segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Crítica: Além da Linha Vermelha (The Thin Red Line, 1998)

O estonteante cinema de Terrence Malick em em uma das obras mais incríveis sobre a Segunda Guerra Mundial.

por Fernando Labanca

Fato é que Terrence é um dos maiores diretores ainda em atividade e sua trajetória no cinema é uma das mais admiráveis. Responsável pelo clássico e belíssimo "Days of Heaven" de 1978, o cineasta só retornou após um longo hiato de vinte anos com outra obra-prima, "Além da Linha Vermelha". Adaptação do livro de James Jones, o filme, assim como todos os projetos do diretor, passou por um longo processo de pós-produção, sendo que o primeiro corte alcançou 5 horas. Para ser lançado, no entanto, a edição final fez com que vários atores conhecidos fossem meramente descartados como Billy Bob Thornton e Gary Oldman e outros como Adrien Brody, que era um dos protagonistas da história e acabou quase que sem falas. A obra venceu o Urso de Ouro no Festival de Berlim e foi indicada à 7 Oscars, concorrendo inclusive como Melhor Filme e Melhor Diretor.


Nunca fui muito fã de filmes de guerra, talvez por não conseguir ver uma diferença muito evidente entre um e outro. Claro que de tempos em tempos surgem os clássicos e digo sem medo que desde "Apocalypse Now" de Francis Ford Coppola não via uma produção tão fantástica e uma obra tão completa e marcante sobre o tema quanto "The Thin Red Line". A trama acompanha a jornada de vários homens durante a Segunda Guerra Mundial. Sejam eles soldados ou comandantes, o roteiro se aprofunda na mente de alguns deles, detalhando o sentimento de cada um perante a aflição e o medo causado pela destruição, pelo caos do confronto. E assim como já conhecemos do cinema de Malick, a narração em off entra em cena para dar voz a esses personagens, onde dialogam em um texto inspirador e poético sobre a natureza, a morte, a vida e a glória fajuta que é servir um país. 

Em seu início, conhecemos Witt (Jim Caviezel), um soldado desertor que abandonou sua unidade para viver ao lado de nativos no Pacífico Sul. Além de extremamente belo aqueles instantes de convivência e aprendizado, o longa encontra neste momento quase que uma alegoria ao paraíso, à felicidade. O que intensifica a jornada do personagem e nosso olhar sobre os eventos seguintes, quando ele é obrigado a retornar ao exército e ver a morte de perto, ver seus companheiros partirem. Witt, por fim, é aquele elemento que não faz parte, que observa distante, compreendendo que não há sentido no combate, compreendendo o quão vazio todos se tornam. Porque não há nada de glorioso na Guerra, ninguém ali se torna herói, ninguém enobrece, só há a destruição e almas envenenadas. O olhar doce e a bondade intrínseca existente na performance de Caviezel é um grande contraste com todo o resto, que segue apenas pela curiosidade de saber o que há no último suspiro, se haverá ainda uma chance de reencontrar a beleza.

Durante todo o filme é possível encontrar algum rosto conhecido. De fato, a produção conseguiu reunir um time poderoso mas que por escolha do diretor apenas alguns conseguiram ter mais destaque, como Caviezel, Nick Nolte, Elias Koteas, Sean Penn e Ben Chaplin. É muito interessante o fato de vários personagens terem voz, nos dando a chance de conhecer diferentes pontos de vista sobre a Guerra, diferentes formas de encarar tudo aquilo e Malick sabe fazer isso como ninguém. Essa delicadeza em sobrepor palavras em imagens e como ele vai alterando o sentido daquilo que vemos. É bonito ouvir tudo o que o filme tem a dizer, mesmo que relate sobre a crueldade, sobre o caos de uma luta sem sentido. Ele encontra poesia em sua história, não por ver beleza na Guerra, mas por ver beleza nos indivíduos que a compõe, no lado humano de cada um. Ainda assim, o diretor não esquece as boas sequências de ação e realiza cenas marcantes, muito bem coreografadas e muito bem filmadas. Some a tudo isso a brilhante composição de Hans Zimmer para a trilha sonora. 



"Além da Linha Vermelha" é um filme grandioso, repleto de bons momentos. É aquele cinema raro, que hipnotiza durante suas quase três horas de duração, que fascina por cada detalhe, cada diálogo. Um dos filmes mais fantásticos já feito sobre uma Guerra. Terrence Malick é um gênio e fez aqui não só um de seus melhores trabalhos como um clássico na história da sétima arte, que merece ser encontrado e apreciado. Uma obra-prima!

NOTA: 9,5





País de origem: EUA
Duração: 170 minutos
Distribuidor: 20th Century Fox
Diretor: Terrence Malick
Roteiro: Terrence Malick
Elenco: Jim Caviezel, Nick Nolte, Sean Penn, Elias Koteas, Ben Chaplin, Woody Harrelson, Thomas Jane, Adrien Brody, John Travolta, John C.Reilly, John Cusack, Jared Leto, Miranda Otto, George Clooney





Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe um comentário #NuncaTePediNada

Outras notícias