quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Crítica: Marcados Pela Guerra (Camp X-Ray, 2014)

Lançado em 2014, no Festival de Sundance, "Camp X-Ray" marca mais uma boa escolha de Kristen Stewart em sua carreira, além de revelar o talento do diretor estreante Peter Sattler.

por Fernando Labanca

Stewart interpreta Cole, uma jovem que resolve largar sua cidade pacata para realizar um trabalho como soldado na base de Guantánamo, em Cuba, anos após o atentado de 11 de setembro. Sua função, ao lado de outros iniciantes, é vigiar os detentos, que são mantidos presos por serem acusados de terrorismo, e que constantemente se rebelam ou tentam suicídio. Até que Cole começa, aos poucos, a desenvolver - proibidamente - uma relação de amizade com um dos detentos, Ali Amir (Peyman Maadi), que lhe chama a atenção por sua inteligência e por seu gosto pelas artes e leitura.

Durante seus anos de atividade, a prisão de Guantánamo, gerou bastante polêmica e sempre foi vista como algo abusivo e controverso. Era conhecida pela forma desumana como os soldados tratavam os detentos, além de receber diversas denúncias contra suas práticas ilegais. Logo, me surpreende e muito ver um filme norte-americano realizando um filme como este. Se recentemente, tivemos o desprazer de assistir o patriotismo exacerbado em obras como "Invencível" de Angelina Jolie e "Sniper Americano" de Clint Eastwood, que mostram, assim como de costume no cinema do país, uma visão conservadora e manipuladora sobre como seus soldados são heróis. "Marcados Pela Guerra" mostra uma nova perspectiva sobre o pós "11 de setembro", e mesmo com a simplicidade de um produto independente, revela um poder e uma coragem pouco vista, que tem a ousadia de não tomar um lado, de não criar vítimas nem vilões. O roteiro, sabiamente, mostra um pequeno evento e deixa com que as conclusões sejam tiradas por aqueles que assistem. É ousado, também, quando não teme fazer certas críticas, onde cada ataque de fúria do personagem Ali Amir, que é muçulmano, serve como um soco na cara, que não esconde sua crença de que os próprios americanos são os verdadeiros terroristas. O filme trabalha muito bem esta ideia de que existem pessoas e pessoas e de que o meio em que vivem não define caráter. É sobre o encontro dessas duas pontas opostas, desse homem, que no meio de acusados, se diz inocente e dessa mulher que tenta encontrar a dignidade dentro de si e dentro daquele em que passa a acreditar.


"Camp X-Ray" me surpreendeu bastante, não só por suas ideias, mas pelo seu formato também. É o tipo de filme que vai superando expectativas ao seu decorrer, alcançando alguns momentos brilhantes. Se trata, na verdade, de uma obra bem simples, que lança uma premissa em seu início e vai desenvolvendo aos poucos suas intenções, e tudo acontece ali, no mesmo espaço, onde aliás, existem longas cenas onde os personagens se encontram em um local fechado, quase que vivenciando as limitações de um palco de teatro, e os bons diálogos e atores seguram a atenção, resolvendo seus conflitos nessas restritas condições. Ele, dentro da cela. Ela, no corredor. É um encontro curioso e bastante sensível a desses dois indivíduos, suas discussões, seus debates, suas histórias de vida e tudo o que os levaram até ali. Peyman Maadi e Kristen Stewart seguram bem esses momentos. Maadi, mais conhecido do grande público por seu bom desempenho no drama iraniano e vencedor do Oscar "A Separação" (2011) e Kristen, que mesmo com todas as críticas negativas que recebe, continua a construir uma carreira interessante, sempre escolhendo bem seus papéis, onde, inclusive, chegou a revelar que sua opção por viver Cole foi completamente pessoal. Sim, a atriz continua a trazer alguns de seus trejeitos, mas é inegável sua força diante da câmera, principalmente na cena final.

O diretor Peter Sattler também se destaca, ao dar conta deste projeto difícil e em nenhum momento deixa visível o fato deste ser apenas seu primeiro filme. Bastante realista e maduro, o longa ainda reserva alguns momentos de descontração e humor, nos afeiçoando e nos inserindo muito bem na trama. Justamente por isso, seu término é tão duro, é simplesmente devastador. Mas é preciso ver para compreender, o que posso apenas afirmar que ele me destruiu ao entregar este final, que é de uma sensibilidade extrema, de uma força esmagadora. É comovente pela situação em que seus personagens se encontram, no entanto, ao mesmo tempo, nos traz algo de bom, deixa o coração apertado. Diferente de muitos filmes do gênero e com a mesma temática, este não constrói ódio, este constrói paz, crença, esperança e confesso que me senti abraçado por tudo isso. Emocionante. Recomendo e muito!

NOTA: 9





País de origem: EUA
Duração: 117 minutos
Distribuidor: Europa Filmes
Diretor: Peter Sattler
Roteiro: Peter Sattler
Elenco: Kristen Stewart, Peyman Maadi, John Carroll Lynch


11 comentários:

  1. Simplesmente perfeito o filme, amei, no fim eu quis que o "Ali" saísse daquele lugar e fosse livre, mas como se trata de um assunto real, infelizmente ele permanecerá lá para o resto da vida.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Gostei muito do filme também, acabei amando o final. Mas não deixa de ser triste, realmente!
      Obrigado pelo comentário, Thiago!

      Excluir
  2. Amei o filme tb!!!! Adorei a atuação da Kristen Stewart!!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sim! Adorei a atuação dela também!
      Obrigado pelo comentário :)

      Excluir
  3. EU TORCI PARA QUE O FINAL FOSSE DIFERENTE, MENOS TRISTE. ESPERO TER A PARTE 2.

    ResponderExcluir
  4. otimo filme ... demorei para assistir porque não esperava tanto do filme quando vi o trailer, mas realmente é bem impactante de maneira geral, parabéns pela sua critica ! Nota 9 é a minha também .

    ResponderExcluir
  5. Quero o 2!!!! Por favor!!! E de preferencia com eles juntos! Livres!!

    ResponderExcluir
  6. Pelo menos teve uma coisinha feliz no final!!

    ResponderExcluir
  7. essa atriz Kristen Stewart, não me agrada, sempre com essa cara de azeda.

    ResponderExcluir
  8. Adorei o filme e igualmente sua análise! Os protagonistas estão muito bem;envolvem-nos e nos enchem de empatia e melancolia... Além dos diálogos, tbm vi msgs silenciosas, mas fortes: as cicatrizes de Ali, suas fotos desfigurado por espancamento e o ritual de juramento final dos soldados, em que a Emy está apática e nem diz o tal "Liberdade!" E vc tem razão: o final é de arrebentar. Obrigada!

    ResponderExcluir

Deixe um comentário #NuncaTePediNada

Outras notícias