quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Crítica: Entre Irmãs (2017)

Cinema com cara de novela. Com muito orgulho.

por Fernando Labanca

O diretor Breno Silveira sempre foi conhecedor de seu público e sempre fez suas obras muito consciente sobre quem as destina. Filmes como "2 Filhos de Francisco" (2005) e até mesmo "Gonzaga: De Pai pra Filho" (2012), que inclusive ganhou uma versão na TV, tem traços de novela, com histórias de superação e momentos feitos para emocionar. Essa característica, muitas vezes, é vista como algo negativo, pejorativo, no entanto, Silveira faz isso com tanta propriedade que nos convence de suas intenções. Seu produto funciona na televisão sim e nem por isso é ruim, de qualidade menor. Bem pelo contrário.

Baseado no livro "O Cangaceiro e a Costureira", o filme nos mostra Pernambuco na década de 30 e como o tempo separou duas irmãs. Vivendo uma vida simples naquele local, Emília (Marjorie Estiano) é do tipo que sonha alto, sempre se vendo longe dali, encontrando o príncipe encantado e indo morar na cidade grande. Bem diferente de Luzia (Nanda Costa), que por ter um braço atrofiado, sempre se viu por baixo, digna daquela vida sem perspectiva. Tudo muda quando a cidade é invadida pelo cangaceiro Carcará (Julio Machado) e seu bando, que obriga Luzia a fugir com eles. Estranhamente ela não hesita e percebe que aquela é sua chance de fazer algo de sua vida, abandonando sua irmã e seguindo outro rumo. O filme, então, acompanha a jornada das duas a partir deste ponto e em como uma não foi capaz de esquecer a outra, mesmo com a distância e a dúvida do destino que cada uma teve.


"Entre Irmãs" tem formato épico. É longo, conta diversas histórias e ainda pede auxílio de uma trilha sonora pesada e fotografia deslumbrante. Breno Silveira e sua equipe não pouparam esforços em fazer um produto marcante - que tem cara de novelão sim - mas que funciona perfeitamente na tela grande também. Claro que é nítido que a proposta daria certo como uma série de TV, logo que são tantos personagens que ganham destaque ao longo da obra, que a duração de um filme não permite que todos eles tenham suas tramas contadas no devido tempo e espaço. Por outro lado, o roteiro consegue driblar esses empecilhos e não passa a sensação de ser corrido ou que algum acontecimento foi atropelado. As sequências são fluídas e penso que durante suas quase duas horas e meia, tudo foi tratado com bastante cuidado. São tantos assuntos debatidos, que vai do feminismo a homossexualidade, e se sai bem em tudo o que pretende dizer, se provando, aliás, uma obra necessária.

Confesso que me senti preso dentro dessas histórias que "Entre Irmãs" nos conta. E são nos detalhes que percebo o cuidado que tiveram em levar a obra para o cinema, não só pela caprichada produção, mas principalmente pelo belíssimo texto. É lindo toda a ideia e o roteiro compreende a comoção que pode causar no público, entregando o tom dramático que merecia. Me comove esta fuga repentina de Luzia, na moça que nunca sonhou em sair dali, mas foge por medo de ser abandonada primeiro e sabia, desde sempre, que um dia seria. É triste, também, a jornada de Emília. Em como o mundo parece dizer a todo instante que seus sonhos são tolos e que nada do que ela almeja alcançar, existe. Fala ainda sobre o homem que não pode amar por medo de não mais ser aceito como o homem que é. "Entre Irmãs", no fim, é mais do que a história de duas mulheres fortes lutando por um espaço, é sobre esta procura por liberdade. E assim como os pássaros que Luzia libertava quando criança, todos os personagens são indivíduos enclausurados, que estão sempre fugindo, mas ao mesmo tempo, estão sempre presos a algo, seja pelo medo do abandono, seja pelo medo da rejeição. No entanto, todos lutam por esta sonhada liberdade, por este mundo em que possam ser quem desejam ser, que possam amar quem desejam amar.

Marjorie Estiano é um furacão. Ela domina todas as cenas e mostra uma força descomunal. Sua parceria com Nanda Costa funciona, sendo impossível não acreditar naquela relação e torcer pelo encontro das duas. Nanda também realiza um trabalho marcante, há muita dor em seu olhar e traz verdade para cada instante. "Entre Irmãs" não teria o mesmo impacto sem a grande atuação das duas, que emocionam com duas grandes personagens. A história de Emília e Luzia é extremamente comovente e o filme não teme emocionar seu público, entregando um texto inspirado, cheio de diálogos que provavelmente foram escritos para destruir aquele que assiste. Funcionou comigo, que não contive minhas lágrimas. E esta emoção não surge apenas no final, ela está presente em cada instante, em cada olhar, em cada desencontro. Chorei e não foi pouco. Sem dúvidas, uma das obras mais tocantes do ano.

NOTA: 8,5





País de origem: Brasil
Duração: 160 minutos
Distribuidor: Sony Pictures
Diretor: Breno Silveira
Roteiro: Patrícia Andrade
Elenco: Marjorie Estiano, Nanda Costa, Rômulo Estrela, Júlio Machado, Letícia Colin, Ângelo Antônio, Fábio Lago, Cyria Coentro, Claudio Jaborandy




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