sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Crítica: O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street, 2013)

É de se esperar ver um bom filme de Martin Scorsese. Quando vamos ao cinema ou quando assistimos alguma raridade de sua brilhante filmografia, é difícil sentir decepção, portanto a expectativa em torno do diretor é sempre alta. Me surpreende, porém, depois de tantos anos dirigindo, ele conseguir realizar o que talvez seja um de seus melhores trabalhos, "O Lobo de Wall Street" vai além do que ser apenas mais um bom filme de Scorsese, ele já nasce como um clássico. É Excepcional. É uma obra-prima.

por Fernando Labanca

O longa conta o nascimento do grande império de Jordan Belfort, aquele que acredita que o dinheiro é a solução para todos os problemas. Jovem, ele já sonhava em estar em Wall Street e desfrutar do lucro ganho pelos corretores de ações, é onde conhece seu mentor, Mark Hanna (Matthew McConaughey), é também onde conhece a decadência, perdendo seu emprego assim que uma crise derruba Wall Street. Ainda acreditando em seu sucesso e com a lábia de um excelente vendedor, Jordan descobre as conhecidas penny stocks, ações de pequenas empresas que não valem nada, mas que aquele que vende ganha uma comissão cheia, uma atitude ilegal mas que o faz fundar, ao lado do amigo Donnie Azoff (Jonah Hill) e outros velhos parceiros, a Stratton Oakmont, uma corretora de ações que "vende lixo para lixeiros". Ganha fama nos jornais, conhecido como "O Lobo de Wall Street" e ganha também mais dinheiro do que precisa. E para passar as horas de sua vida fácil, Jordan se alimenta de seus vícios, das drogas e do sexo, da loucura da sua rotina, do amor pelo dinheiro, transforma sua vida e seu ambiente de trabalho em um verdadeiro circo, onde não existe certo ou errado. Vivendo uma vida sem limites, desfrutando de forma insana tudo o que o dinheiro pode pagar.


Difícil falar sobre este filme, ao seu término, tive que parar por um tempo, pensar e repensar, tentar juntas as peças e chegar a alguma conclusão. Durante três horas estive longe de mim, entrei na história e dentro dela permaneci cada segundo, desfrutando cada cena, cada diálogo, cada loucura deste intenso e mirabolante trabalho de Martin Scorsese. Como disse no início, é natural esperar um bom trabalho do diretor, mesmo depois de longos anos de carreira, este gênio (sim, podemos chamá-lo assim) nunca realmente conheceu a decadência e mesmo nos últimos anos, Scorsese conseguiu se manter, sempre oferecendo obras de qualidade, entretanto, eis que em pleno 2014 me deparo com "O Lobo de Wall Street", é estranho pensar que aos seus 70 anos, ele poderia realizar um filme como este, poucos diretores tiveram esta coragem, ousa em cada sequência, há momentos de extremo vigor, é energético, impactante. Durante essas três horas, vemos de tudo em cena, do possível ao impossível, parece não haver limites para a vida de Jordan Belfort, muito menos para o atrevimento de Scorsese em expor tudo sem moralismos, que mostra com naturalidade um abusivo uso de drogas, cenas de sexo, sem medo de omitir a nudez de seus personagens, passando por uma orgia gay, violência, anões sendo jogados como dardos, um leão andando pelo escritório pouco antes de strippers correrem em câmera-lenta, tudo surge de forma inesperada e agrada pela maestria com o qual o diretor conduz o politicamente incorreto. 

Confesso, é chocante, porém, é feito com tanta competência por toda a equipe que tudo passa a ser um verdadeiro deleite aos amantes do cinema, não só pelo capricho do roteiro em desenvolver tão bem cada personagem e cada momento, mas também pela ótima edição que transforma este longo filme em algo eletrizante, que não perde o fôlego. Martin Scorsese já tinha meu respeito, ganhou, enfim, minha total admiração, pela ousadia em construir algo tão novo, por fazer cada cena um momento de pura contemplação cinéfila, tão bem arquitetado, tão bem finalizado. Scorsese parece resgatar um gênero quase que decadente, a comédia, e a entrega uma importância que há muitos anos não se via, é uma comédia épica, de proporções gigantescas. É incrível também o fato do diretor conseguir segurar sua obra por três horas, faltando apenas vinte minutos para acabar, "O Lobo de Wall Street" ainda possuí a mesma vitalidade e força que tinha aos minutos iniciais. A trilha sonora é outro grande acerto, que retrata bem a época e a loucura daquele universo.


