
por Fernando Labanca
Provavelmente muitos chegarão até a obra pelas cenas de sexo, mas sim, existe uma história sendo contada ali. Somos apresentados ao mundo de Murphy (Karl Glusman), que narra o tédio e o descontentamento de sua rotina ao lado de sua mulher e seu pequeno filho. Até que uma inesperada ligação o abala, a mãe de sua ex-namorada Electra (Aomi Muyock), liga dizendo que ela está desaparecida há meses e ninguém mais tem notícias. A partir da dúvida sobre o que aconteceu com aquela que tanto amou, Murphy se joga numa crise nostálgica, relembrando tudo o que viveu ao lado dela, procurando sua vida nas lembranças, nas discussões, na paixão adolescente, nos erros cometidos, na relação carnal que os unia.


"A vida é aquilo que você faz dela. Serei bom, como um sonho. Serei verdadeiro."
Desde que assisti "Irreversível" (2002), sempre vi Gaspar Noé como um diretor a se prestar atenção. O lançamento de "Love" causou um certo furor na mídia, tanto pelo trailer e comentários sobre as polêmicas sequências de sexo, como pelas artes de divulgação. Não me interessei tanto por medo de ver o novo "Ninfomaníaca", que prometeu tanta ousadia e Lars Von Trier conseguiu, no mínimo, fazer seu pior filme. Não existe muitas relações entre as obras a não ser: chocar. Por fim, não consegui ver esse apelo sexual do longa como algo gratuito ou ofensivo, ainda que nada disso o impede de ofender os mais conservadores, é preciso estar preparado e saber o que está por vir. Acredito que Noé tenha sido extremamente cuidadoso com tudo, ele causa impacto não pela forma como é mostrado mas por mostrar aquilo que o cinema tanto evita, por revelar a intimidade de um casal sem pudores, sem restrições ou julgamentos. É cru, é honesto e justamente por isso, se torna um filme romântico.

Há algo de metalinguístico em "Love", onde o protagonista Murphy, aspirante cineasta, sonha em realizar um filme em que amor e sexo coexistem, a criação da "sexualidade sentimental" como ele mesmo diz. Ainda há algumas coincidências tolas, como o ex de Electra se chamar Noé e o filho do protagonista de chamar Gaspar e Murphy ser o nome da mãe do diretor. Sim, nem todas as escolhas são as melhores e há muitas escolhas questionáveis em "Love", mas para minha grande surpresa, vejo que o longa acertou bem mais do que errou, vi uma obra corajosa e inesperadamente romântica, poética, uma experiência única, marcante e que não deixa ninguém ileso. E além de suas intenções, vi um filme com um visual poderoso, cinematograficamente falando, impecável.
NOTA: 8
País de origem: França, EUA
Duração: 130 minutos
Distribuidor: Imovision
Diretor: Gaspar Noé
Roteiro: Gaspar Noé
Elenco: Karl Glusman, Aomi Muyock, Klara Kristin
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