domingo, 28 de outubro de 2012

Crítica: Hotel Transilvânia (Hotel Transylvania, 2012)

Foi-se o tempo em que filmes de animação tinham um bom roteiro como sua principal arma, onde os estúdios não só se preocupavam com as novas técnicas, havia por trás de tudo, uma grande ideia. "Hotel Transilvânia" vem, assim como as outras animações mais recentes, ilustrar este novo cenário do gênero, excelente no visual, fraco de história.

por Fernando Labanca

Conhecemos este tal de Hotel Transilvânia, onde os monstros curtem suas férias longe dos humanos, seres que os tem perseguido durante séculos. Comandado pelo Conde Drácula, que usa aquele mesmo lugar para cuidar de sua filha, Mavis, no qual está prestes a completar 118 anos. Perdeu sua esposa há muito tempo e desde então, a protege da crueldade do mundo além daqueles portões, no entanto, Mavis sonha em conhecer o mundo. Para completar os 118 anos dela, Drácula conta com a ajuda de seus antigos companheiros, Frankenstein, a Múmia, Homem Invisível, entre outros, para mais uma tradicional e entediante festa. Seus planos mudam por completo, quando um mochileiro pirado, Wayne, vai parar no Hotel acreditando ser uma festa a fantasia, para não por tudo a perder, Conde o faz agir como um monstro também, porém, ele acaba conhecendo Mavis, com quem acaba se apaixonando.


De início a ideia até parece boa, mas não demora muito até tudo se tornar assustadoramente ruim. A premissa é interessante, não há como negar, a história do Conde Drácula como pai superprotetor, as mentiras que ele conta para proteger sua filha, a vontade de Mavis em conhecer o mundo, a relação dela com aquilo que mais desejava conhecer, um humano, sem saber, pois este se faz de monstro, o fato de existir um local onde esses monstros se escondem, enfim, há um roteiro preocupado em detalhes e com essas e outras grandes sacadas o filme nos apresenta uma boa introdução. Eis que a cada cena, a cada nova situação, o roteiro vai mostrando sua fragilidade e o quanto sua boa premissa é desperdiçada, personagens fracos e diálogos que insistem num humor pobre, com direito a piadas relacionadas a arrotos e similares que há anos não fazem mais graça e para piorar às vezes perdem tempo com sátiras que carecem de originalidade, como a cena mostrada de "Crepúsculo", como se nenhum outro filme tivesse feito esta mesma piada. 

Para piorar, temos no comando da animação, Genndy Tartakovsky, o criador de alguns dos maiores sucessos em séries animadas, como "As Meninas Super Poderosas" e "O Laboratório de Dexter". É um cara talentoso, caso contrário, não teria em seu currículo tantos acertos, no entanto, ao se colocar no comando de um longa-metragem, parece esquecer que o contexto é outro, as necessidades são outras. Assim, "Hotel Transilvânia" é guiado de forma frenética, sem pausas nem vírgulas, onde um amontoado de personagens e situações são jogadas na tela, seguindo exatamente o mesmo dinamismo de um episódio de desenho animado, logo seu ritmo cansa, ainda mais quando percebemos que nada de fato está sendo contado, entra e sai de personagens, de piadas mal elaboradas, onde cenários e locações são pouco explorados, por exemplo, o grandioso Hotel não passa de dois cômodos, o quarto de Mavis e o salão principal, muito pequeno para o gênero, não funciona, há todo instante temos o sentimento de que falta algo. O filme então, acaba não indo além de um pobre desenho animado divertido que passa na televisão em um sábado qualquer, em uma emissora qualquer, facilmente esquecido. 

Ainda há uma grande chance de conquistar as crianças, é claro. Piadas fáceis e história redondinha com direito a romance e número musical no final, nada que não tenha dado certo antes. Como cinema, infelizmente, é um grande equívoco, apesar do belo visual tem uma mistura de clichês mal inseridos e personagens extremamente caricatos.

NOTA: 4




terça-feira, 23 de outubro de 2012

Crítica: 50% (50/50)

Mais uma pérola do cinema indie norte-americano que vai direto para as locadoras aqui no Brasil, sem ter a chance de conquistar um público. Baseado em fatos reais, mais especificamente na história de como o escritor Will Reiser, o mesmo que roteirizou o filme, enfrentou seu câncer. A luta contra a doença mostrada de forma leve, descontraída, com muito humor e palavrões, mas sem deixar de ser comovente.

por Fernando Labanca

Joseph Gordon-Levitt interpreta Adam, saudável rapaz que certo dia descobre que tem câncer e que tem apenas 50% de chance de sobreviver. Tem apoio de sua namorada Rachel (Bryce Dallas Howard) mesmo mostrando nítido desconforto com a situação e ainda tem que aturar o descontrole de sua mãe (Anjelica Huston). Para piorar tudo, descobre que estava sendo traído por Rachel, através de seu grande e fiel amigo, Kyle (Seth Rogen), aquele que faz de tudo para levar vida e humor a sua rotina e ajuda a enfrentar as dificuldades de estar doente. Adam ainda passa a se encontrar com uma analista, Katherine (Anna Kendrick), iniciante na profissão, mas que logo percebe que seu cliente precisava muito mais do que termos técnicos.

O cinema indie tem como característica trazer leveza aos assuntos sérios, as definitivas comédias dramáticas, ou como alguns dizem, as dramédias. Foi assim com a gravidez na adolescência em "Juno" ou até mesmo a catástrofe do fim do universo no recente "Procura-se um Amigo Para o Fim do Mundo". Não há dor ou conflito que este gênero não possa trabalhar. A luta contra o câncer é a premissa da vez e o que de início pode parecer clichê, "50%" vai muito além do "fazer rir para não chorar", não dispensa o humor, muitas vezes politicamente incorreto e o que em muitos filmes a vítima sai chorando pelos corredores, aqui, o protagonista sai feliz com sua erva, jamais compreendendo a intensidade do problema. No melhor do estilo "Judd Apatow", mesmo que este não esteja envolvido no projeto, temos Seth Rogen representando a nova geração das comédias e tudo funciona bem e diverte. Inevitavelmente, o longa cai no drama, seria difícil fugir por completo, mas felizmente, este não é um problema, muito pelo contrário, é através do drama que o filme alcança seu ápice, é nele que conhecemos a fragilidade dos personagens, é quando o roteiro passa a humanizar cada um deles, é então que compreendemos a profundidade da obra e o quanto ela se difere das demais já lançadas. 