"The Wolf of Wall Street" é bastante polêmico, não só pelas sequências que o fizeram ter classificação dezoito anos, mas também por retratar a vida deste controverso ser, Jordan Belfort. Sua relação com as penny stocks e a maneira suja que encontrou para ganhar dinheiro fácil, lucrando em cima de pessoas que não poderiam arcar com seus prejuízos. Muitos criticaram pela obra parecer glamorizar seus atos e por transformar Belfort num ser tão carismático, por glorificar o excesso de sua vida, as festas e sua rotina fútil. Entretanto, é nítido que o intuito do filme é bem o oposto, mostrar o quão vazia é sua vida, o quão vazio é aquele mundo, onde seus personagens não caminham a lugar algum, presos a um universo tão louco, tão distante do que é real. Belfort que transforma seu trabalho num circo e mais adiante, num verdadeiro culto, gritando como se estivesse pronto para expulsar seus demônios. Em certo momento, Jordan diz a seu pai: "É obsceno para qualquer um que vive na vida real, mas quem quer viver a vida real?", é justamente este o jogo proposto por Scorsese, se as palavras de Belfort são absurdas e toda a loucura de sua rotina ele diz ser real - e quem poderá dizer que não foi? - vivemos durante essas horas essa vida que tem todos os elementos de uma fantasia e o cinema é a ferramente perfeita para transformá-la numa realidade aceitável. Pode até não haver o tom crítico que talvez muitos esperavam, mas esta é a graça da sétima arte, deixar que a opinião nasça daquele que assiste, ele apenas oferece os argumentos, por mais bizarros que eles sejam.

Leonardo DiCaprio encontra o tom certo para seu personagem, faz de tudo em cena, e o que parecia impossível para uma carreira tão brilhante, ele surge melhor do que nunca, é seu melhor momento. É de chocar sua performance, quando o ator segura aquele microfone e começa a falar como um louco, é simplesmente de arrepiar, seus surtos são intensos e de certa forma, hilários, um ator competente que entrega uma atuação memorável. Os coadjuvantes são ótimos, Jonah Hill surpreende e Kyle Chandler surge incrível como nunca, mesmo que numa participação menor, o mesmo podemos afirmar de Matthew McConaughey que brilha nos poucos minutos em cena. A belíssima Margot Robbie entrega toda sua sensualidade a sua personagem e faz bonito em cena, temos também a volta do sumido e ótimo Rob Reiner, que diverte. Enfim, todos os atores surgem em cena com o intuito de dar o melhor, conseguiram, e graças a eles, vemos cenas, no mínimo, antológicas.

Escrever uma única resenha sobre "O Lobo de Wall Street" não é suficiente para expor todo o encanto e grandeza que esta obra oferece. Saí da sala de cinema meio desnorteado, um pouco sem acreditar no que tinha acabado de ver. Parece até exagerado afirmar, mas é natural que em alguns momentos de nossa vida nos deparamos com AQUELE FILME, aquele que há muito não se fazia igual, que parece construir um abismo enorme entre tantos que são lançados nas grandes salas. É o melhor momento de DiCaprio como ator, é um dos melhores filmes já dirigidos por Martin Scorsese, é também -  e senti isso no instante em que sai do cinema e sinto isso agora, escrevendo este texto - um dos melhores filmes lançado nos últimos anos. É daquelas obras que nos faz lembrar o porque de amarmos a sétima arte. Uma obra-prima, "O Lobo de Wall Street" é, com toda a certeza, um marco no cinema contemporâneo.

NOTA: 10






País de origem: EUA
Duração: 180 minutos
Distribuidor: Paris Filmes
Elenco: Leonardo DiCaprio, Jonah Hill, Margot Robbie, Kyle Chandler, Rob Reiner, Jean Dujardin, Jon Bernthal, Matthew McConaughey, Jon Favreau, 
Diretor: Martin Scorsese
Roteiro: Terence Winter

Um comentário:

  1. Fer, concordo em partes com o que você resenhou. Mas 10? Jura?
    A história foi passada de uma maneira muito suave e interessante. Você fica torcendo pelo bem do querido Léo (Jordan), que está no tom certo (como você escreveu) e quando seu amigo jonah hill faz alguma cacada, você quer entrar no filme para ajudar. Eu quis participar de várias cenas!
    Mas 3 horas de filme? Senti muitas cenas com o desenrolar demorado, muitas cenas desnecessárias, altos e baixos demais.. Me senti cansada, muito cansada.
    Mas pra mim, valeu a pena pela interpretação do Léozinho.

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