
por Fernando Labanca
Apesar da gafe histórica da cerimônia do Oscar e todas as polêmicas ao redor de sua premiação, "Moonlight" mereceu o tão almejado troféu de Melhor Filme e tal acontecimento é extremamente relevante em nosso tempo. É lindo ver uma obra composta por atores negros e que aborda temas como preconceito e homossexualidade sendo celebrada. Mais do que representatividade, é um espaço que se abre para tantas discussões necessárias. O diretor Barry Jenkins conduz tudo de forma fascinante e ao assinar o roteiro - também premiado com o Oscar - encontra saídas inovadoras para traduzir sentimentos tão delicados e por muitas vezes indecifráveis, além de realizar um belo e profundo estudo de personagem. Dividido em três capítulos - Little, Chiron e Black - vemos na tela a construção de um indivíduo e todo o processo de aceitação que precisa enfrentar. A árdua jornada de alguém que busca descobrir quem é mesmo vivendo em um mundo que o rejeita constantemente. Mesmo vivendo de desejos que ele mesmo renega. Vivendo e sentindo a culpa de algo que não entende.
Em cada um de seus capítulos, vemos três fases distintas na vida de Chiron. Quando pequeno, enquanto fugia de colegas que o humilhavam, acaba conhecendo Juan (Mahershala Ali), homem mais velho, que acaba sendo uma espécie de mentor em sua jornada. Anos mais tarde, os questionamentos sobre o porquê é tão rejeitado e tão distante de todo mundo se tornam mais presentes, assim como a violência daqueles que não o aceitam. Em todos os momentos, ainda precisa lidar com a ausência e brutalidade de sua mãe drogada (Naomie Harris).

"Chega uma hora em que precisa decidir quem vai ser.
Não pode deixar ninguém decidir isso por você."
"Moonlight" é uma obra com intenções ambiciosas. É extremamente conflituoso e provocante toda a jornada do protagonista e o fato dele ser homossexual e estar inserido em um meio que parece barrar qualquer tipo de manifestação que vá contra a toda uma conduta já muito bem estabelecida. Entretanto, sinto que falta argumentos para tamanha ambição, onde a direção caprichada e as fortes atuações parecem preencher o vazio deixado pelo texto, que muitas vezes não está a altura do que pretende ser. Assim que todos os capítulos terminam, deixam uma sensação de que algo faltou, de que algo não está completo. Sobra repetição de eventos e falta um desenvolvimento melhor de muitas coisas. Esta divisão, ao mesmo tempo em que é uma opção narrativa interessante pelo estudo criado sobre o protagonista, enfraquece o universo além dele, como os personagens secundários que são ofuscados e não ganham a atenção que mereciam. A relação de Chiron e Juan tem a pretensão de ser muito forte e significativa ali dentro, mas não há sequer um grande momento entre os dois, da mesma forma que a relação entre o garoto e a mãe não cresce como prometia. Na parte final é quando sua fragilidade fica mais evidente. Com muito menos força que ou primeiros capítulos, o filme se encerra sem grandes impactos, morno, bem distante das expectativas que criou ao seu decorrer. Os diálogos também não são dos melhores, onde muitas sequências soam irreais tamanha falta de inspiração ali. Era uma trama e uma ideia que merecia um tratamento no texto muito mais eficaz. Existem lá suas belas frases de efeito, mas falta e por isso, não vejo a premiação de seu roteiro muito justa.


NOTA: 8
País de origem: EUA
Duração: 111 minutos
Distribuidor: Diamond Films
Diretor: Barry Jenkins
Roteiro: Barry Jenkins
Elenco: Naomi Harris, Mahershala Ali, Trevante Rhodes, Alex Hibbert, Ashton Sanders, Janelle Monáe, André Holland
Esperava mais. Comparando com os outros concorrentes de melhor filme, pra mim fica em terceiro.
ResponderExcluirEu gostei, mas assim como você, eu esperava mais também. Na lista dos indicados, não era meu favorito.
ExcluirVocê acha esse filme melhor que LA LA LAND? E outra coisa (que me deixou ainda mais indignado): Como Mahershala Ali ganha oscar de Melhor Ator Coadjuvante atuando somente 20min de filme? Achei uma das maiores injustiçãs que presenciei esses oscars de Melhor Filme e Melhor Ator Coadjuvante (com Jeff Bridges na parada). Quero MUITO ouvir sua opinião sobre isso.
ResponderExcluirOlha, Leonardo...eu precisei rever os dois filmes para conseguir chegar uma conclusão. São duas obras completamente diferentes e acho que as duas mereciam o prêmio. Porém, confesso...acho La La Land ainda maior, eu teria dado o prêmio a ele. Também não me convence esse prêmio de Coadjuvante...gosto muito do ator, mas os concorrentes se destacaram bem mais que ele.
ExcluirLegal, fico mais aliviado com sua "concordância" UHAUAHUAHUAH.
ExcluirAcompanho o Blog ja faz um BOM TEMPO, gosto do jeito que você resenha. Uma vez olhei seu Perfil e reparei nos seus filmes preferidos. Gosto de Vários deles. Não tem aqui critica sobre todos eles. Poderia fazer, seria legal ler.
Alias, existe algum lugar onde se recomenda filmes para critica por aqui? Grato. Até mais.
Poxa, Leonardo...que legal ler isso! Fico feliz! Que bom que curte o blog e acompanha! Então, não tem nenhum campo aqui para recomendar, mas pode deixar nos comentários mesmo, ou se preferir, entrar em contato por email ou filmow...eu respondo!
ExcluirTomei o cuidado de procurar no acervo do Blog e não encontrei, trata-se de um filme que gosto muito e não é dos mais conhecidos, se chama: CAFÉ DE FLORE (2011), é escrito e dirigido pelo ótimo Jean-Marc Vallée. Queria que visse, caso ainda não tenha visto, ou, se ja viu, gostaria de saber sua opinião sobre.
ExcluirOlha só! Esse eu nunca vi, mas só de ser do Jean-Marc Vallée já quero ver...sou muito fã do trabalho dele! Já adicionei aqui na lista, valeu pela dica!
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