Mais do que a história de um jovem lutando contra uma doença, é sobre como sua doença altera a vida das pessoas ao seu redor, ou até mesmo como altera sua relação com elas. É bastante interessante a personagem vivida por Bryce Dallas Howard, apesar de pouco explorada, onde através da pena que sentia de Adam foi incapaz de magoá-lo, omitindo o fato de não gostar mais dele, como se não pudesse haver mais problemas em sua vida além do câncer. A relação que o mesmo tem com sua mãe é outro ponto alto do roteiro, o distanciamento que ele tem com ela, onde somente a doença foi capaz de uni-los. É belo também a história dos iniciantes, Adam que não sabe como viver sem saúde, que não sabe lidar com os obstáculos, que não é capaz nem mesmo de sofrer justamente por não compreender o que é ter câncer, no outro lado, temos Katherine, a analista, iniciante na profissão, que mal sabe cuidar de seu cliente, é então que ao decorrer da trama, um acaba percebendo o quanto precisa do outro, mais do que um cliente para cuidar, mais do que aprender, ela precisava sentir. São nestes momentos em que se comprova a qualidade do roteiro assinado pelo próprio Will Reiser, que consegue fugir dos clichês, fugir do dramalhão, mas sem deixar de ser complexo, profundo e emocionante.

Joseph Gordon-Levitt mais uma vez provando ser um grande ator, se destacando ainda mais nas cenas dramáticas. É divertido vê-lo atuando ao lado de Seth Rogen, a dupla funciona, por vezes, tudo parece um grande improviso como a excelente sequência em que Adam raspa cabeça, mesmo que Rogen não seja capaz de fazer nada mais além do que já mostrou em outros filmes. Anna Kendrick é uma querida, a película se torna ainda mais encantadora com sua performance, com aquele jeitinho único que só ela sabe fazer. Eis que ainda vemos na tela a veterana e sumida Anjelica Huston, em mais uma grande atuação, construindo algumas das melhores cenas. Enfim, elenco afiado interpretando personagens muito bem escritos, através de um roteiro bem elaborado que enche a tela de bons diálogos, que mistura humor e drama de maneira eficiente. De bônus uma incrível trilha sonora, não só a instrumental composta por Michael Giacchino, mas também a excelente seleção de músicas, entre algumas bem alternativas, ainda encontramos Radiohead e Pearl Jam. Perde alguns pontos por demorar a decolar, até a metade do longa, tudo parece um pouco perdido, mas logo se recupera e prova sua força e qualidade. Recomendo.

NOTA: 8,5



sábado, 13 de outubro de 2012

Crítica: Aqui é o Meu Lugar (This Must Be the Place, 2011)

Nasceu no Festival de Cannes do ano passado, no qual concorreu na categoria Melhor Ator para Sean Penn. É o primeiro trabalho em solo norte-americano do italiano Paolo Sorrentino e conta, através de um road movie bastante peculiar, a trajetória de um ex-astro do rock decadente em busca de vingança.

por Fernando Labanca

Conhecemos Cheyenne (Sean Penn) e seu estranho mundo, é um astro da música que não pisa no palco há mais de duas décadas, chegou aos cinquenta anos e vive de sua antiga renda ao lado de sua companheira (Frances McDormand) numa mansão. No entanto, age como nos tempos em que era um rockstar, como se fosse um adolescente, transvestido daquilo que ele não é, fala de modo estranho, age de forma excêntrica, sem muitas responsabilidades e com muito pouco com que se preocupar. Eis que decide viajar para Nova York, assim que recebe a notícia que seu pai estava mal de saúde, um homem com quem não conversava há trinta anos. Porém, chega tarde demais, ele havia falecido e como último ato para seu pai, decide se vingar, partindo pelas longas estradas dos Estados Unidos, em busca daquele que o torturou no campo de concentração de Auschwitz nos tempos de guerra.

"Tem algo errado aqui, não sei o que é, mas tem." Esta frase é dita por Cheyenne durante todo o filme, diante de cada situação bizarra que enfrenta em sua vida. Curioso o fato desta mesma frase traduzir o sentimento que senti durante toda a trama, há algo de muito errado em tudo aquilo, mas é sempre difícil de definir exatamente o que é. Assim que o filme termina se instala um sentimento de vazio, um road movie que não nos leva para longe, que viaja mas não sai do lugar. A impressão que fica é que Paolo Sorrentino pensou em seu roteiro em partes, mas se esqueceu de visualizá-lo como um todo. Tudo é extremamente bem feito, cenas cheias de detalhes, muitos deles desnecessários, mas tudo acontece com um cuidado que chega a ser comovente, a direção de Sorrentino é definitivamente primorosa, as situações mostradas nos prende pela excentricidade, pela curiosidade de compreender aquele universo, há também diálogos inteligentes que por vezes surpreendem. No entanto, enquanto esses elementos funcionam perfeitamente bem isoladamente, se tornam incoerentes quando vistos como um todo, uma sequência de situações aleatórias, que separadas, são belas, mas juntas, não funcionam, é como se não fizessem parte de uma mesma ideia. É extremamente nonsense sua busca por vingança, a relação daquele astro com o Holocausto, pensamentos tão distantes que não há um porquê de estarem no mesmo roteiro. Chegamos ao seu fim e mal nos lembramos de seu começo, logo que não há nenhuma ligação entre eles. 


