
Por Fernando Labanca
Will (Clive Owen) e Lynn (Catherine Keener) são casados e
vivem com seus três filhos. Annie (Liana Liberato), a filha do meio, mantém uma
relação amigável com seus pais, relatando grande parte de suas experiências,
inclusive que está conversando com um garoto pela internet, Charlie, de
dezesseis anos. A cada vez mais, ela se sente atraída pelas palavras deste
jovem desconhecido, eis que certo dia, quando seus pais não estão em casa,
decide encontra-lo em um shopping, entretanto este encontro acaba arruinando sua vida
para sempre. Muito mais velho do que
havia revelado, ele a convence de suas mentiras e a leva para um hotel. É este o início de seu pesadelo.

Muitas pessoas já haviam comentado da história deste filme
comigo, no entanto, ainda assim consegui me surpreender com “Confiar”, isso
porque, a trama envolve muito mais do que só a garota inocente sendo abusada
sexualmente por um estranho que conheceu pela internet. Até aí já é bem
chocante, porém, o roteiro vai muito além. Este é apenas o início de uma trama
bem elaborada, complexa, que envolve investigações do FBI, o choque inicial dos
pais e a relação que estes tem com o acontecimento. Mas o que mais surpreende
no desenvolvimento da história é a personagem Annie, que não aceita ter sido
uma vítima, acredita que o ocorrido foi um gesto de amor. É este o detalhe que
vai dando um novo rumo para o filme, o tornando mais complicado e também mais
interessante e são esses conflitos imprevisíveis que fazem de “Confiar” um
projeto tão ousado, tão arriscado, vai além do didatismo, da denúncia, consegue
construir personagens complexos, com atitudes tão humanas, tão irracionais, que
nos choca, nos perturba, e com seu realismo, nos sentimos angustiados, de certa
forma, desacreditados na humanidade.

Muitos criticam seu final ou a as atitudes tolas da protagonista. Discordo. A maneira como constroem a personagem é bastante verossímil. Claro que tudo poderia ter sido diferente, de certa forma, ela também cometeu seus erros, mas quem somos nós para julgá-la? Por mais absurdas que sejam suas atitudes, agiu condizente com aquilo que ela acreditava, errada ou não, seguiu sua verdade. E quanto ao final, simplesmente belíssimo, deixou um vazio no peito. Não poderia ter terminado de forma melhor, seu silêncio incomoda, nos faz sentir o vazio que tudo aquilo deixou em Annie, seu trauma, sua vida que nunca mais será mesma. E assim, com sua sutileza, consegue chocar, pois nos faz refletir, pensar em nossa atual sociedade, pensar nos monstros que vivem a solta, pensar em quantos casos parecidos com este filme existiram. Emocionante, intenso, “Confiar” é acima de qualquer função social, um ótimo drama. Recomendo.
NOTA: 8,5
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