quinta-feira, 16 de março de 2017

Crítica: É Apenas o Fim do Mundo (Juste la Fin du Monde, 2016)

Apesar de não ter sido bem recebido pelos críticos de Cannes - Festival onde foi exibido ano passado - o longa saiu vitorioso com o Grande Prêmio do Júri. "É Apenas o Fim do Mundo" marca o retorno do jovem diretor Xavier Dolan e se destaca pelo belíssimo elenco que conseguiu reunir em seu tão controverso drama familiar. 

por Fernando Labanca

Baseado na peça de teatro de Jean-Luc Lagarce, o filme nos revela a conturbada relação de uma família disfuncional que precisa lidar com o retorno de um dos filhos. Louis (Gaspard Ulliel) é um escritor que depois de doze anos afastado resolveu voltar e reencontrar sua mãe (Nathalie Baye) e seus irmãos (vividos por Vincent Cassel e Léa Seydoux) para dizer que sofre de uma doença e está prestes a morrer. O retorno não é nada fácil e no meio a tanta brutalidade e palavras não ditas, Louis se vê cada vez mais distante de realizar o que pretendia.


"É Apenas o Fim do Mundo" mostra que dizer adeus é difícil, mas que o retorno pode ser bem complicado também. Retornar requer tanto ou até mais coragem do que partir. Geralmente nos filmes quando o filho pródigo regressa, há um lar que o espera e boas lembranças que até o fazem questionar os motivos pelo qual decidiu ir embora. Aqui não há este tipo de redenção e nem abraços que o acolhem. É um retorno conturbado, cheio de discussões acaloradas e revelações nada agradáveis. É interessante essas relações entre os membros da família, em como cada um reage à volta de Louis e como se mostram tão valentes e confiantes dentro de uma briga durante um almoço ao mesmo tempo em que não possuem a coragem de dizer o que realmente sentem. Há palavras ditas em alto e bom som, no entanto, nunca há sentimento, nunca há honestidade. O roteiro, logo, não cansa em criar situações de extremo desconforto, onde olhamos para aqueles seres, tão distantes de onde gostariam de estar, sufocados em tanto silêncio, em tantas verdades não ditas. Desta forma a obra caminha e nunca, de fato, sabemos a doença do protagonista ou o que ele sente dentro de si. É estranho, claustrofóbico e desconfortável. Família não deveria representar isso, mas às vezes acontece de ser assim. Por isso dá um pequeno nó na garganta quando a mãe o abraça e promete que no próximo reencontro ela se prepararia melhor. Talvez nunca seja melhor e talvez eles nunca tenham uma segunda chance.


O jovem diretor canadense Xavier Dolan ainda é digno de atenção. É jovem e ainda muito promissor. No entanto, não há como não sentir que o filme marca um lamentável passo atrás em sua carreira que vinha em uma notável crescente. Se em seu último projeto, "Mommy" de 2014, ele havia conquistado seu auge, aqui ele erra a mão. Há uma necessidade muito grande em se provar autoral, em revelar sua forte identidade como artista e isso acaba prejudicando sua obra. Deixa de ser bela e passa a ser prepotente, pretensiosa. Seus cortes, seus closes e seus tantos maneirismos incomodam e não somam à narrativa. Tudo soa grandioso, quase épico, no entanto, não há um material bom que sustente suas altas ambições, deixando um gosto amargo de frustração grande parte do filme. O elenco estelar nos confunde ainda mais, até porque há de existir uma razão pelo qual o diretor conseguiu reunir tantos nomes incríveis do cinema atual em um só filme...mas não há. Fiquei me perguntando o tempo inteiro quando seria o instante em que Marion Cotillard faria uma grande cena e infelizmente isso nunca acontece, o que não justifica sua escalação. Ninguém contrata Cotillard para não fazer nada. Do restante, todos ótimos, principalmente Léa Seydoux que consegue expressar muita coisa com um único olhar. 

"É Apenas o Fim do Mundo" é um filme histérico, verborrágico e exageradamente bruto. O excesso de gritaria em suas cenas não tornam as discussões entre a família mais interessantes, pelo contrário, cansam e tornam seus personagens em seres incompreensíveis, superficiais e não dignos de nossa atenção. Ainda há seus bons momentos e alguns diálogos doces que somam na trama, mas são raros. A fotografia é belíssima e seus tons escuros dialogam bem com a atmosfera existente dentro da casa. A trilha musical sempre presente e sempre inusitada na filmografia de Dolan tornam as sequências mais agradáveis e um pouco mais digeríveis. Por fim, vale pelo elenco e por conhecer mais do diretor, ainda que este esteja bem longe de ser um bom momento em sua carreira. Apesar dos erros, é uma obra bem intencionada, que fala sobre o tempo e como ele pode ser bem injusto. Como é injusto o curto tempo que temos e como é injusto, neste curto tempo que temos, o tempo que damos àqueles que dariam tudo por nós. 

NOTA: 6,5 



País de origem: Canadá, França
Duração: 97 minutos
Distribuidor: California Filmes
Diretor: Xavier Dolan
Roteiro: Xavier Dolan
Elenco: Gaspard Ulliel, Léa Seydoux, Nathalie Baye, Vincent Cassel, Marion Cotillard






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