quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Crítica: Infiltrado na Klan

Retorno do renomado diretor Spike Lee, que levou o Grande Prêmio do Júri no último Festival de Cannes, "Infiltrado na Klan" vem disfarçado de comédia de época para denunciar as atrocidades de nosso presente. O filme é, curiosamente, baseado em fatos reais e brinca com a caricatura para deixar evidente o quão absurda a realidade é. Usando do humor a seu favor, temos aqui um relato atual, impactante e necessário.

por Fernando Labanca

Acompanhamos a jornada de Ron Stallworth (John David Washington), o primeiro homem negro a integrar a policia de Colorado Springs. A procura de uma missão mais relevante ali dentro, decide entrar em contato com a Ku Klux Klan, usando da sua boa lábia para se infiltrar na poderosa organização. No entanto, para isso ser realmente possível, ele conta com a ajuda de seu parceiro de trabalho, Flip Zimmerman (Adam Driver), para assumir sua identidade nas reuniões presenciais.


Por sua trama acontecer na década de 70, a produção aproveita para fazer uma interessante homenagem ao movimento cinematográfico Blaxploitation. Todo seu design e construção nos remete ao gênero e Spike Lee comanda tudo isso de forma brilhante. Os figurinos são belos e a ágil edição quase nos faz esquecer que estamos diante de um longa com pouco mais de duas horas de duração. Se trata de um dos trabalhos mais relevantes da carreira do diretor, que usa sua voz para falar de assuntos assustadoramente atuais. Quando seus vilões usam da promessa "make America great again", é mais do que uma clara referência ao presidente Trump, mas como esses discursos dão poder ao ódio e como a desinformação alimenta a intolerância.

No entanto, penso que a obra peca em seu desenvolvimento. As intenções são claras e são atingidas, mas a forma como o roteiro trabalha com seus personagens o enfraquece como cinema. Tanto Ron como Flip são superficiais. Ron, interpretado por um carismático John David Washington, nunca sai da caricatura e parece nunca ganhar vida, age sempre sereno quase como se o complicado plano não houvesse riscos. Nem mesmo a inserção de um romance funciona e uma das razões é por sempre evitar um possível e bem-vindo embate entre ele e a militante do movimento negro. Já Flip, onde o texto poderia se aprofundar em sua crise de identidade, por ser um judeu no meio da Ku Klux Klan, o trata como uma peça qualquer dentro da situação. Incomoda, ainda, como todo o esquema de infiltração é trabalhado, soa fácil demais e falta a tensão necessária para realmente nos colocar ali dentro.  É triste como o roteiro termina esse plot, de forma apressada e sem nunca alcançar o potencial que anunciava lá no começo.

"Infiltrado na Klan" perde, principalmente, pela forma como Spike Lee finaliza sua ideia. Ao inserir vídeos reais de neo-nazistas protestando nas ruas contra negros, judeus e imigrantes, ele perde a mão. É impossível não sair da sala de cinema impactado, triste pelo o que acabamos de ver, porque é real, é forte. Porém, penso que se trata de um recurso covarde justamente porque é um choque que vem fácil. Parece que o diretor não acreditava no potencial de tudo o que já havia dito em seu filme e decidiu usar do didatismo para deixar claro. Sua obra é como uma longa introdução ao curto vídeo que exibe ao seu fim. É uma escolha ousada que será efetiva para grande parte do público, mas não funciona. Seu final é, de fato, problemático e prova uma certa imaturidade para concluir um assunto tão delicado. Claro que apesar de seus erros, não deixa de ser uma obra provocativa, necessária e que traz um discurso poderoso.

NOTA: 7



País de origem: EUA
Título original: BlacKkKlansman
Ano: 2018
Duração: 128 minutos
Distribuidor: Universal Pictures
Diretor: Spike Lee
Roteiro: Charlie Wachtel, David Rabinowitz, Kevin Willmott, Spike Lee
Elenco: John David Washington, Adam Driver, Laura Harrier, Topher Grace, Ryan Eggold



Um comentário:

  1. Interessante, você gostou do filme? É excelente, sinto que história é boa, mas o que realmente faz a diferença é a participação do ator Adam Driver neste filme. Eu o vi recentemente em Lucky Logan Roubo em Família, você viu? A participação do ator foi fundamental. Adorei, pessoalmente eu acho que é um dos top filmes comedia que nos prende. A historia está bem estruturada, o final é o melhor! Sem dúvida a veria novamente, se ainda não tiveram a oportunidade de vê-lo, eu recomendo. Cuida todos os detalhes e como resultado é uma grande produção.

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