"Aqui é o Meu Lugar", apesar de sua nítida incoerência narrativa, possui seus momentos brilhantes, isso devido a belíssima direção de Sorrentino, que constrói cenas muito bem planejadas, visualmente falando, é então que a fotografia se torna um grande destaque. A trilha sonora é outro ponto positivo, enaltecendo cada cena, cada sentimento. Alguns diálogos, também, são quase uma bela poesia, "Há muitas formas de morrer, a pior delas é continuar a viver", "antes do inferno, havia meu lar", entre outras vindas de um roteiro bem escrito e bastante inspirador. Muito desses diálogos servem para costurar a personalidade do protagonista ao decorrer do filme, é ele a grande atração de tudo, o longa cativa pela peculiaridade de sua vida e de sua jornada, mesmo que no fim, ela não chegue a lugar algum. Para isso, Sean Penn em mais uma boa atuação de sua carreira, porém alguns trejeitos soam forçados como a soprada constante em seu cabelo caído na testa e de fato não se compara aos grandes momentos do ator no cinema, mas ainda assim, se destaca, consegue traduzir bem este estranho homem, sem parecer cômico demais, exagerado demais, trás naturalidade, algo que parecia impossível. Ainda revemos a sempre ótima Frances McDormand e conta com algumas boas participações de um elenco desconhecido, tendo com uma das melhores sequências, a participação da irlandesa Kerry Condon que emociona por sua delicadeza. E como curiosidade, a ilustre presença de David Byrne, o vocalista da banda Talking Heads, no qual o próprio título do filme teve como inspiração uma de suas canções.

Vale pele originalidade e pela qualidade, por mais que tenha seus defeitos, não deixa de fazer parte de um cinema raro. Mesmo fora de seu país, Paolo Sorrentino realiza um trabalho, no mínimo, interessante, pecou em seu roteiro, que mesmo possuindo bons diálogos e boas intenções, não consegue criar um foco em sua narrativa, construindo um amontoado de situações aleatórias, desperdiçando uma premissa que de início pareceu boa, deixando seu grande personagem vagando em direção ao nada, onde sua complexidade e peculiaridade são ignoradas em prol de um destaque sem fundamento, o campo de concentração de Auschwitz, a história de seu pai, as torturas que sofreu, enfim, não era o momento para tais discussões, logo que tudo acaba sem grandes conclusões. No entanto, ainda consegue divertir em diversas passagens e emocionar com a trajetória de Cheyenne, este homem que esqueceu de crescer, que mais do que ir atrás de vingança, foi atrás de uma dor real, que fizesse ele sentir algo profundamente, mesmo que esta dor não fosse sua, queria sentir vida, a vida que o vazio de sua rotina o fez esquecer. 

NOTA: 7





quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Crítica: Rock of Ages - O Filme (Rock of Ages, 2012)

Desde a estreia de "Moulin Rouge" em 2001, que marcou a retomada dos musicais, a indústria cinematográfica percebeu que ainda existia espaço para o gênero nas telas,. Desde então, os principais nomes da Broadway passaram a ter suas adaptações para o cinema. A adaptação da vez é "Rock of Ages", história contada através dos clássicos do rock da década de 80/90 que conta com a direção de Adam Shankman (Hairspray) e com grandes nomes no elenco como Tom Cruise e Catherine Zeta-Jones.

por Fernando Labanca

Através das canções de Journey, Guns n'Roses, Bon Jovi, entre outros, conhecemos a trajetória de Sherrie (Julianne Hough), a garota boba do interior, que saiu da cidade pequena em busca do grande estrelato. Seu sonho era ser cantora e por ironia do destino, acaba conhecendo Drew (Diego Boneta), que trabalha no bar de uma grande casa de shows de rock, que tem como dono Dennis Dupree (Alec Baldwin), que por sua vez, tem uma grande arma para o grande sucesso do local, as apresentações da banda Arsenal. Stacee Jaxx (Tom Cruise) é um mega astro do rock, vocalista da banda que pretende seguir carreira solo, mas tem em seu pé atrapalhando seus planos, seu próprio empresário, Paul (Paul Giamatti). É então que Drew decide colocar Sherrie para trabalhar no local, e juntos lutam em crescer, pois ambos almejam o mesmo destino, a música, no entanto, a vida não é nada justa e nada fácil e logo se veem caminhando caminhos totalmente opostos do que estavam planejando. Para piorar, a primeira dama da cidade, Patricia Withmore (Catherine Zeta-Jones) está decidida a acabar com a promiscuidade que o rock infestou pela cidade.

É preciso gostar e compreender o formato de um musical para apreciar o filme. Músicas que surgem do nada, personagens que começam a cantar no meio da rua como se fosse a coisa mais natural do mundo. Para muitos, isso ainda pode parecer estranho, entretanto, se admirar essas liberdades que o gênero permite, "Rock of Ages" se torna um programa bem interessante. Adam Shankman que já dirigiu "Hairspray- Em Busca da Fama", demonstra entender como os musicais funcionam e faz deste filme um grande espetáculo, seja visual ou sonoro. Por vezes parece que o foco do longa nem é seu roteiro, sua trama fica a todo instante no segundo plano, onde as canções cantadas por um elenco afiado é quem realmente brilha. Por um lado isso é ruim, temos a sensação de estarmos vendo uma maratona de clipes, onde a história pouco importa. Por outro lado, as cenas são tão bem feitas, as coreografias, as performances convincentes e geralmente divertidas dos atores e uma seleção rica de canções que provavelmente farão muita gente cantar junto, prendem a atenção e fazem o ingresso valer a pena. No fundo "Rock of Ages" é uma grande brincadeira, funciona quase como uma sátira dos musicais, abusa dos clichês e não tem vergonha em admiti-los, usa das músicas para compor grande parte das piadas, não destruindo a imagem do rock, muito menos a dos musicais. Uma brincadeira bem realizada, bem intencionada, que funciona grande parte do tempo.


