quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Crítica: Bohemian Rhapsody

A ascensão de um ícone (e nenhuma verdade por trás disso)

por Fernando Labanca

"Bohemian Rhapsody" é, sem surpresa alguma, um dos lançamentos mais aguardados desse ano. Um filme sobre Freddie Mercury e o sucesso do Queen é um evento que, de fato, precisávamos. O longa se assume como essa carta de amor ao fãs e principalmente a este mito que, com seu jeito irreverente, entrou para a história da música. É emocionante estar na sala de cinema e ouvir, por um som potente, os refrões de tantos clássicos como We Will Rock You, Love of My Life, Radio Ga Ga, entre tantos sucessos da banda. Para os admiradores do Queen, a obra é um presente dos mais agradáveis, no entanto, para aqueles que esperam encontrar a história por trás dos ícones, a decepção pode ser grande. 

O filme narra a rápida ascensão do Queen e como os integrantes tiveram que lidar com os excessos do vocalista. Se trata de um recorte bem tradicional, que jamais foge dos clichês que o cinema definiu quando fala de astros da música. A busca por sucesso, as divergências com produtores e a arrogância que leva ao isolamento. O roteiro, assinado por Anthony McCarten, que já foi responsável por outras biografias como "A Teoria de Tudo" e "O Destino de Uma Nação", segue passo a passo a cartilha hollywoodiana e jamais entrega a história que o Queen, definitivamente, merecia. É apressado quando não deveria e tão didático quanto uma pesquisa no Google. São informações que já sabíamos pinceladas por um texto preguiçoso, que aborda a homossexualidade, a AIDS e a "vida tumultuada" da banda de forma superficial. É difícil adentrar na jornada dos músicos justamente porque nada transmite verdade.


Rami Malek até se esforça para dar vida a Freedie Mercury, mas não vai muito além da caricatura. Se no início é difícil levá-lo a sério com sua estranha prótese dentária, seus trejeitos afetados tornam esta conexão ainda mais complicada. Em cima do palco, o ator tem ótima presença mas, fora dele, me fez questionar se ele era a melhor escolha para o papel. Outro grande problema é a construção do personagem. Ele já nasce na tela como um ícone, pronto para o sucesso e decidido sobre suas futuras ações. Seu plano é infalível e o roteiro não perde tempo com momentos de dúvidas ou dilemas que qualquer ser humano normal enfrenta. Ainda que o cinema possa parecer a chance de vermos o outro lado pra trás deste mito que a mídia construiu, "Bohemian Rhapsody" não está afim de revelar a verdade. Ele é uma lenda irretocável, não precisamos saber mais do que isso. Seria interessante saber, mas o roteirista decidiu que não. 

Apesar de ser um filme muito bem feito - acertando principalmente no design de produção e figurinos - peca pela falta de complexidade e neste formato familiar que abraçou para si. Falar do Queen sem rebeldia e sem quebrar as regras é o caminho mais desonesto que poderiam seguir e eles seguiram por puro medo de afetar os fãs mais conservadores. Freedie cantava para os excluídos, tinha personalidade, era irreverente e autêntico, exatamente tudo o que o filme se esquiva de ser.

NOTA: 6




País de origem: EUA, Reino Unido
Título original: Bohemian Rhapsody
Ano: 2018
Duração: 134 minutos
Distribuidor: Fox Film do Brasil
Diretor: Bryan Singer / Dexter Fletcher
Roteiro: Anthony McCarten
Elenco: Rami Malek, Lucy Boynton, Ben Hardy, Joseph Mazzello, Aidan Gillen, Tom Hollander, Mike Myers


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