Já devo ter dito em algum outro momento, aqui no blog, sobre o quão versátil é o diretor Ang Lee (O Tigre e o Dragão, O Segredo de Brokeback Mountain). A cada novo filme que resolvo conferir de sua filmografia, me deparo com algo novo, um outro tema e sempre acabo me surpreendendo. "Aconteceu em Woodstock" é um de seus projetos menos conhecidos, no entanto, só me fez admirá-lo ainda mais. Aqui, voltamos no tempo e embarcamos em um dos eventos mais importantes da história da música. Mais do que compreender a época, compreendemos os sentimentos daqueles que vivenciaram o Festival.
por Fernando Labanca
O Festival de Woodstcock aconteceu no ano de 1969 e foi um marco para a história da música popular. "Três dias de paz e música", era assim que os jovens organizadores anunciavam o evento que trouxe, numa vasta área ao ar livre, no interior de Nova York, nomes como Janes Joplin, The Who, Grateful Dead e Jimi Hendrix. A trama do filme começa pouco antes do início do Festival, quando o mesmo havia sido barrado na pequena cidade de Wallkill. É então que somos apresentados à Elliot (Demetri Martin), um jovem esforçado que retorna para a casa dos pais (interpretados por Imelda Staunton e Henry Goodman), onde passa a ajudá-los a administrar um pequeno hotel que passa por sérios problemas financeiros. Decidido a reerguer o negócio, Elliot, que sempre foi um grande incentivador da arte no local, resolve entrar em contato com os organizadores do Festival de Woodstock e oferece a pequena aldeia de White Lake como novo lugar do evento. Entretanto, os moradores não aceitam bem a ideia e começam a protestar sobre a "invasão hippie" que estava por acontecer, até se darem conta do quanto tudo aquilo poderia ser lucrativo.
Mais do que um momento marcante para música, o Festival de Woodstock é um símbolo de uma época, de uma conquista, de uma geração. Jovens protestavam contra as guerras e contra o capitalismo, e tentavam construir este universo pacífico, que transbordava amor e solidariedade. É neste contexto que "Aconteceu em Woodstcock" insere seu protagonista, e ao mesmo tem em que a trama resgata este pequeno trecho histórico - nem o que veio antes, nem o que vem depois -, ela também traz este momento de amadurecimento e de descobertas de Elliot. É uma visão mais intimista sobre o que aconteceu, não temos a noção do choque que aquilo surtiu no mundo, mas temos uma pequena ideia, simples e sutil, do que aqueles três dias fez na vida dele, o passo que deu à sua própria aceitação, de compreender quem ele realmente é e dos rumos que precisa seguir. É belo este encontro de si mesmo, diante de sua família tão conservadora e diante de pessoas que procuram exatamente o que precisa, liberdade. E o roteiro acerta muito em seu desenvolvimento e na relação que ele constrói com aqueles ao seu redor, sem necessidade de diálogos emotivos e sem forçar um drama, é tudo leve, gostoso de ver, sem deixar de ser intenso e verdadeiro, são nos olhares e em pequenas atitudes que compreendemos o que todos sentem.
Ang Lee, junto com sua equipe, resgata de forma honesta e extremamente verossímil o Festival. Parece que estamos ali, vivendo aquilo, ao lado daquelas pessoas, curtindo aquela good vibe. E o mais interessante desse resgate foi o fato de que em nenhum momento ele mostra o palco das atrações, não vemos as bandas, nem ouvimos as canções. Vejo isso como um grande acerto de sua obra, porque o Woodstock não era sobre as performances, era sobre o sentimento, sobre estar ali, e o filme consegue com maestria passar essas sensações, compreendemos aquela geração, a cultura e viajamos junto. Como é fascinante estar ali, como a cena em que Elliot passa dentre a multidão parada no transito, enquanto uns protestavam, outros bebiam, outros pediam a presença de Bob Dylan, e mesmo assim, todo mundo vivendo na mesma sintonia. Admirável o cuidado dos envolvidos, desde a seleção da trilha, aos figurinos, às locações, é definitivamente um trabalho fantástico, e através de seu tom quase que documental, acreditamos em tudo o que oferece.
O elenco é outra grande surpresa, não imaginava encontrar tantos rostos conhecidos. Jeffrey Dean Morgan, Paul Dano, Jonathan Groff, Eugene Levy e Mamie Gummer, entre outros. Vemos ainda toda a intensidade de Emile Hirsch, Liev Schreiber incrível como Vilma e o talento indiscutível de Imelda Staunton, que rouba a cena e entrega uma atuação digna de prêmios. Em suma, "Aconteceu em Woodstock" merece uma chance, um filme que surpreendeu e muito, tanto pela ousadia de Ang Lee que realiza, mais uma vez, algo muito diferente, que prova um talento, uma coragem por inovar e uma versatilidade que poucos diretores tem e por toda a produção da obra, pelo cuidado que demonstraram em todo este resgate. Comecei a assistir para a passar o tempo e de repente me vi diante de um filme grandioso, extremamente bem executado, bem escrito, que diverte e de certa forma, encanta por suas mensagens. Recomendo.
NOTA: 9
País de origem: EUA
Duração: 120 minutos
Diretor: Ang Lee
Roteiro: James Schamus
Elenco: Demetri Martin, Liev Schreiber, Henry Goodman, Imelda Staunton, Emile Hirsch, Jonathan Groff, Eugene Levy, Dan Fogler, Mamie Gummer, Jeffrey Dean Morgan, Paul Dano, Kelli Garner
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