O organismo que se apropria do outro.
por Fernando Labanca

Toda a construção da obra é genial, por isso digo que é interessante saber pouco ou quase nada do que se trata. Foi o que fiz e foi uma experiência maravilhosa, me permitindo surpreender com cada pequena reviravolta que o brilhante roteiro oferece. Seus personagens são difíceis de decifrar, o que torna os passos dados por todos eles um caminho sempre imprevisível. Somos apresentados a família Kim, composta por membros desempregados e que se esforçam diariamente para roubar a senha wifi do vizinho ou ganhar um dinheiro fácil. A vida parece ganhar esperança quando a família Park, que vive na riqueza de Nova Seul, cruza com o destino deles. O filho que, ao falsificar documentos, se passa de tutor e professor de inglês para a filha mais velha dos milionários, logo decide criar falsas funções para que seu pai, mãe e irmã passem a infiltrar lá também. Com novas identidades e uma mentira que vai ganhando cada vez maiores proporções, a família Kim se torna parasita, se apropriando de uma realidade que não é deles, dentro de uma mansão que não os pertence.
Por mais errado que tudo seja, é impossível não se encontrar vibrando pelas vitórias das falcatruas da família Kim. É um plano bizarro traçado por eles e torcemos para que tudo dê certo no fim. Somos facilmente cativados pela luta deles, por esta ambição de ter aquilo que ele jamais teriam. É cômico dentro de sua tragédia e isso jamais diminui seu impacto, pelo contrário. Apesar do bom humor, o roteiro sabe a força de suas palavras e entrega um produto potente, agressivo e deliciosamente sádico. Bong Joon-ho desenha essa luta de classes e trilha por diversos gêneros - oscilando de forma harmoniosa entre o pastelão e o thriller - tornando seu filme ainda mais empolgante e saboroso. Além da comédia, existe uma tensão sempre presente, colocando seus personagens em situações extremas, vivendo no limite da barbárie. Com um texto provocativo e crítico, o filme parece sempre caminhar no ápice - onde decai um pouco pelos exageros do final - mas jamais perde sua genialidade e seu poder em dialogar com o público.

É assim que "Parasita" se firma como um dos melhores filmes que tivemos o prazer de conhecer em 2019. É insano, divertido e de boas intenções. Seu final traz um certo amargo, uma dor que reflete em nossa sociedade e nos faz pensar mesmo um tempo depois que acaba. Bong Joo-ho é um cineasta brilhante e merece este reconhecimento que finalmente veio. Este é seu melhor trabalho, deixando marca e impacto com uma obra que poderá ser revisitada e analisada daqui muitos anos.
NOTA: 9,5
País de origem: Coreia do Sul
Título Original: 기생충 / Parasite
Título Original: 기생충 / Parasite
Ano: 2019
Duração: 132 minutos
Distribuidor: Pandora Filmes
Diretor: Bong Joo-ho
Roteiro: Bong Joo-hoDiretor: Bong Joo-ho
Elenco: Choi Woo Shik, Song Kang-ho, Jo Yeo Jung, Park So Dam
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe um comentário #NuncaTePediNada