sexta-feira, 12 de julho de 2013

Crítica: Medianeras - Buenos Aires da Era do Amor Virtual (Medianeras, 2011)

Baseado no curta-metragem de mesmo nome, e tendo o mesmo diretor, Gustavo Taretto, "Medianeras" é um filme argentino e participou na Mostra Competitiva no Festival de Gramado em 2011, no qual venceu os prêmios de Melhor Diretor e Melhor Filme Estrangeiro. O longa é um retrato moderno sobre como as pessoas se relacionam na era digital e como as tecnologias e até mesmo a arquitetura de uma grande cidade são responsáveis por nossa constante solidão.

por Fernando Labanca

Entre construções mal elaboradas de Buenos Aires vive Martin (Javier Drolas), um web designer que trabalha em casa e que fora abandonado pela namorada, tem fobia a tudo e por isso não sai de seu apartamento. Ele acredita que os males da sociedade estão diretamente vinculados à arquitetura da cidade, mal planejada, que cresce sem lógica, que nos separa e como consequência nasce esses indivíduos isolados, nasce a violência, a falta do desejo, a falta da comunicação, a depressão e até mesmo o suicídio. Sem saber, porém, no prédio ao lado, mora Mariana (Pilar López de Ayala), uma arquiteta, que após o término do curso não conseguiu engrenar na profissão, hojé é vitrinista e tem depressão, passa suas horas em frente seu Mac, assim como Martin. E esta mesma cidade que os separa, será também aquela que os une, e entre constantes desencontros, o irônico destino dos dois fará de tudo para colocá-los frente a frente. 


É quase que impossível ver "Medianeras" e não se sentir representado, pelo menos por algum diálogo, um personagem, um momento, algo que remeta rapidamente a nossa própria vida, é daqueles filmes que falam muito mais sobre nós do que gostaríamos de adimitir. Duas pessoas com coração partido, vivendo na triste rotina diante de um computador, onde a internet os possibilitou conhecer o universo e a cada dia a mais é como se esquecessem como é realmente a vida, trancafiados no apartamento, prisioneiros de uma cultura que o próprio filme denominou de "a cultura do inquilino", a cultura do desapego, do desafeto. Sozinhos. Sozinhos neste mundo tão repleto de gente, de opções, a solidão que surgiu como consequência de um mundo cada vez mais tecnológico, mais necessitado de ações rápidas e fáceis, a internet que nos conecta ao mundo e nos afasta da vida. Ver Martin e Mariana na tela é um reflexo nítido da nossa atual existência, denúnciam de forma realista (e poética) o triste modo como vivemos.

Duas pessoas assustadoramente normais, como eu, você, nosso vizinho. A trajetória desses dois personagens ganham nossa atenção e afeição facilmente, Martin que tem fobia a tudo, inclusive de contato humano, Mariana que tem uma grande dificuldade em se relacionar com outras pessoas e vive com a frustração de uma carreira fracassada, perdendo seu tempo que não é nada precioso, lendo as páginas de "Onde Está Wally?" e se frusta ainda mais por nunca conseguir encontrá-lo, que segundo ela, reflete em sua própria solidão, como irá encontrar alguém se não sabe onde e nem como? Os atores são ótimos, são apenas os dois que carregam o filme, trazem verdade a estes questionamentos e como é delicioso vê-los em cena, sofrendo com eles, é tão óbvio que foram feitos um para o outro e por isso ficamos vidrados no filme a espera do momento em que enfim se conheceriam, pouquíssimas obras de romance possuem este milagre, de fazer o público torcer, de não conseguir imaginar a vida daqueles personagens sozinhos, não querer acreditar que exista a possibilidade de que não fiquem juntos.

Medianera é, mais precisamente, aquele lado dos edifícios que não servem de nada, ocupado muitas vezes por propaganda, uma parede lisa, sem janelas. É interessante, então, quando os personagens decidem quebrar parte desta medianera, abrindo um buraco ilegal, mas que de certa forma, lhes devolve a luz que faltava em suas vidas, dando esperança à trama que até este momento era melancólica. "Medianeras" de Gustavo Taretto é um marco do cinema contemporâneo argentino, a prova do quão bom é o cinema deste país, capaz de tocar os corações mais insensíveis, numa história de amor tratada com bastante humor e delicadeza, um roteiro que trás grandes discussões numa trama realista e complexa, tuda na cidade de Buenos Aires, mas que poderia ser qualquer outra, contando a trajetória de Martin e Mariana que poderia ser a de qualquer um de nós. Sensível e sutilmente emocionante, extremamente simples e também extremamente inteligente. Recomendo. 

NOTA: 9 





8 comentários:

  1. Seria legal se a nota tivesse categorias. Parabens!

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    1. Obrigado! :)

      E valeu pela sugestão! Mas como seria? Categorias tipo atuação? Roteiro?

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    2. Realmente muito sensível sem ser piegas; o cinema argentino é surpreendente!

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  2. Eu assisti e recomendo, é um dos melhores filmes, muito lindo mesmo.

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  3. Adoro! Também resenhei lá no blog!!

    http://coisasdajuuh.blogspot.com.br/

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  4. ''É daqueles filmes que falam muito mais sobre nós do que gostaríamos de admitir. '' Essa parte me descreveu. Resenha fantástica.

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  5. simplesmente incrivel, o final é muito bom

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  6. Excelente filme, poético, faço das suas as minhas palavras: "Sensível e sutilmente emocionante, extremamente simples e também extremamente inteligente. Recomendo".

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