quinta-feira, 23 de março de 2017

Crítica: Quase 18 (The Edge of Seventeen, 2016)

Filmes com adolescentes e para adolescentes sempre são encarados com um certo preconceito por parte do público que acredita que não há inteligência neste subgênero. "The Edge of Seventeen" vem com um roteiro incrível para provar que ainda há espaço para um cinema teen de qualidade.

por Fernando Labanca

Ano passado, quando a obra foi lançada em alguns festivais começou um certo burburinho, além das premiações que começou a receber, na maior parte delas entregues à diretora debutante Kelly Fremon Craig. Foi então que comecei a me questionar sobre o que haveria de tão bom em um filme teen que parece debater os mesmos assuntos de sempre. Que delícia então me deparar com "The Edge of Seventeen" e me surpreender por sua alta qualidade, me surpreender pelos temas que aborda e pela maturidade com que soluciona seus tantos conflitos. Não é sempre que o cinema nos presenteia com obras como esta, com todo o frescor de um produto jovem e que em nenhum momento subestima nossa inteligência.


"Quase 18" nos mostra que a adolescência pode não ser uma fase fácil para todo mundo. E crescer não tem sido nada fácil para Nadine (Hailee Steinfeld), no auge de seus dezessete anos. Por ter perdido seu pai ainda criança, ela não encontra em sua casa um lugar seguro, pois é onde vive sua mãe (Kyra Sedgwick) com quem nunca lidou bem e seu irmão mais velho, Darian (Blake Jenner), que parece possuir todas as qualidades que nunca teve. Entre tantas complicações que precisa enfrentar em sua solitária e incompreensiva rotina, tudo piora quando sua única melhor amiga (Haley Lu Richardson) passa a sair com Darian, o que a faz perder completamente a estabilidade e ficando ainda mais deslocada do que já era.  



"Você sabe, desde que nós éramos pequenos 
eu tinha a sensação de estar flutuando fora do meu corpo, 
olhando para mim...E eu odeio o que eu vejo. Como estou 
agindo, o jeito que eu falo. E eu não sei como mudar. 
Estou com tanto medo de que essa sensação nunca vá embora."



Sempre pareceu óbvio falar sobre a adolescência no cinema e durante anos uma série de estereótipos surgiu para defini-los. É bom quando surgem filmes como este, que sem muito compromisso e sem a intenção de criar algo inovador, se desprende de todos os clichês possíveis e consegue, sem grande esforço, desenvolver uma trama interessante, simples e longe da obviedade. "The Edge of Seventeen" entende o que é ser jovem e entrega seriedade a isso, entrega honestidade a todos os dramas que eles enfrentam, sem jamais menosprezar o que sentem, sem jamais diminuir a dor de quem tem essa idade. Nadine é uma personagem incrível e vem para representar a vida de tanta gente, vem para ser a voz de grande parte da geração. É fácil se identificar com ela, com a forma estúpida com que tenta resolver seus problemas e como ela falha miseravelmente todos os dias. É fácil olhar para ela e saber o que ela sente. Já estivemos ali, muitas e muitas vezes. Aquele medo de ter que interagir com desconhecidos e aquele sentimento de fracasso quando não conseguimos. Aquela constante sensação de não fazermos parte de nenhum grupo e aquela sensação de não gostarmos de nada do que vemos em nós mesmos. Nadine pode até ser um reflexo triste de nós, mas como consequência, nos traz um sentimento bom de "não estamos sozinhos no mundo, tem mais gente que pensa como nós!".

O roteiro acerta não só no desenvolvimento da protagonista mas em todo o universo ao redor dela. Todas as situações que enfrenta e a forma como ela enfrenta é de uma honestidade admirável. E apesar de possuir um tom cômico, não ignora a dramaticidade de alguns eventos  - como a cruel e, infelizmente, muito real - cena do carro, conseguindo emocionar em diversas passagens, principalmente em sua reta final. Todos os personagens aqui funcionam e este é mais um trunfo de seu belíssimo texto. É bem interessante a relação que Nadine vai construindo com cada um ao decorrer do filme, seja com sua melhor amiga, o irmão mais velho, o professor confidente, o amigo que fica na "friend zone" ou crush inalcançável. Todos acabam, em algum momento, dizendo muito sobre ela ou sobre como ela precisa lidar com todos os seus conflitos e dilemas. Essas conexões fluem bem durante a trama, não só pelos ótimos diálogos mas principalmente pelo bom elenco que reuniram aqui. Outro grande destaque da produção é sua empolgante trilha musical, que ao trazer nomes como Santigold, Cage The Elephant, Billy Joel e Pixies, acaba fazendo uma mistura cool entre o indie e oitentista.

Comecei a assistir para passar uma tarde de sábado com algo leve e descompromissado. De tempos em tempos gosto de descobrir obras assim. No entanto, ao seu fim, estava em lágrimas. Tanto por um comovente monólogo da protagonista, quanto por tudo o que a obra diz. Gostei e não foi pouco. Me identifiquei e acredito que muitos poderão se identificar também. Senti na pele e quis abraçar este filme por diversos momentos. É apaixonante, cativante, surpreendentemente maduro e inteligente. Termino falando de Hailee Steinfeld, indicada ao Globo de Ouro por este trabalho, e como ela não poderia ter sido mais incrível como Nadine. Foi lindo sua performance e prova aqui, mais uma vez, ser uma das melhores atrizes de sua geração. Ela diverte e emociona com tamanha facilidade, entende as oscilações de sua personagem e entrega verdade a todas as situações que enfrenta. Definitivamente, "The Edge of Seventeen" é muito maior do que parece. Fantástico!

NOTA: 9

 


País de origem: EUA
Duração: 104 minutos
Distribuidor: Sony Pictures
Diretor: Kelly Fremon Craig
Roteiro: Kelly Fremon Craig
Elenco: Hailee Steinfeld, Blake Jenner, Hayden Szeto, Woody Harrelson, Haley Lu Richardson, Kyra Sedgwick, 



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