É bom deixar claro que o filme não foi feito para quem curte rock, aliás, provavelmente, estes poderão sair até um pouco decepcionados. É uma versão bem mais limpinha e mais bonita, infelizmente, por vezes, parecendo algum episódio de "Glee". O filme tem atitude, as canções são boas e as adaptações e mash-ups ficaram interessantes, mas é nitidamente destinado a quem admira musicais e não para os que ouvem rock e se identificam com aquelas bandas. Grande parte disso ocorre por colocarem Julianne Hough e Diego Boneta como protagonistas. Ela, cantora country e atriz iniciante. Ele, ex-ator de Rebelde. Enfim, além de estragarem grande parte das cenas, não há nada que nos faça convencer que eles fazem parte daquele universo, não há química entre eles e os diálogos são bem fracos. São assim que os coadjuvantes surgem e fazem deste filme algo melhor. Tom Cruise é quem definitivamente mais se destaca, surpreende, eu diria. A trama acaba criando um certo suspense em torno do personagem, como se ele fosse algo grandioso, digno de muito respeito e, de fato, Cruise merece muito respeito ao interpretar Stacee Jaxx. Faz dele o que há de melhor em "Rock of Ages", convence e muito no palco, canta bem e rouba a cena. Catherine Zeta-Jones é outro ponto bem positivo, infelizmente, pouco aproveitada. Mary J.Blige canta maravilhosamente bem, mas sua personagem acaba tendo um destaque desnecessário, está ali para cantar mesmo. Russell Brand e Alec Baldwin fazem uma boa parceria, divertem e fazem alguns bons números musicais. Malin Akerman surge para algumas cenas mais ousadas e não decepciona ao soltar a voz. 

Se Julianne Hough não convence com sua personagem, pelo menos não atrapalha os números musicais. Tem espaço para ela no excelente mash-up "Just Like Paradise / Nothin' But a Good Time" e "Shadows of the Night". Boneta também não faz tão feio na boa introdução ao lado de Russell Brand e Baldwin em "Juke Box Hero / I Love Rock n' Roll". Tom Cruise surpreende em "Wanted Dead or Alive", de Bon Jovi e "Paradise City" do Guns. E Zeta Jones que surge encantadora e fatal em "Hit Me With Your Best Shot", de Pat Benatar e ao lado de Russell a ótima "We Built This City / We're Not Gonna Take It", dois dos melhores momentos do filme. Ainda temos outras excelentes performances como em "Here I Go Again" de Whitesnake e "Every Rose Has Its Thorn" do Poison. Enfim, música de qualidade não falta ao decorrer de "Rock of Ages" e a cada cena, uma nova boa surpresa, que dá aquela vontade de ter a trilha sonora e faz com que saímos da sala de cinema com um sorriso no rosto, cantando os refrões viciantes.

"Rock of Ages" tem lá seus defeitos e são bem nítidos. Seja pelos clichês, a falta de química do casal irritante principal, o humor, às vezes apelativo, a ausência de uma boa história para contar. No entanto, ainda assim, entra para a lista dos musicais que merecem ser vistos, como disse anteriormente, é uma grande brincadeira, que em nenhum momento tem a intenção de ser levado a sério. É no fundo, uma piada muito bem realizada, que funciona como cinema e não compreendo por ter sido tão ignorado aqui no Brasil. A história é boba, pequena, mas em nenhum momento cria um desinteresse. O filme segue por bons caminhos, agrada, diverte, e nos faz querer cantar, ou seja, tem tudo o que um bom musical tem. E de bônus, um grande elenco cantando excelentes canções. Recomendo. 

NOTA: 8



sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Crítica: Procura-se um Amigo Para o Fim do Mundo (Seeking a Friend to the End of the World, 2012)

A catástrofe do fim já foi tema de diversos filmes, seja em ficções científicas com direito a explosões e muitos efeitos, seja nos dramas mais intimistas como "Melancolia" de Lars Von Trier ou o mais recente "O Abrigo". O gênero da vez a alcançar tal premissa é o cinema indie norte-americano, com personagens excêntricos, boa trilha sonora e referências a cultura pop, o fim do mundo nunca foi tão divertido e gostoso de se ver como nesta obra. 

por Fernando Labanca

Acompanhamos as últimas semanas da Terra, logo que o asteroide Matilda está prestes a colidir com o planeta. É então, que cada grupo de pessoas reage de uma forma diferente. Há aqueles que surtam, botam fogo nas ruas e se suicidam e há aqueles que passam a ver cada dia como se fosse o último, aproveitando a vida como nunca. E há Dodge (Steve Carell) que não se encaixa em nenhum grupo, vive sua vidinha pacata como se nada fosse acontecer, acabara de ser abandonado por sua mulher e todos os dias vai vender seguros num escritório. Sua rotina muda quando Penny (Keira Knightley), uma vizinha até então desconhecida vai parar na sua porta, e ao descobrir que ela mantinha correspondências dele em seu apartamento, percebe que essa ironia do destino havia destruído sua vida, isso porque a pessoa que Dodge mais amava tentava se corresponder com ele, é então que a ficha cai, ele vai morrer sozinho, sem alguém para amar. 

Decidida a arrumar seu grande erro, Penny o leva numa jornada para reencontrar a tal mulher do passado, e é nesta jornada que eles encontrarão com diversas pessoas, cada uma com seus medos e teorias e passam a usar deste tempo para refletir sobre suas próprias vidas, sobre o que perderam pelo caminho e ainda podem resgatar. 


"Vocês ouvirão a contagem regressiva para o fim dos dias, junto com todos os seus clássicos favoritos do rock". É assim que o longa metragem escrito e dirigido por Lorene Scafaria se inicia, já deixando bem claro sua verdadeira intenção e é com esta mesma personalidade que o roteiro é guiado, do começo ao fim. Utilizando da ironia e estranheza daquele universo como base de seu humor, aproveitando desta situação tão inusitada para criar, aliás, recriar o fim do mundo, de uma forma jamais vista antes e que agrada pela originalidade e surpreende ao ser tão eficiente e tão equilibrado, o roteiro que transita de forma natural entre a comédia, romance e drama, parece não perder a linha em nenhum momento e se firma como uma das mais brilhantes e interessantes obras sobre o tema. Eficiente, por conseguir trabalhar todas as questões possíveis, os noticiários que nos informam sobre o ocorrido e todo o processo que aquela sociedade enfrenta, de forma clara e muito bem desenvolvida ao decorrer do filme, ainda deixando espaço para os conflitos vividos pelos protagonistas, que divertem e emocionam na medida certa. É válido citar outra grande qualidade do roteiro, como cada pequeno detalhe parece fazer diferença no resultado final, seja elementos simples, como o passado de Peny com a família, o fato dela dormir demais ou sua afeição pelos LP's, onde tudo parece muito bem pensado, arquitetado para seu gran finale.

