terça-feira, 26 de setembro de 2017

Crítica: Dunkirk (2017)



Um dos filmes mais aguardados do ano, "Dunkirk" pode ser a grande chance do diretor Christopher Nolan no Oscar, que realiza aqui seu filme mais próximo ao que a Academia costuma aclamar. Diferente de seus trabalhos anteriores, este é menos entretenimento, porém, ainda assim, uma experiência cinematográfica formidável.

por Fernando Labanca



Nolan é daqueles cineastas que vale a pena esperar. Desde que "Dunkirk" foi anunciado, minhas expectativas já estavam altas. Ele erra pouco, é audacioso, pretensioso ao máximo e talvez o diretor mais corajoso ainda em atividade. Não faz nada pela metade. Cada novo filme, um novo tiro. Um novo espetáculo a ser apreciado. Em sua brilhante jornada, que já trouxe obras-primas como "Dark Knight", "Amnésia" e "Inception", Nolan sempre soube trazer um equilíbrio entre entretenimento e inteligência, construindo uma linha interessante de blockbusters de alta qualidade. Apesar de conquistar o público nesses anos, nunca teve espaço no Oscar, mesmo quando seus filmes eram nitidamente melhores que os indicados. Talvez "Dunkirk" quebre esta sua sina. É, definitivamente, seu produto mais refinado. E isso não quer dizer o melhor.


A trama, que se baseia na Evacuação de Dunquerque, acontece na Segunda Guerra Mundial, quando um grupo de soldados britânicos são encurralados pelos alemães e não conseguem mais retornar para a casa. Sem contar sua história em ordem cronológica, o filme não foca em personagens, mas sim em diferentes planos e pontos de vista. Dessa forma, descobrimos o que acontecia no mar, na terra e no ar. Em um conjunto geral, por fim, "Dunkirk" aborda a luta de cada indivíduo ali dentro daquele ambiente extremamente vulnerável, fazendo o impossível para sobreviver. É bonito neste sentido, em como ele nos revela este instinto dos soldados em salvar o próximo, onde o tempo inteiro uma ação solidária está em ação. Nolan consegue criar um universo assombroso pelo caos da Guerra, mas também consegue transmitir este tom esperançoso, que emociona. O mundo pode estar no fim, mas a vontade de viver não. Ele acerta, também, ao trazer uma perspectiva diferente de todos os outros filmes de combate. Seus soldados não estão mais na batalha e não são mais heróis. O texto destrói este glamour que o cinema criou sobre a Guerra, aqui ninguém quer estar nela e os que restam, não se sentem vitoriosos e patriotas, apenas desolados, corrompidos e o pior de tudo, fracassados.

É nítido que não há um roteiro aqui e isto não é um defeito. Nolan, pela primeira vez, esqueceu os personagens, diálogos fortes e reviravoltas mirabolantes. Focou nas sensações, mostrando sempre de um plano maior um único evento. Seu grande trunfo é que "Dunkirk" é sim uma grande experiência. Conseguiu com maestria nos colocar ali dentro da ação. Da primeira a última sequência, estamos completamente imersos em sua proposta. Com sua trilha sonora constante e épica, marcando mais uma bela parceria com Hans Zimmer, a movimentação de sua câmera que não nos permite fugir e principalmente seu alto e eloquente som que nos faz ouvir e, consequentemente, sentir o peso, a dor e a pressão de estar naquela Guerra. Batalhas não são silenciosas e a equipe de som não poupou nossos ouvidos. É estrondoso e, confesso, incomoda. Faz parte da proposta, torna a sensação ainda mais real. E tudo gira em torno disso. Nos colocar ali. Funciona. É doloroso, desconfortável, assustador.

Preciso dizer, porém, não ter um protagonista a quem seguir os passos diminui a força da obra. São personagens jogados, que estão sempre assistindo. Não sofremos e torcemos por alguém específico e isso querendo ou não, faz falta, principalmente quando os tantos indivíduos ali retratados ou não saem do lugar, como um dispensável Tom Hardy que permanece a trama inteira no ar - e cansa pela repetividade -, ou são insignificantes e não tem muito a dizer ou fazer em cena. Nolan, que sempre tão bom em construir e desenvolver personagens esqueceu de dar vida a todos eles que soam insignificantes na maior parte do tempo. Mesmo não existindo papéis a altura de talentos como os ótimos Cillian Murphy e Mark Rylance, ainda consegue entregar algumas boas revelações, como o jovem Fionn Whitehead e a grande surpresa, Harry Styles.

Visualmente, a obra choca pelo nível de realismo que alcança. Christopher Nolan é um diretor brilhante e domina cada sequência, nos fazendo sempre nos perguntar como tudo aquilo foi feito. É bonito de ver. Por outro lado, estranhamente, dentre os clássicos do diretor, "Dunkirk" pode até ser o mais refinado, no entanto, é um dos menos marcantes de sua carreira. Como experiência dentro de um cinema, é maravilhoso. Fora dele, não tem vida muito longa como seus outros trabalhos. Saí satisfeito e emocionado com tudo o que vi mas, pela primeira vez, não saí surtado, pronto para ver outra vez e convencer o mundo de que precisa ser assistido e aclamado. É um filme excelente e se destaca dentre os lançamentos do ano, mas apesar de grandioso e fazer lembrar o cinema de Kubrick e Spielberg - que aliás, já é muita coisa - falta algo. Existe um vazio que permeia por toda a obra, que ao mesmo tempo que nos aproxima pelo realismo, nos afasta pela ausência de conteúdo, de uma história, de alma.

NOTA: 8






País de origem: EUA
Duração: 106 minutos
Distribuidor: Warner Bros.
Diretor: Christopher Nolan
Roteiro: Christopher Nolan
Elenco: Fionn Whitehead, Mark Rylance, Kenneth Branagh, Cillian Murphy, Harry Styles, Barry Keoghan, Tom Hardy, James D'Arcy












Um comentário:

  1. Muito boa crítica. Eu acho que para ser um filme que contou uma história que afetou milhares de famílias na América deve ter sido muito melhor, ainda eu acho que Dunkirk é um uma historia que vale a pena ver. Desde que eu li o Dunkirk filme resumo fiquei emocionada. Eu acho que os filmes de guerra são muito interessantes. A verdade é uma historia que vale a pena ver. O filme superou as minhas expectativas, realmente o recomendo.

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