
por Fernando Labanca
Nos anos 50, Henry (JK Simmons), um grande admirador da música, costumava fazer um jogo com seu pequeno filho, Gabriel, onde a cada vez que uma canção tocava ele teria que dizer a que lembrança ela estava ligada. Anos depois, já na adolescência, Gabriel (Lou Taylor Pucci) passou a seguir seus próprios passos, descobriu o rock, passou a questionar o governo e o modo como seus pais viviam, e depois de uma briga com seu pai, decidiu fugir de casa. Quase vinte anos depois, ele reaparece no hospital, diagnosticado com um tumor no cérebro, que o tornou num ser irreconhecível, incapaz de ter alguma memória concreta. É então que Henry, no esforço de se conectar novamente a seu filho, passa a apostar novamente na música, acreditando que ela poderia lhe trazer as lembranças de sua vida novamente, ele contrata uma musicoterapeuta (Julia Ormond), que com seus discos de vinil chega a conclusão que Gabriel apenas respondia à estímulos diante das canções que ele ouvia na juventude, diante de suas músicas favoritas ele reascendia, se tornava consciente, novamente vivo.
"A Música Nunca Parou" é o filme de estreia do diretor Jim Kohlberg, que realiza um trabalho simples, nitidamente feito com pouco orçamento, onde não há muitas variações de locações e cenários. Logo, a obra acaba se sustentando por suas boas ideias e por seu poderoso elenco, que encara os diálogos e engrandecem aquilo que poderia ter sido menor.
Parece sempre haver um elemento chave em cada instante que o torna algo maior, e ter colocado Lou Taylor Pucci e J.K.Simmons como protagonistas foi de grande acerto. Simmons, que ainda não ignora seu carisma e seu bom humor, finalmente entrega uma performance marcante num personagem dramático e seu embate com o Taylor Pucci é magistral, este jovem ator que sempre acaba surpreendendo e nunca, de fato, foi reconhecido, é mais um belo trabalho em sua carreira, a força de seu olhar, a maneira insana e descontrolada, ao mesmo tempo doce com que interpreta Gabriel é fantástica. As coadjuvantes são ótimas também, Cara Seymour e Julia Ormond, ainda que a personagem de Cara, como a mãe, pudesse ter sido mais aproveitada. Além das boas atuações, a obra, assim como a trama exigia, conta com uma ótima trilha sonora, de Beatles com sua épica "All You Need is Love" e Bob Dylan com seu "Mr.Tamborim Man", passando ainda por nomes como Rolling Stones e The Grateful Dead, entre outras bandas e ótimas canções.
O roteiro, ainda que de início dê a sensação de girar e não sair do lugar, acaba surpreendendo. Ao seu final, não esperava sentir o que senti, não da forma como senti, de repente me vi sendo invadido por uma grande emoção. A trama, mesmo que simples, cresce, o drama é muito bem inserido e muito bem guiado pelo roteiro e quando menos esperamos somos só lágrimas assistindo aquele encontro, entre pai e filho. É simplesmente belo o resultado final, intensamente comovente. A ideia da obra é genial, o que existe ali em cena é algo gigantesco, poderoso. A história do pai que perde o filho após uma briga sem sentido, o filho que sempre esteve distante, com sua fuga, essa distância, pela primeira vez se torna concreta. Ao retorno, Henry tenta, não só, trazer as lembranças de volta à mente de Gabriel, tenta restabelecer uma relação que nunca existiu, precisa encontrar seu filho, literalmente. É belíssimo essa relação que nasce entre eles, esta busca por memórias. É interessante como a música surge neste cenário, e como ela é capaz de resgatar sensações passadas, é brilhante então, quando Henry compreende que para conversar com Gabriel, ele precisaria aprender suas canções favoritas, ainda que rejeitasse o gosto musical do filho, apenas por conseguir se aproximar, compreendê-lo, ser o pai que nunca foi, ter o filho que nunca teve. E se no passado não havia afeto entre eles, como consequência, nunca existiram boas lembranças, passa a ser preciso, então, inserir uma nova memória, uma nova sensação, seria necessário uma nova música para estabelecer este novo contato.

NOTA: 9,5
País de origem: EUA
Duração: 105 minutos
Distribuidor: Europa Filmes
Elenco: Lou Taylor Pucci, J.K.Simmons, Julia Ormond, Cara Seymour, Mia Maestro
Diretor: Jim Kohlberg
Roteiro: Gary Marks, Gwyn Lurie
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