É interessante como "Procura-se um Amigo Para o Fim do Mundo" consegue transmitir tantas ideias e tanto sentimento. Em uma das cenas mais brilhantes do filme, Dodge participa de uma festa no subúrbio, mais do que explorar a superficialidade dos norte-americanos, ele explora a superficialidade dos humanos, onde uma mulher se questiona sobre o porquê não poder sair da linha, viver a vida loucamente enquanto todos fazem o mesmo, mas ela precisa se segurar pois tem uma imagem a zelar. Acredito que seja sobre isso, sobre como nós, seres humanos, com medo do amanhã, com medo das consequências, medo do que podem falar, de como os outros nos veem, nos fechamos ao mundo, às possibilidades, como saber que existe o amanhã nos impede de ser quem realmente somos, seria mesmo necessário o fim do mundo para aprendermos a viver a vida como deve ser vivida? Longe da obviedade "viva como se fosse o último dia", o filme nos traz uma deliciosa sensação, a simplicidade das coisas, a nostalgia de um tempo onde as relações eram mais verdadeiras, e assim como os LP's da protagonista, onde a qualidade do som foi trocado pela praticidade da tecnologia, infelizmente, assim aconteceu com as relações humanas. E tudo isso é tratado com bastante delicadeza e humanismo.

No decorrer da história, vamos nos deparando com diversas participações especiais no elenco, como Melanie Lynskey, Adam Brody, Martin Sheen e todos se destacam. Mas é Steve Carell e Keira Knightley que dominam a tela, e com seu tom mais intimista, a trama tem a relação deste inusitado casal como seu principal foco. Carell parece confortável neste tipo de papel e se sai bem, assim como Keira, que apesar de mais uma vez surgir histérica, convence como a louca Penny e acaba surpreendendo em diversas passagens, como quando conversa com sua família pelo telefone ou na cena final, emociona de forma intensa e se mostra bastante competente. 

Um filme original, divertido e extremamente comovente, que vai na contramão do que já foi feito sobre o caos universal, onde cada cena é uma surpresa, nunca sabemos qual os próximos passos dos personagens. O longa termina e fica em nossa mente suas reflexões, passamos a imaginar como seria viver num mundo como aquele retratado, onde somos realmente livres, onde todas as pessoas se igualam, o dinheiro e o status já não significam mais nada, onde a única coisa que nos resta são as relações, o amor, a amizade, e do que vale a vida sem essas coisas? E para fechar com chave de ouro, "Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo" nos apresenta, eu diria, um dos melhores finais que o cinema presenciou este ano. Surpreendentemente bom, acaba emocionando muito mais do que parece, de forma intensa e impactante. Uma experiência única e prazerosa, uma grata surpresa indie. 

NOTA: 9,5




terça-feira, 25 de setembro de 2012

Crítica: Intocáveis (Intouchables, 2012)

Filme francês de maior sucesso (e bilheteria) da história e que teve recentemente a missão de representar o país no Oscar 2013, tem tudo para levar para casa grandes prêmios e a cada cena que vemos dele entendemos a razão de seu sucesso entre o público, não só por ser divertido e ter uma trama de fácil compreensão, mas também por simplesmente ser bom e assim como sua trama, que é sobre opostos, tem tudo para agradar dos mais aos menos exigentes.

por Fernando Labanca

Baseado em fatos reais, conhecemos o empresário aristocrata e tetraplégico Philippe (François Cluzet) que em busca de um assistente para ser responsável por seu cuidado se vê diante de diversos engomadinhos dispostos a um novo emprego, mas decide contratar justamente aquele que menos se esforçou em conseguir a vaga, Driss (Omar Sy), negro, imigrante senegalês que tudo o que queria era um seguro desemprego para se manter após sair da prisão, no qual ficou por seis meses. Driss que pouco se importa com a deficiência de Philippe, passa a se divertir na mansão que agora tem por direito, além de dar em cima da bela secretária e assim, nasce uma inusitada amizade e simplesmente por um não colocar rótulos no outro, é nesta relação que eles se prendem para fugir da triste realidade que ambos enfrentam.

Apesar do que possa parecer de início, "Intocáveis" foge bastante do drama e acaba se firmando como comédia, quase que pastelão, por vezes. E assim, acaba surpreendendo. Quando esperávamos moralismos, discussões sociais e um final dramático, encontramos, na verdade, muito humor, tudo que poderia ter uma grande densidade é convertido em piada, mesmo quando se trata de assuntos que de fato, quase nunca são vistos como piada, é então que o roteiro encontra sua grande arma, o politicamente incorreto. É hilário o descaso de Driss para com o amigo ou também quando se surpreende pelo preço pago do empresário em uma obra de arte, entrando diálogos que todos tiverem vontade de um dia dizer, mas que tiveram medo de se mostraram "não cultos", o roteiro não veta nada nem ninguém, nem música clássica, nem mesmo programas televisivos destinados a deficiência infantil, tudo vira piada, de forma direta e sem receios.


É um filme sobre opostos, do real à fantasia, onde o roteiro se mostra livre em romantizar a trajetória dos amigos, forçando às vezes, mas tudo ocorre de forma agradável. Da comédia ao drama, onde também sabe lidar com a emoção. Colocando em cena, negro e branco, rico e pobre, a deficiência e a saúde em pessoa, dois pontos extremamente opostos mas que surgem de forma harmoniosa e o roteiro não perde tempo em refletir sobre eles e este, acredito eu, é seu maior trunfo, pois não há maneira mais digna de se falar sobre as diferenças as colocando no mesmo patamar, evitando discussões, não de forma alienada, afim de não de ser polêmico, mas de forma a compreender que as diferenças podem coexistir.

