
por Fernando Labanca
Entre construções mal elaboradas de Buenos Aires vive Martin (Javier Drolas), um web designer que trabalha em casa e que fora abandonado pela namorada, tem fobia a tudo e por isso não sai de seu apartamento. Ele acredita que os males da sociedade estão diretamente vinculados à arquitetura da cidade, mal planejada, que cresce sem lógica, que nos separa e como consequência nasce esses indivíduos isolados, nasce a violência, a falta do desejo, a falta da comunicação, a depressão e até mesmo o suicídio. Sem saber, porém, no prédio ao lado, mora Mariana (Pilar López de Ayala), uma arquiteta, que após o término do curso não conseguiu engrenar na profissão, hojé é vitrinista e tem depressão, passa suas horas em frente seu Mac, assim como Martin. E esta mesma cidade que os separa, será também aquela que os une, e entre constantes desencontros, o irônico destino dos dois fará de tudo para colocá-los frente a frente.
É quase que impossível ver "Medianeras" e não se sentir representado, pelo menos por algum diálogo, um personagem, um momento, algo que remeta rapidamente a nossa própria vida, é daqueles filmes que falam muito mais sobre nós do que gostaríamos de adimitir. Duas pessoas com coração partido, vivendo na triste rotina diante de um computador, onde a internet os possibilitou conhecer o universo e a cada dia a mais é como se esquecessem como é realmente a vida, trancafiados no apartamento, prisioneiros de uma cultura que o próprio filme denominou de "a cultura do inquilino", a cultura do desapego, do desafeto. Sozinhos. Sozinhos neste mundo tão repleto de gente, de opções, a solidão que surgiu como consequência de um mundo cada vez mais tecnológico, mais necessitado de ações rápidas e fáceis, a internet que nos conecta ao mundo e nos afasta da vida. Ver Martin e Mariana na tela é um reflexo nítido da nossa atual existência, denúnciam de forma realista (e poética) o triste modo como vivemos.

Medianera é, mais precisamente, aquele lado dos edifícios que não servem de nada, ocupado muitas vezes por propaganda, uma parede lisa, sem janelas. É interessante, então, quando os personagens decidem quebrar parte desta medianera, abrindo um buraco ilegal, mas que de certa forma, lhes devolve a luz que faltava em suas vidas, dando esperança à trama que até este momento era melancólica. "Medianeras" de Gustavo Taretto é um marco do cinema contemporâneo argentino, a prova do quão bom é o cinema deste país, capaz de tocar os corações mais insensíveis, numa história de amor tratada com bastante humor e delicadeza, um roteiro que trás grandes discussões numa trama realista e complexa, tuda na cidade de Buenos Aires, mas que poderia ser qualquer outra, contando a trajetória de Martin e Mariana que poderia ser a de qualquer um de nós. Sensível e sutilmente emocionante, extremamente simples e também extremamente inteligente. Recomendo.
NOTA: 9
Seria legal se a nota tivesse categorias. Parabens!
ResponderExcluirObrigado! :)
ExcluirE valeu pela sugestão! Mas como seria? Categorias tipo atuação? Roteiro?
Realmente muito sensível sem ser piegas; o cinema argentino é surpreendente!
ExcluirEu assisti e recomendo, é um dos melhores filmes, muito lindo mesmo.
ResponderExcluirAdoro! Também resenhei lá no blog!!
ResponderExcluirhttp://coisasdajuuh.blogspot.com.br/
''É daqueles filmes que falam muito mais sobre nós do que gostaríamos de admitir. '' Essa parte me descreveu. Resenha fantástica.
ResponderExcluirsimplesmente incrivel, o final é muito bom
ResponderExcluirExcelente filme, poético, faço das suas as minhas palavras: "Sensível e sutilmente emocionante, extremamente simples e também extremamente inteligente. Recomendo".
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