quarta-feira, 3 de julho de 2019

Crítica: Vox Lux - O Preço da Fama

O show promissor de um filme inacabado. 

Segunda empreitada do jovem ator Brady Corbet como diretor, que se mostra ainda muito promissor. "Vox Lux" chegou a estar na disputa por um Leão de Ouro no último Festival de Veneza e, na época, muito se falava sobre suas chances no Oscar. Infelizmente, os voos do filme foram mais baixos que o esperado, tendo um lançamento bem tímido no Brasil, inclusive. Natalie Portman, que estampa o cartaz, é quase que uma propaganda enganosa. Para quem espera ver um filme protagonizado por ela pode se decepcionar bastante. Sua aparição na tela é tardia e surge justamente quando a obra já perdeu completamente a linha. É quase que ingrato ver a atriz tão entregue em um papel que pouco explora sua energia e intensidade. Aliás, é triste ver um produto com uma premissa tão intrigante ir morrendo cena após cena e algo que, de início, parecia dizer tantas coisas, acabar tão vazio, tão sem propósito. 

Dividido em três capítulos, o longa narra a peculiar trajetória de uma diva pop com tons bíblicos. Willem Dafoe empresta sua voz e engrandece cada pequeno ato da vida de Celeste, esta que após um evento trágico, renasce para dizer ao mundo sua palavra. Quando jovem (Raffey Cassidy), sobreviveu a um massacre em sua escola e com a ajuda de sua irmã (Stacy Martin), que compõe músicas, decidiu usar uma canção para expor suas dores. O público aceitou tanto o que ela tinha a dizer que a transformou em uma artista em ascensão. Duas décadas depois, Celeste (Natalie Portman) tenta manter sua carreira caótica que envolve intrigas familiares, álcool e drogas.


Se no começo da obra, "Vox Lux" parece fazer um paralelo entre a carreira da diva com a história da política norte-americana, logo essa premissa se desfaz e ficamos buscando algum significado para tudo aquilo, que envolve desde referências religiosas até crítica ao mundo das celebridades. São inúmeras intenções jogadas na tela, que no fim, provam não ter propósito algum. Tudo morre na praia, muito antes de chegar ao destino final. Ainda que a direção de Corbet torne tudo um belíssimo evento a ser apreciado e a fantástica produção nos faça acreditar no universo, com todas as suas cores, excessos e breguice, é difícil se envolver com qualquer coisa que ele crie na tela. É um roteiro confuso, caótico e que até parece seguir um rumo interessante na primeira hora, no entanto, assim que a obra indica um crescimento na narrativa, surpreendentemente, tudo se perde e o longa despenca ladeira abaixo, como se o único propósito fosse colocar Natalie Portman dançando em seu desfecho. Não há nada que sustente seu ápice e nada que não nos faça questionar constantemente as razões para esse filme ter sido feito. 

Natalie Portman, por sua vez, surge bastante caricata. Claro, faz parte da proposta da obra e é impossível não admitir o quão brilhante ela é em cena. Confesso que é um papel que jamais imaginaria a atriz fazendo e há uma entrega admirável. Justamente por isso é decepcionante sua "participação de luxo", porque ficamos a espera de mais e de repente o filme acaba, sem explorar o quão longe ela poderia ir com a personagem. Fica então, a responsabilidade de protagonizar a obra para a jovem Raffey Cassidy, que já provou ser talentosa em outros filmes, mas não há muito o que ela fazer em cena, entregando uma atuação um tanto robótica. Uma das escolhas mais equivocadas, porém, foi colocá-la para interpretar tanto a Celeste nova como sua filha, anos depois. Nem as novelas fazem mais isso e é bizarro e incômodo ver isso em um filme atual. Produzido pela cantora Sia, a artista foi responsável ainda por compor todas as canções de "Vox Lux". As músicas são propositalmente ruins (e é curioso notar a semelhança com o que ouvimos hoje no pop), logo, não há explicação para o envolvimento da cantora nesse projeto. Não sei qual a vantagem dela estar aqui ou do filme ter ela para compor um material tão péssimo. Ao menos canções como "Wrapped up" ficarão na mente. 

"Vox Lux" soa como um rascunho. Um rascunho de algo promissor mas inacabado. Seu término é triste porque entrega mais do que um final aberto. Entrega um filme vazio, cheio de altas pretensões e pouco conteúdo. Temos aqui um produto refinado, bem realizado e um tanto quanto inovador. Sua narrativa não é óbvia, há inteligência em muitas de suas criações. É frustrante porque as expectativas criadas no incio nunca se alcançam. Ainda é possível tirar algumas reflexões, no entanto, a sensação de tédio e decepção é o que ecoa.

NOTA: 6



País de origem: EUA
Título original: Vox Lux
Ano: 2018
Duração: 110 minutos
Distribuidor: Paris Filmes
Diretor: Brady Corbet
Roteiro: Brady Corbet
Elenco: Raffey Cassidy, Natalie Portman, Stacy Martin, Jude Law, Willem Dafoe, Jennifer Ehle




Um comentário:

  1. "Vox Lux - O Preço da Fama" é sobre atos e consequências dentro da vida das pessoas e de como elas podem influenciar os rumos de suas próprias vidas. Veja a minha analise completa no meu blog de cinema. Acesse: https://cinemacemanosluz.blogspot.com/2019/03/cine-dica-em-cartaz-vox-lux-o-preco-da.html

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