um ambiente sujo, mas acaba se envolvendo com as prostitutas que se tornam suas amigas, mas logo é retirada por seu pai, mais uma vez que decide colocá-la nas ruas novamente para poder lucrar, é quando conhece o talento da menina em cantar e descobre um novo modo de gerar dinheiro.

Até que ela é descoberta por um dono de uma boate famosa, e Edith passa a fazer pequenos shows, sem muita experiências no palco e com uma voz marcante, ganha destaque, e sua vida começa a seguir outros rumos, mas o sofrimento, as perdas, as angústias, a acompanharam até sua morte, além delas, lhe sobrou o amor, amor pelas pessoas, pela sua profissão, era intensa ao extremo, quando amava, amava profundamente.

Uma trajetória de vida única, daquelas que deveria sim virar filme, não há roteirista que conseguisse criar uma vida como essa. "Piaf" consegue em pouco mais de 2 horas contar detalhadamente essa jornada, alternando entre seu presente e seu passado, aos poucos vamos entendo os porquês, e esse é um dos pontos positivos do filme, que opta por não contar sua vida numa ordem cronológica correta, o transformando em algo hipnotizador e original.

Uma trilha sonora empolgante, figurinos belíssimos, cenários caprichosos, enfim, acertarem em tudo. Destaque para a maquiagem que faz com que Marion Cottilard convença tanto como uma adolescente de 16 anos a uma idosa.

Marion Cotillard. É difícil e arriscado dizer isso, mas digo com toda a certeza, a melhor performance feminina dos últimos tempos. Sua encarnação em Edith Piaf é de arrepiar, inacreditável, sua voz, seu jeito de andar, seu olhar, tudo muda, Cottilard renasce na pele da cantora, alcança a perfeição e vai além. Maravilhosa, magnífica, de ficar sem palavras ao vê-la em cena.

NOTA: 8,5



MÉXICO:

E Sua Mãe Também (Y Tu Mama También, 2001)

Dirigido por Alfonso Cuarón, de "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban" e do ótimo "Filhos da Esperança", ainda no cinema mexicano, o diretor e também roteirista realizou "E Sua Mãe Também" que conta com Gael García Bernal, Diego Luna e Maribel Verdú no elenco.

No filme, após suas namoradas viajarem a estudos, dois amigos, Tenoch (Luna) e Julio (Bernal), se juntam para curtir a vida, até que conhecem, em uma festa de família, a namorada de um primo de Tenoch, 11 anos mais velha que eles, a bela e independente Luisa (Verdú), numa brincadeira, eles comentam com ela que vão fazer um tuor em busca de uma ilha paradisíaca chamada "Boca do Céu". O que eles não imaginavam é que não muito tempo depois do encontro, ela é traída por seu namorado e decide fazer uma viagem, esquecer dos problemas, fugir de sua realidade e entra em contato com os adolescentes, pois sabiam que eles poderiam proporcionar isso a ela.

Julio e Tenoch, então, controlado por seus hormônios, forjam essa viagem para tê-la como acompanhante. Os três embarcam num caminho desconhecido, onde eles fazem as próprias leis, até que Luisa resolve tomar o controle do jogo e juntos entram num conflituoso e sensual relacionamento, de sexo, bebidas e novas descobertas.

Até a metade do filme, ele se resume a cena de sexos sem compromissos, chegando a incomodar, logo que se torna facilmente algo vazio, sem propósito, nada além de querer mostrar os corpos dos atores principais. Da metade para o final, ele começa a seguir um novo rumo, surgem os conflitos e se torna, algo, digamos, decente.

"E Sua Mãe Também" pode incomodar muitas pessoas, principalmente pelo papel da mulher exposto, onde ela nada mais é que um objeto, pronta para servir os homens da meneira como eles desejam, chegando a ser patético, preconceituoso e porque não, machista. Apesar de ter um final até que interessante, não chega a salvar o resto que foi um grande desperdício.

NOTA: 4



CANADÁ:

C.R.A.Z.Y - Loucos de Amor (C.R.A.Z.Y, 2005)

Resolvi deixar o melhor para o final. Primeiro e até então único filme canadense que vi e me surpreendi. Dirigido por Jean-Marc Vallée, o longa conta sobre uma família no lado "francês" do Canadá, o Quebec.

Uma espécie de Paixão de Cristo comtemporânea, o filme nos mostra a trejetória de Zachary (Marc-André Grordin), desde seu nascimento até alcançar sua maturidade num aventura mística a Jerusalém. Zachary, o quarto filho, os outros Christian, Raymond, Antoine e o último Yvan: C.R.A.ZY. O nome do disco predileto do pai.

Nasceu no Natal, devido a isso, ganhava apenas um presente e uma festa, o de aniversário e o de Natal, seu aniversário praticamente nem existia, assim como sua pesssoa. Se sentia menos importante que os demais, eis que de uma mecha misteriosa no cabelo, a mãe coloca na cabeça que o filho é milagroso e pode curar as pessoas, devido a isso vai estudar num colégio para cristãos.

Na adolescência, vira ateu. Conhece o rock n' roll e as drogas, se recusa a ser como todos ao seu redor, mas ainda ama seus pais, e o que mais o aflinge é o distanciamento com o pai, que tanto ama. Até que numa festa, conhece o namorado de sua prima, é quando descobre ser homossexual e começa a ter um desejo quase obsessivo pelo rapaz. Tem conflitos fortes com seu irmão Raymond por suas opções de vida, e devido a seu comportamento forte, acaba destruindo a harmonia da família que aos poucos vai se desistruturando. Entretanto, por medo de magoar seus pais, ele se recusa a ser quem ele realmente quer ser, admitir o que ele realmente deseja ter.

Uma história de amor, não entre um homem e uma mulher, mas entre uma família, que enfrenta os conflitos, as mágoas e tentam se manterem unidos. A história de um jovem que traça uma jornada em busca de ser aceito pelo pai, e poder sentir o retorno desse amor que sente por ele, um jovem que por amor, viveu uma mentira.

Incrível, inteligente, encantador, original ao extremo. Um drama muito bem desenvolvido, 2 horas muito bem preenchidas, com história interessantes, personagens bem escritos e conflitos empolgantes o suficiente para prender o público do início ao fim. Além de uma parte técnica muito bem produzida, como a trilha sonora bem utilizada, como a memorável cena de uma missa ao som de Rolling Stones e o clássico "Sympathy for the Devil", além de várias músicas de boa qulidade que traduzem muito bem a época, os anos 80.

"C..R.A.Z.Y" acima de tudo é poético e merece ser visto e admirado.

NOTA: 10

2 comentários:

  1. Nossa..seu post é a ONU do cinema...ahsuahuhaushua...mtu legal, mtu legal mesmo...uma pena que eu não tenha visto nenhum desses filmes...=(

    Parabéns pelo texto

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  2. hehe...a ONU do cinema foi boa...

    Valeu pelo comentário!!!
    e qndo puder, os assita...
    ateh os mais fracos valem a pena!!!

    Até

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