quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Crítica: Contra o Tempo (Source Code, 2011)

Ano passado, chegou, diretamente nas locadoras aqui no Brasil (até hoje não entendi o porquê) uma, digamos, obra prima da ficção ciêntífica mas que pouco se teve notícias, "Lunar", com a grande atuação de Sam Rockwell e a revelação por trás das câmeras do filho de David Bowie, Duncan Jones, como diretor. Este ano, ele lança seu segundo filme, "Contra o Tempo", com Jake Gyllenhaal como protagonista, muito mais próximo de ser um blockbuster do que sua primeira obra, Jones ainda tenta, por mais difiícil que seja no cinemão de Hollywood, levar um pouco de inteligência, item bastante em desuso nos filmes do mesmo gênero. 

por Fernando Labanca

No filme, conhecemos o Capitão Colter Stevens (Gyllenhaal) que faz parte de um projeto ultra-secreto do governo norte-americano, o "Source Code", onde ele é a peça chave para tudo, somente ele trará as revelações que evitariam um atentado terrorista. Um ataque acontece perto de Chicago em um trem e todos os passageiros morrem e o autor do crime anuncia um próximo ataque dentro de seis horas, a função de Stevens é entrar no corpo de uma das vítimas, e graçás a esse programa, ele é capaz de tomar sua identidade e em apenas oito minutos viver como se estivesse naquele trem, e assim, descobrir quem cometeu tal atentado.

Colter, só conseguiria sair dessa "vida em 8 minutos" após concluir sua missão, mas ele se torna um problema para as autoridades quando começa a questionar sua função, tudo piora, quando conhece uma das passageiras, Christina (Michelle Monaghan) e se apaixona por ela. E a cada vez que retorna para este mundo, todas as ações se repetem mas de formas diferentes, é então, que ele passa a refletir se sua missão pudesse ir além do que apenas descobrir o autor do crime, e se ele fosse capaz de salvar a vida daquelas pessoas? E se aquilo fosse realmente uma realidade paralela que pudesse ter um novo fim?


A trama é simples, uma ação acontece no começo do filme e o que vemos até seu término é uma repetição de uma mesma sequência, com ações alteradas. E é exatamente nesse ponto que o roteiro, assinado por Ben Ripley, acerta, logo que mesmo se tratando de uma "mesma cena" o filme não cansa, não sentimos a repetição, muito pelo contrário, as mudanças feitas a cada novo acordar de Colter Stevens nos envolve, foi realmente complicado conseguir prender o público numa trama centrada no mesmo cenário, mas o roteiro e a direção eficiente de Duncan Jones salvam o projeto, longe de ser um fiasco, o que poderia muito bem ser nas mãos de profissionais errados. O milagre do roteiro também consegue nos aproximar das personagens, nos sentimos na pele do Capitão, sentimos a aflição que aparentemente o capitão sentia, além de nos convencer na relação que ele mantém por 8 minutos com Christina, logo que a cada vez que acordava, era como se retornasse no tempo onde somente a sua memória era intacta. 

Sem grandes efeitos especiais, essa é a ficção ciêntífica de Duncan Jones, mais uma vez nos servindo uma obra de qualidade, que não apela pelo visual, mas sim pelo seu bom conteúdo. Consegue algumas vezes ser complexo, por parecer ser uma viagem no tempo, mas não é, o que também não se trata de uma criação de uma realidade paralela, era uma viagem na memória de alguém que morreu, onde todos os acontecimentos são frutos das lembranças de uma vítima e toda aquela cena teria apenas oito minutos de vida. Entretanto, é neste mesmo momento em que o roteiro mostra sua falha, onde nos entrega um final que foge completamente de sua premissa inicial, um final bonito, que de certa forma emociona. Sim, Dunca Jones nos entrega um "final feliz", não achei ruim, até gostei das ideias mostradas, mas não há coerência com o que nos fora explicado, em outras palavras, é belo, mas foge da lógica. Por outro lado, é compreensivel esse final que "o público gosta de ver", logo que Jones não teve chances com seu complexo "Lunar", teria que vender seu produto, esse foi o sacrifício, servir a Hollywood, isso explica também o fato do filme ser tão bem explicadinho, sem lacunas para o público preencher. Porém, ainda vejo sua obra como algo que caminha paralelo ao que o cinema blockbuster hollywoodiano produz, no que diz respeito a filmes de fição ciêntífica e ação. Há inteligência e por isso, vale a pena ver. 

As atuações estão corretas, Jake Gyllenhaal agrada como protagonista, assim como Michelle Monaghan, carismática, e mesmo que sua personagem tenha poucos minutos de vida, consegue convencer. Ainda temos Jeffrey Wright como o ciêntísta criador do Source Code, mas infelizmente cria uma personagem extremamente caricata. Destaque para Vera Farmiga, que é quem conversa com Colter Stevens sobre sua missão, bela em cena e que surpreende pela delicada atuação e pela personagem muito bem escrita que vai além do óbvio. Boas cenas, algumas sequências de tirar o fôlego, boas perseguições, algumas sequências belas como aquela onde o tempo para e todos os passageiros ficam estáticos, simples, mas uma das melhores do longa. Ótimas idéias vindas de um ótimo roteiro, um alívio para quem curte filmes de ação mas ainda assim procura uma obra que exige um pouco mais do cérebro. Recomendo.

NOTA: 8,5




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