terça-feira, 9 de julho de 2013

Crítica: O Grande Gatsby (The Great Gatsby, 2013)

Baseado na obra de F.Scott Fitzgerald, "O Grande Gatsby" é a quarta versão para os cinemas, dessa vez, dirigida pelo australiano Baz Luhrmann, de "Romeu + Julieta" e "Moulin Rouge", conhecido por seus exageros e suas formas caricatas. Aqui, ele insere todas essas suas peculiares características e nos entrega muito mais do que um remake ou uma adaptação, nos entrega um filme único, cheio de personalidade e com seu visual deslumbrante, marca, um dos filmes mais belos que passou pelo cinema este ano.

por Fernando Labanca

Nick Carraway (Tobey Maguire) é um aspirante escritor que vai parar em Nova York em busca de seu próprio sonho americano. É um período de grande prosperidade no país, onde as festas eram maiores e a moralidade já não era mais tão questionada, é assim que ele conhece Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio), seu vizinho que mora em uma belíssima mansão, palco das melhores festas, onde a cidade se encontra sem nem ao menos saber quem é o dono de tudo aquilo. Certo dia, Nick recebe um convite de Gatsby, e como já sentia um certo fascínio por ele, nasce assim uma grande amizade, é neste momento em que ele enfim compreende seus motivos, onde na verdade, o que este misterioso homem desejava era se encontrar com uma mulher, sua verdadeira paixão, Daisy Buchanan (Carey Mulligan), que por sua vez, era prima de Nick e casada com o milionário Tom (Joel Edgerton). E vivendo a margem destes acontecimentos, Nick Carraway vai tentar unir este casal, mesmo sabendo das consequências que aquilo traria para a vida de todos os envolvidos.


Quando Fitzgerald escreveu "O Grande Gatsby" não recebeu seu devido valor na época, foi depois de muitos anos que os norte-americanos começaram a vê-lo com um marco em sua literatura, e este reconhecimento o levou aos cinemas, sendo que até então a obra mais marcante havia sido o de 1964, dirigido por Jack Clayton e protagonizado por Robert Redford. É até compreensível o fascínio da sétima arte por esta obra, o mistério sobre quem é exatamente Jay Gatsby, o retrato amargo do sonho americano e um romance quase que shakespeariano, com direito a um final trágico e marcante. E longe daquele tradicional comportamento em transpor histórias de época para as telas, surge um renovado Baz Luhrmann, totalmente dedicado em fazer o que poucos filmes conseguiram este ano, ou o que quase nenhum de época teve a ousadia em fazer. Por isso, é difícil vê-lo como mais um sobre Gatsby ou como um remake, é um trabalho totalmente original, que foge e muito do que já conhecemos, Luhrmann inova, trás um visual deslumbrante em prol de um filme difícil de ser esquecido. Há, porém, muito de "Moulin Rouge" aqui, seja do protagonista derrotado ao inicio prestes a contar uma história trágica, seja dos movimentos das câmeras ou das referências estéticas das festas mostradas. Existe um exagero constante, quase que caricato, muitos apontarão como algo negativo, mas vejo de outra forma, vejo como uma obra de um diretor que foge a todo instante em nos trazer algo ordinário, "O Grande Gatsby" poderia, com sua história, ser só mais um filme de época, no entanto, ele é grandioso, ousado, diferente de tudo o que vi nos cinemas este ano.

"Você vai ficar aí só olhando, ou vai participar?", pergunta Tom Buchanan a Nick Carraway na primeira metade do filme. É assim que vive este personagem, o coadjuvante de sua própria jornada, que se vê em um constante dilema, sempre se sentindo dentro e fora dos acontecimentos de sua vida. É Nick, o único que sabe de toda a verdade por trás de todas as especulações, por trás de quem é Gatsby e de seu amor por Daisy, por trás das traições de Tom. É interessante a relação que ele tem com os demais personagens, sempre a margem de tudo ainda que seja o elo entre todos, a história precisava dele para prosseguir, mesmo ele estando por fora. 

