quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Crítica: Por Trás dos Seus Olhos


Tudo o que os olhos dizem.

por Fernando Labanca

"Por Trás dos Seus Olhos" é um filme ousado. Preciso começar dizendo isso. O diretor Marc Forster (Em Busca da Terra do Nunca, Guerra Mundial Z) não procura caminhos muito fáceis aqui e o filme ganha ao ilustrar tão bem as sensações de se viver na pele da protagonista. Ele vem de uma carreira irregular, transitando entre gêneros e produções de tamanhos diversos. Mas uma coisa é incontestável sobre Forster: ele sempre está a procura de uma inovação visual para dizer algo. Geralmente ele erra, mas essa sua inquietação como realizador não deixa de ser admirável. 

É uma obra sensorial, que busca, através de imagens, expor o desconforto e a fragilidade de estar na pele de Gina, interpretada por Blake Lively. A personagem passou grande parte da vida sendo cega e é brilhante os instantes que o filme ilustra sua rotina. Através de ruídos, cenários abstratos e uma excelente montagem, conseguimos sentir o que ela sente e é perturbador e claustrofóbico. A trama segue quando surge uma cirurgia em seu olho e a chance de uma nova vida é anunciada.


Casada, a personagem, enquanto cega é completamente dependente do marido, James (Jason Clarke). Eles vivem em Bangkok, um lugar distante de tudo, que os tornam estranhos, rodeados por uma cultura e uma língua que desconhecem. Mais do que guiá-la neste mundo solitário, James decide por ela. É então que o filme revela sua verdadeira face, quando Gina começa a enxergar e, a partir de então, passa a ter suas próprias decisões, escrever seu próprio caminho. É extremamente conflituoso essa situação que o roteiro coloca este casal. Dela que encontra a independência, o amor próprio e dele que ao perceber tudo isso, se mostra um grande admirador do controle, de tê-la em sua mão. É interessante como tudo isso é construído, mostrando em diferentes aspectos, seja no sexo, seja em situações corriqueiras como um simples ato de escolher uma roupa ou pintar o cabelo. Quanto mais ela cresce, mais ele diminui, perde importância, fragilizando, assim, sua masculinidade tóxica. No fim, o filme que parecia ser sobre a cegueira da personagem, acaba sendo sobre seu renascimento e como isso afeta aquele que dizia estar apoiando. Este embate silencioso entre os dois tornam o filme em um thriller potente que espanta pelas atitudes de seus protagonistas, tão falhos e desconfortavelmente humanos. 

"Você consegue ver o amor que está em meu coração quando olha profundamente em meus olhos."

"Por Trás dos Seus Olhos" peca neste inseguro roteiro, que parece saber o que quer dizer, mas nunca caminha pelos melhores percursos. Não há muito foco aqui, também, e se perde facilmente em sequências sem muito valor. Dessa forma, o filme acaba não sendo tão marcante quanto prometia ser. Há ótimas intenções e uma boa direção. Fotografia e edição também se destacam. Não há química alguma entre Blake Lively e  Jason Clarke, o que no fim, estranhamente, acaba sendo bom, talvez porque o obra é justamente sobre o como eles deveriam estar distantes. A última sequência, aliás, é um pouco confusa, mas finaliza com uma sensibilidade surpreendente com a canção cantada por Gina, bela e reveladora. Vejo uma certa poesia nesse filme, possui uma delicadeza fascinante e é lindo como o roteiro decide, por fim, resolver seus maiores conflitos em uma canção. Tudo está nos olhos da personagem, seu amor, seu rancor, tudo o que perdeu e tudo o que acabou ganhando. Está todo seu sentimento. Que ótimo, então, ter uma atriz como Lively. Mais do que beleza e carisma, ela carrega muito coisa em seu olhar e um potencial, infelizmente, pouco aproveitado pelo cinema. 

NOTA: 7,5


País de origem: EUA
Título original: All I See Is You
Ano: 2017
Duração: 109 minutos
Distribuidor: Paris Filmes
Diretor: Marc Forster
Roteiro: Sean Conway
Elenco: Blake Lively, Jason Clarke

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