
Por Fernando Labanca
Muitos apontam seu fracasso na época, devido a sua trama um
tanto quanto absurda, que chocou a sociedade, pois não estavam preparados para
ver o relacionamento amoroso de um jovem de vinte anos com uma senhora de
setenta e nove. Sim, isso é muito absurdo e justamente por isso torna a obra
tão marcante e tão única.
Conhecemos Harold Chasen (Bud Cort), um jovem rico e
solitário, que vive com sua mãe separada, e tem um estranho vício, executar
falsos suicídios, além de visitar regularmente funerais de desconhecidos. É
numa dessas visitas que ele conhece Maude (Ruth Gordon), uma senhora que tem
este mesmo costume, entretanto, diferente dele, é extremamente de bem com a
vida, faz sempre o que lhe vem a cabeça, sem se importar com o que é errado ou
não. E com aquele clássico pensamento de “viver cada dia como se fosse o
último”, Maude vai apresentar a Harold o que é vida, viver intensamente através
da arte, da música, é então que dessa inusitada amizade surge o amor, o
problema é que a mãe de Harold está a procura de uma mulher para ele se casar e
Maude, definitivamente, está longe de ser o que ela espera para seu filho.
Para uns, um dos mais belos e sinceros filmes da década de
70, para outros, uma das maiores histórias de amor que o cinema já viu. Meu
repertório não é tão grande para fazer essas afirmações, mas posso afirmar que
“Harold e Maude” foi um dos romances mais originais que já vi e com sua trama
bizarra, absurda e inusitada, acaba que despertando sentimentos novos, abrindo
possibilidades jamais vistas e que o cinema nunca mais teve a ousadia de
repetir, não de forma tão incrível, tão sensível. E a construção de seus
personagens é tão humana, relatando sentimentos cabíveis para nossa atual
sociedade, fazendo com que a obra se torne atemporal, compreensível aos nossos
olhos, nos afeiçoamos aos personagens e as situações ali mostradas. Isso
porque, o diretor Hal Ashby, não sei afirmar se era um vanguardista, mas com
certeza, realizou um filme que muito se assemelha ao cinema contemporâneo, a
construção de seu protagonista e suas questões existencialistas, os diálogos
ágeis, a naturalidade entre os atores e principalmente o uso da trilha sonora,
acaba acentuando esta impressão, com belas canções do folk acústico de Cat
Stevens, onde músicas como “Don’t Be Shy” e “If You Want to Sing Out, Sing
Out”, compostas para o filme, funcionam bem na tela e são relevantes para a
trama. Curiosamente o álbum oficial de “Ensina-me a Viver” somente fora lançado
em 2007.


NOTA: 9
Reassisti o filme ontem e vi alguns detalhes que não tinha percebido da primeira vez em que o vi, há alguns anos: Maude (Marjorie), na verdade, é uma sobrevivente de um campo de concentração. Há um único momento em que ela chora, e se lembra de alguém (Ben?) que costumava repreendê-la por ser tão sonhadora... Mas, logo em seguida, ela faz um movimento para se libertar da tristeza e começa a cantar. Também sempre fiquei confusa quanto ao final - Harold mata seu lado triste, ao lançar o carro no precipício, e fica com o lado alegre de Maude, que é o banjo? Acho que essa foi a melhor definição que encontrei até agora. É um filme muito delicado, nota dez.
ResponderExcluirO humor negro do garoto com a morte é irresistível.
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