E assim como Nick, nós, como público, vivenciamos tudo aquilo, sabemos o que há por trás de cada sentimento não revelado e sofremos por isso, entretanto, também desfrutamos de cada cena e graças a Baz Luhrmann que fez cada sequência parecer um sonho, as festas que são um deleite para os olhos e ouvidos e cada momento do filme que é tão belo que foi difícil se desapegar, acreditar que uma hora iria terminar, é tudo bom demais só para ver, dá mesmo é vontade de querer participar, vivenciar toda aquela beleza, beleza que só o cinema pode nos presentear, e que bom que Luhrmann compreendeu isso e explorou o máximo essa função da sétima arte. Os figurinos foram os grandes destaques, belíssimos e que dão a sensação de que foram projetados para cada ator, pois ficam perfeitos em cada um deles, os cenários, as locações, tudo bem pensado, bem colocado em cada cena, construindo um visual tão rico em detalhes, demonstrando um cuidado quase que perfeccionista do diretor e de toda a equipe. A trilha sonora também chama a atenção, por ser moderna, que espanta de início, mas logo demonstra ser mais uma ousadia do filme, composta por Jay.Z, a trilha ainda trás nomes como Florence + The Machine, Lana Del Rey, Jack White e Beyoncé.  

Por trás deste visual, há um elenco interessante, que fazem desta impressionante experiência valer muito mais a pena. Leonardo DiCaprio, por mais difícil que seja acreditar, surpreende, há muito tempo não o via interpretando este tipo de personagem, romântico, que faz de tudo por aquela que ama, é muito interessante o que ele faz de Gatsby, suas expressões, seus olhares, um jeito único, de maneira muito distinta de todas as suas outras atuações. Assim também é com a belíssima Carey Mulligan, que encanta cada cena, com sua voz firme e doce, que vai muito além de "só um rostinho bonito", ela está simplesmente impecável com Daisy Buchanan. Tobey Maguire não tem muito espaço para brilhar como o restante do elenco, mas não faz feio em cena, faz o que precisava ser feito e faz bem. Joel Edgerton tem a missão de trazer a tensão para a trama, e consegue e com muito êxito e chama a atenção com sua forte interpretação. Outra que se destaca é Isla Fisher, que surge em cena irreconhecível como Myrtle, e mesmo com uma participação menor, é simplesmente inacreditável seu talento e sua capacidade em se transformar em cada filme que faz.

"O Grande Gatsby" é um filme de época como nunca se viu igual, pretensioso, grandioso, inovador. E para minha felicidade, toda a qualidade técnica da obra não ofusca a beleza de sua história, um tipo de romance quase que esquecido, aquele puro, ingênuo, com diálogos bem pensados, que emocionam, que encantam pela simplicidade. E ao seu término, todo aquele furacão de sentimentos que a obra expõe se transforma em silêncio, pois apesar de toda sua energia e agilidade, trata-se uma trama trágica, triste, melancólica, o amargo sonho americano, onde toda aquelas cores e festividade nada mais eram que uma ironia a decadência, sobre o quão vazias eram aquelas pessoas, em busca de um sonho tão frágil que o dinheiro não conseguiu construir. Enfim, belo em todos os sentidos, em seu visual e em suas ideias, "O Grande Gatsby" é mais um marco na carreira de Luhrmann. Inovador, fascinante, encantador e emocionante. Recomendo. 

NOTA: 9






2 comentários:

  1. O FILME É GRANDIOSO!
    TERRÍVEL, A NATUREZA HUMANA, MAIS TERRÍVEL O PODER DO DINHEIRO!
    MAS A BELA MENSAGEM DA "GREEN LIGHT".
    "THE GLORIOUS GIFT FOR HOPE" que fica em nós, e que, apesar de tudo, não devemos perder...

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  2. Adorei o filme! Devo ter assistido pelo menos umas 8 vezes e não canso de parar e acompanhar qdo repete na tv...E cada vez que revejo encontro detalhes e sentimentos que me passaram despercebidos. " Sabia que quando a beijasse minha alma jamais seria livre denovo para brincar como a mente de Deus" .... Magnífico

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