"Intocáveis" usa estas diferenças para seu bem, através de um roteiro bastante correto, é capaz de fazer grande parte do público se identificar com a trama, porque no fundo, o filme é bastante comercial, feito na medida para agradar, mas também agrada os mais exigentes, a dupla de diretores, Olivier Nakache e Eric Toledano realizam um belíssimo trabalho, fazendo bom uso das câmeras, além da incrível fotografia e sensível trilha sonora. Sabem, também, tirar bom proveito de seu elenco, Omar Sy tem tudo para o grande estrelato, carismático e excelente ator, rouba a cena na maior parte do tempo, é extremamente engraçado, suas falas parecem um grande improviso de tão naturais. François Cluzet tem seus momentos, convence e ao lado de Omar, a dupla parece se divertir na tela, e quem sai ganhando somos nós, pois as cenas cômicas, foram, com certeza, as que mais me fizeram rir este ano.

É sobre estes dois homens intocáveis, um com a sua deficiência, seja social ou física, mas que aprenderam uma das mais valiosas lições, a rir da própria desgraça. De trama fácil e bem resolvida, o cinema francês nunca esteve tão aberto a tantos públicos e isso de forma alguma é algo negativo, não deixa de ser bom, inteligente, que leva diversão e reflexão na mesma medida. Tocante e engraçado. Simplesmente imperdível.

NOTA: 9



sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Crítica: 360 (2012)

Baseado na peça de Arthur Schnitzler, novo filme dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles, é uma produção requintada filmada em seis países diferentes. Com roteiro de Peter Morgan, o mesmo de "Frost/Nixon" e "A Rainha", conhecemos nove histórias envolvendo casais de diversas partes do planeta e como suas ações e escolhas interferem na vida de outros, mesmo que estes estejam à quilômetros de distância.

por Fernando Labanca

A vida de um indivíduo é como um ciclo, mas que depende, indiretamente, das ação de outros para seu movimento. A premissa de "360" é justamente essa, vidas que são alteradas pela escolha de terceiros. Mirka (Lucia Siposová) é uma jovem tcheca que passa a se prostituir por dinheiro numa agência de "luxo" e um de seus primeiros clientes é o empresário Michael (Jude Law), que por sua vez é casado com Rose (Rachel Weisz), que o aguarda em casa, em Londres, enquanto isso mantém uma relação com o jovem fotógrafo Rui (Juliano Cazarré) lhe prometendo uma carreira de sucesso, este que saiu do Brasil ao lado de sua namorada Laura (Maria Flor). Laura, que ao descobrir a traição de Rui, decide voltar para casa, mas no caminho se depara com um senhor (Anthony Hopkins) que ainda sofre pela perda da filha e um misterioso rapaz (Ben Foster), recém liberado da prisão. Um dentista muçulmano (Jamel Debbouze) perdidamente apaixonado por sua assistente (Dinara Drukarova), mas que é casada com o motorista Sergei (Vladimir Vdovichenkov), mas são infelizes juntos e ele toma uma grande decisão em sua última viagem, quando sua vida se cruza com a de Mirka, a prostituta.


"360" é uma interessante mistura de Alejandro González Iñárritu/ Guillermo Arriaga e suas histórias entrelaçadas como em "Babel" com o romance "Closer- Perto Demais" de Mike Nichols. Se para Arriaga, que apostava nas coincidências do destino e construía suas tramas com um fundo político, Fernando Meirelles foca em outro aspecto, o dos relacionamentos amorosos, ainda nos fazendo refletir sobre o quão a nossa trajetória pode ser irônica. O filme vai costurando tramas que envolvem traição, novas descobertas, desilusões amorosas, pessoas que amam quem não podem, pessoas que abandonam quem amam, que retornam a quem um dia amou mas acabou esquecendo. Muitos acusaram o roteiro de não se aprofundar nas histórias contadas, essa sensação não me ocorreu, achei extremamente competente a maneira com que Peter Morgan guiou as tramas, todas possuem seus espaços, não havendo protagonistas, cada um se destaca a sua maneira, o bom roteiro consegue ainda colocar profundidade a cada personagem, onde cada indivíduo mostrado, tem sua importância, nenhuma história está ali a toa, tem sua função no conjunto e contribui para o resultado final.

O filme se inicia com uma narração em off, uma voz nos dizendo sobre bifurcações. A vida é como uma estrada de duas vias, onde a cada instante precisamos decidir sobre qual caminho queremos seguir, o problema que cada escolha implica numa consequência e não temos controle sobre ela, podendo afetar alguém que não conhecemos, construindo nossa vida, estamos, indiretamente, alterando a de outra pessoa. É interessante como o roteiro consegue traduzir esta idéia simples de forma tão agradável e inteligente, como aquela brasileira, interpretada por Maria Flor altera a vida de tanta gente sem ter a intenção e como para chegar aonde chegou precisou ser traída, precisou daquela esposa abandonada e infeliz em Londres. A vida é realmente muito irônica, complexa, onde cada vírgula tem sua razão de existir, nada é por acaso, tudo nos leva para um plano maior. O interessante também é que o roteiro desenvolve histórias simples, sem grandes revelações, sem muitos obstáculos, um momento do cotidiano de cada ser, exemplificando o fato de como as mais simples escolhas de nossa rotina podem alterar tanta coisa. A trajetória de várias pessoas, em diversos cantos do planeta, no momento da vida em que decidem fazer algo a mais por elas mesmas, é quando o filme questiona, temos escolhas a cada instante, mas vivemos apenas uma vez, quando é que teremos a oportunidade de escolher aquele caminho novamente?

