"Wonderstruck", no original, significa maravilhado. Um título pretensioso que logo remetemos a sua aventura cheia de elementos deslumbrantes, feitos para encantar os olhos. Baseado no livro homônimo de Brian Selznick, que aqui também assina o roteiro, a obra muito nos lembra outra adaptação do autor, "A Invenção de Hugo Cabret". Com cenários lúdicos, maquinários retrô e seu tom de fábula infantil, nitidamente estamos falando do mesmo criador. E da mesma forma que Scorsese aproveitou para homenagear o início do cinema em 2011, Todd Haynes (Longe do Paraíso, Carol), que dirige este, acaba entregando um produto nostálgico e, também, uma bela homenagem ao cinema antigo, mudo e preto e branco, que se torna ainda mais encantador por colocar a atriz Millicent Simmonds, que é surda na vida real, para protagonizar esses instantes. Estamos falando de um diretor extremamente caprichoso, que enriquece cada pequeno detalhe e nos transporta no tempo. De fato, parece que estamos vendo um filme de anos atrás.
A obra é dividida entre duas histórias e ao seu decorrer vamos percebendo que existe um belíssimo elo entre elas. É interessante o tratamento dado pelo diretor em cada um desses atos. Esteticamente muito distintos, é na eficaz montagem que as tramas se fundem, onde o tempo inteiro estão se dialogando mesmo que aconteçam em épocas tão diferentes. Na primeira delas, em 1977, o pequeno Ben (Oakes Fegley) foge, depois de um acidente que o deixou surdo, e embarca em uma jornada para encontrar seu pai, que é um mistério que o atormenta desde que sua mãe faleceu. Já em 1927, a jovem surda Rose (Millicent Simmonds) foge para encontrar uma famosa atriz na qual tem uma ligação muito forte. É bonito essas coincidências entre as histórias, onde as duas crianças - que não podem escutar mais nada - estão fugindo de algo e a procura de um lar, a procura de um lugar no mundo, e mesmo que elas só se entrelaçam no fim, é como se fizessem parte de uma única aventura.
O grande erro de "Sem Fôlego" é florear demais o que, de fato, nem é tão interessante assim. Tenho a sensação que ele daria um belo curta-metragem, mas bem pelo contrário, decidem fazer um filme de longas duas horas, o que acaba ficando muito evidente a falta de conteúdo para tanto tempo de duração. Sua trama é simplória, mas recheiam com diversos artifícios para parecer mais atraente. Visualmente é lindo sim, mas o cuidado e riqueza da produção não é capaz de esconder o vazio deixado pelo roteiro. Ainda que seja escrito pelo próprio autor do livro, Brian falha ao adaptar o texto para o cinema, que acaba por oferecer uma aventura insossa, de boas intenções, mas desinteressante. Ele peca ao adaptar suas ideias, se perdendo em momentos que se deletados não fariam falta. A sorte foi ter as mãos de Todd Haynes como diretor, que encontra saídas inovadoras na tela grande, driblando as dificuldades da adaptação, oferecendo uma sequência de imagens deslumbrantes. A trilha sonora também é fantástica e a fotografia, assim como a produção no geral, acerta ao ilustrar tão bem cada época retratada no filme.
O elenco mirim liderado por Oakes Fegley e Simmonds é o grande destaque aqui, se esforçam mesmo quando o roteiro não ajuda. Confesso que assistir "Sem Fôlego" foi uma experiência estranha. Tentei me convencer grande parte do filme que estava diante de algo incrível. Aliás, sua primeira metade até é. Mas a cada minuto que passava eu ia perdendo minhas próprias justificativas e compreendendo a fragilidade de tudo aquilo. É lindo de ver sim, mas chato demais de acompanhar. Queria me sentir maravilhado como o título nos anuncia, no entanto, só conseguia sentir felicidade ao ver seu aguardado fim chegar.
NOTA: 6
País de origem: EUA
Título original: Wonderstruck
Ano: 2017
NOTA: 6
País de origem: EUA
Título original: Wonderstruck
Ano: 2017
Duração: 117 minutos
Distribuidor: H20 Films
Diretor: Todd Haynes
Roteiro: Brian Selznick
Elenco: Oakes Fegley, Millicent Simmonds, Julianne Moore, Corey Michael Smith, Jaden Michael, Tom Noonan, Michelle Williams
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