quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Crítica: O Primeiro Homem


A versão intimista de Damien Chazelle
sobre um momento histórico. 

por Fernando Labanca

Neil Armstrong foi o primeiro homem a pisar na lua e é este o evento que o cineasta Damien Chazelle (Whiplash, La La Land) resgata para contar em sua nova obra. Vemos o homem por trás de um dos capítulos mais importantes da humanidade, a relação que possui com sua família e as perdas que precisou enfrentar até colocar seu nome na história. Passou a ser visto como herói norte-americano, mas ele mesmo nunca se viu assim. O filme propõe, então, sua visão sobre os fatos de forma singela e bem realista, sem a necessidade de romantizar o ato, mas sem menosprezar seus esforços. 

Pela primeira vez distante do tema musical, Damien entrega seu produto menos explosivo e também, o seu menos pessoal. Ainda que seja incrivelmente bem executado, falta a emoção que existia em seus trabalhos anteriores. Se trata de um filme apático, que nos coloca para dentro da cena, mas é quase impossível se ver envolvido com os dramas que relata. É cru, seco e por isso é difícil se importar até mesmo quando seus personagens morrem. O filme não procura emoções baratas e nem uma comoção gratuita, o que é bom porque foge a todos instantes de possíveis clichês do gênero, no entanto, essa falta de empatia causada por essa sua frieza nos distancia da obra, nos torna meros expectadores. A presença de Ryan Gosling não ajuda. Sempre fazendo o tipo introspectivo, o ator some juntamente com suas expressões. Dessa forma, é sua parceira quem realmente brilha. Claire Foy, que chamou a atenção na série "The Crown", explora o pouco tempo que tem e entrega uma atuação potente. Ela devora o texto e se torna a única coisa com vida dentro do filme. 


"O Primeiro Homem" é o típico longa-metragem feito para o Oscar e não me surpreenderia vê-lo entre os indicados do próximo ano. A direção de Chazelle é ótima e ao optar pelo uso de closes e não filmagens panorâmicas, ele parece mudar a perspectiva das coisas e a todo momento somos colocados muito perto de detalhes. É imersivo e nos sentimos enclausurados em diversas sequências. Seja pelos ruídos, pelos parafusos enferrujados, o diretor consegue expor a fragilidade daqueles experimentos e desperta este sentimento de desconforto, de vulnerabilidade. A sequência do Apollo 11 e o tão aguardado momento do pouso na lua é fantástica. É brilhante o trabalho do som, ao mesmo tempo que souberam tão bem abusar do silêncio. Não sei quanto tempo durou a cena, mas foi belo cada segundo dela. Trilha sonora, fotografia, enfim, tecnicamente é uma obra inquestionável. 

Ainda que seja o trabalho menos autoral do diretor e, por muitas vezes, menos interessante, "O Primeiro Homem" é um filme de muitas qualidades que, com certeza, vale uma ida ao cinema. Temos aqui uma biografia respeitável, que nega a obviedade e traz um alto nível de realismo. É épico e grandioso, mas a todo instante falta algo. Falta vida, falta nos convencer de que devemos nos importar com tudo aquilo. 

NOTA: 7



País de origem: EUA
Título original: First Man
Ano: 2018
Duração: 133 minutos
Distribuidor: Universal Pictures
Diretor: Damien Chazelle
Roteiro: Josh Singer
Elenco: Ryan Gosling, Claire Foy, Jason Clarke, Corey Stoll, Kyle Chandler, Patrick Fugit, Pablo, Schreiber, Brian d'Arcy James, Lukas Haas, 

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