Os personagens são realmente interessantes, mérito do grandioso roteiro e do elenco, estrelado por nomes conhecidos do público e por atores de outros países, que parecem enriquecer ainda mais o projeto. Jude Law e Rachel Weisz estão lá entre os conhecidos, corretos, mas não surpreendem, mas são personagens interessantes. Entre as histórias mais bem desenvolvidas está a do ator russo Vladimir Vdovichenkov, que se destaca, assim como o francês Jamel Debbouze, numa trama que emociona pela simplicidade. O brasileiro Juliano Cazarré aparece bem pouco, mas não decepciona. Mas quem rouba a cena mesmo é o trio Maria Flor, Ben Foster e o veterano Anthony Hopkins. O personagem de Foster é com certeza, o mais intrigante de todo o filme, se entrega e realiza alguns dos melhores momentos, assim como a bela e brasileira Maria Flor, que de todas as histórias contadas, é a dela a mais marcante. E Hopkins que surge renovado, parecia que ao longo dos anos ele havia elaborado uma fórmula para atuar, seu "método Hannibal", é então, que em pouco mais de três cenas na tela, ele fez muito mais que atores fazem num longa inteiro, é belo, humano, muito convincente seu olhar triste e vazio, ao mesmo tempo esperançoso. É realmente complicado desenvolver uma história com tantas tramas, tantos personagens, ainda mais envolvendo países diferentes, idiomas diferentes, culturas diferentes, é admirável o que Meirelles e Morgan realizam aqui, o resultado é bastante positivo, pois tudo de fato, agrada e consegue se manter no bom nível suas duas horas de duração, são história simples, fáceis até de compreender, no entanto, é tudo tão bem feito, tão bem construído, que tudo passa a ser mais grandioso do que realmente é, histórias que cativam e nos prendem até seu final. 

Trilha sonora conveniente, buscando em diversos idiomas ilustrar os diversos cenários e situações. Destaque também para a fotografia de Adriano Goldman e a excelente edição realizada por Daniel Rezende. Fernando Meirelles é um excelente diretor, podem dizer que se vendeu para Hollywood, o que for, mas é inegável seu talento, depois de grandes obras que realizou lá fora como "O Jardineiro Fiel" e "Ensaio Sobre a Cegueira", "360" entra para a lista, um filme incrível, grandioso, repleto de bons momentos, bons diálogos e atuações marcantes de um elenco competente. Um roteiro bem pensado, inteligente, que por mais simples que seja, não deixa de ser envolvente, emocionante e não deixa de trazer boas reflexões ao seu final. Recomendo. 

NOTA: 9,5



segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Crítica: Um Divã Para Dois (Hope Springs, 2012)

Do diretor David Frankel, o mesmo de "O Diabo Veste Prada" e "Marley e Eu", trás Meryl Streep e Tommy Lee Jones, em atuações marcantes, uma das melhores que o cinema viu este ano, na pele de um casal tentando reascender a chama depois de três décadas juntos.

por Fernando Labanca

Kay (Streep) está casada há 31 anos com Arnold (Jones), mas diferente dele, ela cansou da rotina. Enquanto o marido vive a monotonia da sua vida como se nada pudesse melhorar, assistindo programa reprisado na TV e trabalhando todas as manhãs, Kay chegou ao seu limite, já não suportando o fato de não conversar mais com ele, de dormirem em quartos separados. Para resolver seu problema, ela se inscreve num famoso programa de aconselhamento de casais com o Dr.Feld (Steve Carell), numa pequena cidade bucólica. Mesmo irritado com a situação, Arnold aceita fazer a viagem, com medo de perder sua mulher, entretanto, alcança o ápice do constrangimento quando precisa, como exercício da terapia, se reaproximar de Kay, falar sobre sexo e sobre tudo o que evitou todos esses anos. 

Comédias românticas surgem e desaparecem nos cinemas, algumas merecem o simples desprezo e esquecimento, outras, merecem a atenção, que infelizmente por serem deste gênero chegam nas salas com um certo preconceito e logo são subestimadas pelo público. "Um Divã Para Dois" é dessas que merece atenção. Para começar tem dois grandes atores a frente da trama, Meryl Streep que conseguiu mais um Oscar de Melhor Atriz este ano e Tommy Lee Jones. Ver esses grandes atores dividindo a mesma cena não é para qualquer filme e a maneira como os dois se jogam em seus personagens é algo raro, ainda para Streep, que aparentemente já havia feito de tudo no cinema, ela surge novamente e ainda consegue surpreender. Ainda temos David Frankel como diretor e prova aqui sua grande habilidade, conseguiu transformar "O Diabo Veste Prada" e "Marley e Eu" em grandes obras mesmo que tendo tudo para ser mais uma para a sessão da tarde e aqui ele consegue provar ainda mais maturidade. E um roteiro bastante inteligente, que surpreende pelas situações mostradas, indo muito além que qualquer outra comédia romântica tenha ido, vai fundo na alma de seus personagens, onde poucos dramas ousaram chegar.


"Um Divã Para Dois" consegue entreter, isso porque ver o casal conservador ter que falar sobre assuntos tabus e ter que fazer alguns exercícios para não mais temerem o sexo é realmente divertido, melhor ainda é ver os dois atores passando os maiores vexames com a maior naturalidade, aliás, é este um de seus grandes méritos, encarar toda essa situação como algo naturalmente engraçado, não força em nenhum momento para arrancar risos do público e ganha pontos também por não seguir tanto para a comédia, sem temer uma edição mais lenta que filmes do gênero, onde os diálogos são extensos, deixando espaço para o roteiro mostrar quem realmente são esses personagens, deixando espaço para o público compreender a mente deles e o quão complexo a vida de casado pode ser e passa a assustar justamente quando alcança um nível de humanismo alto, nos fazendo parar para pensar sobre o quanto tudo aquilo é real e quão triste isso é. É então que o longa começa a emocionar por mostrar este lado que os filmes nunca mostram, aquele lado que nunca vimos na vida íntima daquelas pessoas que conhecemos, é engraçado como o amor morre, como a intimidade morre, é belo quando Kay passa a se questionar do porquê ser tão difícil tocar alguém que se ama, porque o sexo que deveria ser uma prova de amor passa a ser algo constrangedor, ou um simples beijo que parece ser um ato absurdo para duas pessoas mais velhas. O bom roteiro assinado por Vanessa Taylor consegue caminhar por diversos caminhos, mostrando todas as possibilidades, todos os conflitos possíveis dessa situação, consegue ser rico por tentar entender a mente humana, de forma cômica mas sem deixar de ser complexo e caminhando sempre de forma bastante madura. 

