quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Crítica: Ad Astra - Rumo às Estrelas


A solidão do infinito.

por Fernando Labanca 

James Gray não é um cineasta comum. Depois de obras como "Era Uma Vez em Nova York" e "Z - A Cidade Perdida", ele provou uma habilidade enorme por de trás das câmeras. Agora em "Ad Astra" ele alcança um patamar ainda mais elevado, entregando seu melhor trabalho até agora. Há algo de especial em seu cinema. Uma sensibilidade que intriga e uma calmaria que hipnotiza. É difícil desviar nosso olhar quando o que ele oferece é tão belo e rico de detalhes. Uma experiência cinematográfica formidável vinda de uma obra cheia de alma, cheia de poesia. 

Tem se tornado até batido esses filmes que acontecem no espaço. Nos últimos anos já tivemos "Interestelar", "Gravidade, "Perdido em Marte", onde cada um tenta buscar sua peculiaridade e não se camuflar dentro deste subgênero. "Ad Astra", felizmente, em nada se assemelha a esses trabalhos e James Gray consegue, em seus belíssimos minutos, encontrar sua própria voz. Até mesmo quando o filme encontra a ação, em raros instantes que nos faz lembrar que estamos diante de um blockbuster, notamos uma beleza incomum, uma fuga constante da obviedade, de ser genérico. Nunca é. Sequências como o ataque pirata na lua é de uma genialidade não apenas narrativa, como de montagem e direção também. É  genial, também, quando revela uma viagem espacial e como o consumismo destruiu aquilo que "antes" era apenas um sonho da humanidade. O roteiro fala do futuro com naturalidade e uma boa dose de realismo. Nesse sentido, tanto a edição como todo o design de produção se destacam, além do som que torna a experiência ainda mais imersiva.


"Ad Astra", assim como muitas outras ficções científicas, fala sobre a busca por novas formas de vida fora do Planeta. É neste cenário que conhecemos nosso protagonista, vivido por um emotivo e esforçado Brad Pitt. Ele é Roy, um engenheiro espacial que é chamado para uma missão secreta: cruzar a galáxia e descobrir o que aconteceu com seu pai, um astronauta que esteve desaparecido pelos últimos vinte anos, o que o fez acreditar, por todo este tempo, que ele estivesse morto. Nesta busca pela existência de seu pai, Roy mergulha em suas lembranças e todo o afeto que não recebeu, nos fantasmas deixados pelo rastro deste misterioso homem. É belo como o espaço é tratado aqui, como aquela vasta área cheia de nada é a chance de encontrar vida, seja de uma espécie que prove que nós, humanos, não somos os únicos, seja do pai que jusfique tamanha solidão. E nesta viagem ao infinito, o protagonista busca se conectar com o mundo, preencher o vazio deixado pela ausência, pelo abandono. 

Há uma certa poesia em cada instante de "Ad Astra", em cada respiro, cada reflexão. Me vi hipnotizado por suas palavras e por suas questões existenciais. Me senti inundado por tamanha beleza, pela riqueza de um cinema não mais usual. Há, também, um ar melancólico que permeia por toda a obra, ao ver seus personagens caminhando distante de tudo, abraçados pelo vazio do espaço. Ao terminar nos deixa ali, desolados, devastados pelas respostas que não tivemos e uma estranha sensação de que, de fato, estamos sozinhos nesta imensidão. 

NOTA: 9


País de origem: EUA
Título original: Ad Astra
Ano: 2019
Duração: 123 minutos
Distribuidor: Fox Film do Brasil
Diretor: James Gray
Roteiro: James Gray, Ethan Gross
Elenco: Brad Pitt, Ruth Negga, Tommy Lee Jones, Liv Tyler, Donald Sutherland


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