Escolhido a representar o Brasil no Oscar, "Bingo" é apenas o primeiro longa-metragem de Daniel Rezende, mais conhecido pela premiada montagem de "Cidade de Deus" (2002). Se trata de mais uma super produção nacional que entretém com êxito seu público e espanta pela qualidade técnica.
por Fernando Labanca
por Fernando Labanca
A campanha de marketing foi boa e logo pelos trailers já nos deixava com uma sensação positiva sobre a obra. A ótima notícia é que "Bingo" é ainda melhor do que vendeu. Supera a expectativa que já estava alta. Um filme divertido, empolgante, que se mantém em bom ritmo e entrega um final brilhante para uma trama que tem tanto a dizer, tanto a oferecer. Poucas vezes, nos últimos anos, o cinema nacional conquistou tamanho brilhantismo, de ser grande, comercial e acessível, sem deixar de ser artístico e admirável em todos os aspectos. É fácil gostar, digerir e querer aplaudir de pé quando os créditos finais começam a subir.
O filme é baseado na enigmática vida de Arlindo Barreto que durante anos deu vida ao palhaço e apresentador Bozo na televisão. Na tela, acompanhamos a trajetória nada comum de Augusto Mendes (Vladimir Brichta), que abandona as produções da pornochanchada para encarar o seu maior desafio, ser o palhaço mais amado pelas crianças do Brasil, reproduzindo uma marca de grande sucesso no exterior, o Bingo. Apresentando um programa diário, ele precisa lidar com a pressão dos bastidores que necessitam de um alto índice de audiência, enquanto se vê cada vez mais distante de seu filho e cercado de novas tentações como drogas, sexo e bebidas.
A jornada de Augusto já é fascinante, no entanto, o bom roteiro a engrandece, a transformando em um verdadeiro show, digno de ser visto na tela grande. Existe em belíssimo desenvolvimento do personagem, que nasce de forma excêntrica e segue por caminhos nada convencionais. O que o motiva a entrar naquele palco e o que o faz permanecer dentro dele não são respostas fáceis e o filme renega qualquer saída óbvia. É complexo e nos faz adentrar na mente doentia e atordoada daquele ser. Por vezes divertido, por vezes assombroso, o roteiro consegue guiar bem o grande mistério da obra. O que há por trás da máscara do palhaço? Neste sentido, é brilhante os dilemas que o protagonista enfrenta, nesta dúvida de não saber mais quem é, de querer ser aplaudido como autor de sua criação e não como um produto sem identidade.
Da primeira a última cena, não nos deixa dúvidas de que não haveria outro ator - nem mesmo Wagner Moura - para interpretar o personagem título. Vladimir Brichta dá vida a Bingo e lhe entrega tudo, vai de encontro, lhe entrega alma. É irretocável sua construção. Chega a arrepiar em momentos como quando recebe um importante prêmio da TV ou quando comemora o primeiro lugar na audiência e faz um discurso ao vivo. Choca e prova não só a força dele como ator, mas a força de toda a equipe, do roteiro, da direção, que transforma cada pequeno evento em uma sequência memorável. Dos coadjuvantes, apenas Leandra Leal e Ana Lúcia Torre ganham espaço e isso acaba fazendo falta na trama. Personagens como a ex-esposa de Augusto e até a própria Gretchen não passam de figurantes de luxo, descartando talentos como os de Tainá Müller e Emanuelle Araújo. Mas o texto é ótimo e a interação entre todos eles funcionam durante todo o filme. Vale lembrar a pequena participação de Domingos Montagner como um palhaço. É um momento que, sem a intenção, se tornou doce e uma grande homenagem.
A direção de Daniel Rezende é uma grande surpresa. Ele faz milagres em cada sequência. É bonito de ver e acompanhar. Seus cortes e cores vibrantes dialogam bem com a loucura mental de seu protagonista. Auxiliado por um excelente design de produção, que dá vida aos bastidores da TV na década de 80 - que aqui é tratado com humor e nostalgia todos os exageros da época - e com ótimas canções na trilha sonora, "Bingo" se torna um grande, delicioso e revigorante espetáculo, além de provar a nítida evolução de nosso cinema.
NOTA: 9,5
País de origem: Brasil
Duração: 113 minutos
Distribuidor: Warner Bros.
Diretor: Daniel Rezende
Roteiro: Luiz Bolognesi
Elenco: Vladimir Brichta, Leandra Leal, Ana Lúcia Torre, Cauã Martins, Augusto Madeira, Emmanuelle Araújo, Pedro Bial, Tainá Müller, Domingos Montagner
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe um comentário #NuncaTePediNada