terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Crítica: Três Anúncios Para um Crime (2017)

Um dos grandes destaques do Oscar 2018, "Três Anúncios Para um Crime" é tudo aquilo que não  se espera dele. É revigorante, imprevisível e surpreendentemente divertido. 

por Fernando Labanca

Tenho acompanhado o crescimento do diretor e roteirista Martin McDonagh e confesso que me deixa feliz ver onde ele chegou. Suas comédias britânicas "Na Mira do Chefe" (2008) e "Sete Psicopatas e Shih Tzu" (2012) não foram exemplo de sucesso de público, mas definitivamente, fugiam do lugar comum. Era nítido que por trás desses excêntricos projetos estava alguém que pensava além, adentrava em um universo que o cinema ainda desconhecia. "Três Anúncios Para um Crime" é o ápice desta sua pequena jornada e apesar de ser seu produto mais maduro e denso, ele não ignora o humor, que não só torna sua trama pesada mais digestiva, como prova seu talento como escritor. Logo que temos aqui uma aula de roteiro, que espanta pela qualidade narrativa, desde seus brilhantes diálogos até a fantástica composição de cada personagem.


Um dos pontos mais interessantes da obra é que ela segue em uma crescente. São poucos filmes que conseguem isso. Lançar uma pequena ideia em seu início e transformá-la em algo grande, de proporções inimagináveis. Nunca decai, bem pelo contrário, se torna cada vez mais instigante, mais forte, mais impactante. O longa começa quando Mildred Hayes (Frances McDormand) decide alugar três outdoors fixados em sequência em uma importante rodovia para denunciar o descaso que a polícia local teve com o brutal assassinato de sua filha, logo que o culpado nunca fora encontrado. No entanto, esta pequena atitude começa a afetar a vida de várias pessoas, principalmente do delegado Willoughby (Woody Harrelson), que sofre de um câncer terminal.

"Três Anúncios Para Um Crime" é muito mais do que uma ótima premissa. O filme vai revelando aos poucos excelentes surpresas que tornam a experiência de vê-lo cada vez mais absurda, mais prazerosa. É incrível como a cada nova informação, a trama segue em uma direção não prevista  e transforma nossa olhar sobre a situação, transforma nosso julgamento para com cada indivíduo ali retratado. Nenhum deles parece digno de salvação, porém, nenhum deles merece a avaliação que lhes é dada de imediato. Estão todos em constante mudança, em constante evolução. A genialidade está presente justamente aqui, nesta habilidade de McDonagh em tornar seus personagens em seres tão complexos e tão possíveis de existir. A nenhum deles é negado a chance de falhar e eles falham, no entanto, dentro de cada ato cruel e mal intencionado, enxergamos em cada um deles um passado miserável, encontramos humanidade, encontramos uma estranha e inevitável identificação. 



Me encanta a forma como a comédia foi inserida aqui. É muito mais do que um mero alívio a sua história indigesta, que fala sobre vingança, assédio, estupro e nos revela a violência sem qualquer tipo de censura. O roteiro encontra humor  com naturalidade, parece fazer parte daquela rotina, daquelas pessoas e até mesmo a estupidez é trabalhada com espontaneidade, sempre longe do caricato, do riso fácil. Desta forma, não poderiam ter selecionado três atores mais competentes para este jogo do que Frances McDormand, Woody Harrelson e Sam Rockwell. Frances é magnífica, há uma força estrondosa em cada cena que ela realiza e Harrelson, que sempre soube lidar bem com a comédia e o drama, encontra o tom certo para compor este belo coadjuvante. Rockwell ressurge às telas de maneira irreparável. Sua passagem pela obra explodiu meu cérebro, tamanho o brilhantismo dele em compor um personagem tão fantástico. O elenco ainda ganha ótimos reforços como John Hawkes, Lucas Hedges e Caleb Landry Jones

"Três Anúncios Para um Crime" perde um pouco na direção, onde Martin McDonagh não consegue encontrar nas imagens a grandeza que a história alcança, a grandeza que seu roteiro merecia. Apesar disso, fecho dizendo que o filme é meu favorito dentre os indicados ao Oscar deste ano, por toda sua ousadia, por sua força e originalidade. Durante seus excelentes minutos estive ali, estático, querendo ver mais daquela loucura e querendo ver se haveria limite para tudo aquilo. Felizmente não há e o filme só cresce, só melhora e só nos mostra motivos para apreciá-lo. Sua engenhosa trama nos choca mas também nos emociona por estarmos diante de algo tão marcante, tão cheio de energia e com potencial para ser lembrado daqui muitos anos, independente dos prêmio que levar para casa. 

NOTA: 9,5



País de origem: EUA, Reino Unido, Irlanda do Norte
Duração: 115 minutos
Distribuidor: Fox Film do Brasil
Diretor: Martin McDonagh
Roteiro: Martin McDonagh
Elenco: Frances McDormand, Sam Rockwell, Woody Harrelson, Lucas Hedges, Caleb Landry Jones, Peter Dinklage,  John Hawkes, Abbie Cornish

3 comentários:

  1. Um filme que vai fazer você querer mais depois do final. Assisti hoje e ainda estou digerindo toda a injustiça e crueldade que ele apresenta, de certa forma tão crua e ao mesmo tempo tão natural. Gostei da analise :)

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    1. Obrigado pelo comentário...que bom que gostou da análise!

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  2. Também era meu Favorito. Uma pena.

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