Produzido pela Netflix (que por alguma razão que desconheço, não chegou no catálogo brasileiro), "A Professora do Jardim de Infância" é um remake de um filme israelense e se trata de um produto raro da gigante do streaming. Inteligente, nada convencional e desconfortavelmente profundo. É bom quando nos deparamos com longas como este, que nos faz refletir sobre sentimentos e situações quase nunca debatidos no cinema. Melhor ainda quando é colocada, no centro de tudo isso, uma personagem feminina grandiosa, talvez uma das mais fortes deste ano.
A professora Lisa Spinelli (Maggie Gyllenhaal) é uma mulher cansada. Mãe de filhos que não mais controla e estagnada em uma carreira que não a leva para nenhum outro ponto. Todos os dias leciona para diversas crianças e vê, naqueles rostos inocentes, uma vida inteira pela frente e cheia de oportunidades. É assim que algo, de repente, se torna sua maior motivação e, posteriormente, sua obsessão: um de seus alunos se desponta como prodígio, recitando belos poemas com uma naturalidade surpreendente. Deste talento improvável, Lisa decide apostar suas fichas no garoto, explorando sua criatividade e o fazendo acender no mundo de tantas luzes apagadas.
"Talento é uma coisa tão frágil e rara e nossa cultura faz de tudo para acabar com ele. Mesmo aos quatro ou cinco anos, eles vem para a escola vidrados nos celulares, falando apenas de TV e vídeo games. É uma cultura materialista que não favorece a arte, ou a linguagem ou a observação."
"The Kindergarten Teacher" é um filme inquietante. Toda cena parece revelar algo e nos faz sentir inúmeras sensações diferentes a cada passo que avança. Seu início é, de certa forma, tocante. Ver aquela mulher ali, exercendo aquele papel tão singelo e único na vida daquelas crianças é realmente belo de se ver. Por isso, tudo o que acontece a partir dali é estranhamente desconcertante, porque nunca estamos preparados para o que vem adiante. É assim que a obra consegue, de forma brilhante, ser doce e perturbadora ao mesmo tempo. Há algo de incômodo na relação obsessiva entre a professora e o aluno e nunca sabemos exatamente o que é mas sempre evitamos pensar o pior. Durante toda a trama, estamos julgando as ações daquela solitária mulher e tentando compreender exatamente onde ela pretende chegar. Até que ponto os desejos pessoais dela são saudáveis ou prejudiciais àquela criança é a reflexão que nos vem a todo tempo e o que torna a história tão profunda, complexa e inesperadamente tensa.
Maggie Gyllenhaal torna o filme ainda mais especial, ainda mais grandioso. É uma performance potente e ela entrega um de seus melhores momentos no cinema. A sequência final é soberba e a atriz traz tanta alma à sua personagem que, por alguns instantes, esquecemos que aquilo é ficção, tamanha a verdade com que ela se entrega. A obra termina no grande clímax e nos deixa ali, desolados, silenciados por sua força. É triste, é real e nos faz pensar e sentir tantas coisas ao mesmo tempo, que se torna difícil digerir ou de chegar a uma conclusão imediata. Este é o poder dos grandes filmes e este é um grande filme.
NOTA: 8,5
País de origem: EUA
Ano: 2018
Duração: 96 minutos
Distribuidor: -
Diretor: Sara Colangelo
Roteiro: Sara ColangeloDiretor: Sara Colangelo
Elenco: Maggie Gyllenhaal, Gael García Bernal, Parker Sevak, Rosa Salazar
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