
Lançado em 2014, no Festival de Sundance, "Camp X-Ray" marca mais uma boa escolha de Kristen Stewart em sua carreira, além de revelar o talento do diretor estreante Peter Sattler.
por Fernando Labanca
Stewart interpreta Cole, uma jovem que resolve largar sua cidade pacata para realizar um trabalho como soldado na base de Guantánamo, em Cuba, anos após o atentado de 11 de setembro. Sua função, ao lado de outros iniciantes, é vigiar os detentos, que são mantidos presos por serem acusados de terrorismo, e que constantemente se rebelam ou tentam suicídio. Até que Cole começa, aos poucos, a desenvolver - proibidamente - uma relação de amizade com um dos detentos, Ali Amir (Peyman Maadi), que lhe chama a atenção por sua inteligência e por seu gosto pelas artes e leitura.
Durante seus anos de atividade, a prisão de Guantánamo, gerou bastante polêmica e sempre foi vista como algo abusivo e controverso. Era conhecida pela forma desumana como os soldados tratavam os detentos, além de receber diversas denúncias contra suas práticas ilegais. Logo, me surpreende e muito ver um filme norte-americano realizando um filme como este. Se recentemente, tivemos o desprazer de assistir o patriotismo exacerbado em obras como "Invencível" de Angelina Jolie e "Sniper Americano" de Clint Eastwood, que mostram, assim como de costume no cinema do país, uma visão conservadora e manipuladora sobre como seus soldados são heróis. "Marcados Pela Guerra" mostra uma nova perspectiva sobre o pós "11 de setembro", e mesmo com a simplicidade de um produto independente, revela um poder e uma coragem pouco vista, que tem a ousadia de não tomar um lado, de não criar vítimas nem vilões. O roteiro, sabiamente, mostra um pequeno evento e deixa com que as conclusões sejam tiradas por aqueles que assistem. É ousado, também, quando não teme fazer certas críticas, onde cada ataque de fúria do personagem Ali Amir, que é muçulmano, serve como um soco na cara, que não esconde sua crença de que os próprios americanos são os verdadeiros terroristas. O filme trabalha muito bem esta ideia de que existem pessoas e pessoas e de que o meio em que vivem não define caráter. É sobre o encontro dessas duas pontas opostas, desse homem, que no meio de acusados, se diz inocente e dessa mulher que tenta encontrar a dignidade dentro de si e dentro daquele em que passa a acreditar.