Dentre tantas qualidades do roteiro ainda temos o privilégio de ver Meryl Streep, mesmo com três Oscar em sua prateleira se entregando em uma personagem, ela trás verdade a Kay, seus dramas passam a fazer sentido com seus tristes olhares e seu constrangimento ganham forma com a divertida maneira com que ela as encara, uma grande atriz de comédia, uma das melhores em drama. Melhor ainda é quando ela divide as falas com Tommy Lee Jones, que há muito não o via tão a vontade em um filme, uma grande atuação, consegue transmitir tanto sentimento, tanta verdade, sua aceitação da rotina, seu rancor diário, é belo ver também toda sua transformação durante a trama. Steve Carell surge mais tímido, mas é aceitável, não era seu momento, mas não desaponta, faz sua parte. Ainda vemos participações rápidas de nomes como a sumida Elizabeth Shue e Jean Smart.

Surpreendentemente bom, "Hope Springs" pode pegar muita gente de surpresa, quando se espera mais uma comédia romântica, David Frankel nos oferece uma trama completa, repleto de bons momentos e diálogos bem pensados, numa trama bastante real, sem a superficialidade hollywoodiana, que consegue tocar em assuntos pouco discutidos e assim se torna um dos poucos filmes do gênero a ser realmente eficiente. E justamente por seu realismo consegue nos fazer rir sem grandes esforços e da mesma forma, nos emociona em momentos que não esperávamos nos comover. Também não vem com moralismos baratos sobre "não deixe sua vida de casado cair na rotina", consegue ser bem mais profundo que isso. E ainda...Meryl Streep e Tommy Lee Jones, que já valem o ingresso. Recomendo.

NOTA: 9



domingo, 16 de setembro de 2012

Crítica: À Beira do Caminho (2012)

Novo trabalho do diretor Breno Silveira, conhecido por realizar "2 Filhos de Francisco", e mais uma vez ele tem a música como a base de sua trama. Tem roteiro inspirado nas canções de Roberto Carlos e as usa para ilustrar a emoção de seus personagens, apostando não só numa forte cultura nacional, como também na emoção do público ao tratar de temas como a morte, a perda de alguém que se ama e as lembranças constantes de um passado que ainda não se foi. Temas que um dia Roberto cantou e hoje são resgatadas de forma sensível neste grande filme nacional.

por Fernando Labanca

Conhecemos João (João Miguel) um caminhoneiro amargo e nada sociável, viaja pelo Brasil ao lado de sua única companheira, a solidão e tem na estrada a fuga perfeita para seu trágico passado. Eis que certa noite se depara com um garoto, Duda (Vinicius Nascimento), que diz órfão recente de mãe e que decidiu ir para São Paulo em busca de seu pai, seguindo um endereço escrito numa foto antiga. João, então, decide levá-lo para uma cidade próxima, seu destino de trabalho, entretanto neste trajeto, com a presença de Duda, seu passado vem a tona em suas lembranças e começa a ter forças para enfim, encarar o que aconteceu, mais do que isso, passa a compreender seus erros e a repará-los.

Confesso que nunca gostei de Roberto Carlos e fiquei bastante receoso ao assistir esse filme. Porém, o que o roteiro, assinado por Patricia Andrade (a mesma de 2 Filhos de Francisco), nos proporciona é muito mais do que uma homenagem ao "rei", a história em si é muito mais importante e o drama vivido pelos personagens recebem seu devido valor sem serem ofuscados pelas canções, estas, que em cena, servem para ilustrar muito dos sentimentos não falados o que acaba enriquecendo muito este projeto. É simplesmente belo como essas músicas chegam e é interessante a relação que ela tem com seu protagonista. Conseguir músicas de Roberto para trilha sonora nunca foi fácil, dizem que ele é bastante rigoroso ao liberar suas canções, aliás, só liberou quatro para o filme, "O portão", "Outra Vez", A Distância" e "Como vai você", além de outras cantadas por Vanessa da Mata e Nina Becker. São, no entanto, suficiente para preencher toda a trama, e são através delas que descobrimos as dores de João, seu amor não acabado, sua saudade do passado e também sua amizade que se inicia com Duda. Vale notar também que o roteiro faz bom proveito não só das músicas de Roberto, como também de outros elementos, como as frases de para-choque, bastante conhecidas por nossa cultura e surgem sempre querendo dizer algo a mais, chega até ser engraçado o quanto que essas simples frases revelam o que a obra queria passar, frases como "Viver é como desenhar sem borracha" e "Quando a saudade não cabe no peito, ela transborda pelos olhos". Ou seja, não precisa ser fã do cantor para apreciar o filme, Breno Silveira nos oferece muito mais para nos encantar. 


"Á Beira do Caminho" é um delicioso road movie, com direito a muitas paisagens e muitas auto descobertas. E nessas estradas nos afeiçoamos rapidamente a seus protagonistas, vamos descobrindo aos poucos o misterioso passado de João e o bom roteiro nos faz querer saber o que fez deste homem tão amargo, além de termos a curiosidade de saber o que acontecerá com o pequeno garoto. Dois caminhos opostos, um correndo atrás de seu futuro, outro, de seu passado. A maneira como João e Duda nos são apresentados é um dos grandes méritos do longa, torcemos por eles, nos apegamos, é belo a trajetória dos dois e a a amizade entre eles é construída de maneira bastante humana, simples, seguindo sempre por momentos de grande emoção. Aliás, tudo acontece de forma bastante natural, verossímil e este é outro grande ponto positivo, desde as viagens de João, a câmera parece conseguir captar toda a solidão daquela vida, os restaurantes em que come, as mesas em que senta, os caminhos que percorre, acreditamos naquela vida, pois cada pequeno detalhe é feito de forma muito bem pensada, é real. A naturalidade com que Breno conduz sua trama e o realismo de cada situação enaltece sua proposta. A atuação de elenco ajuda ainda mais essa verossimidade, João Miguel é um ator extremamente talentoso e consegue demonstrar inúmeros sentimentos ao decorrer do filme, tudo de forma convincente e seu parceiro de cena, por mais novato que seja, conquista espaço e realiza grandes cenas, Vinícius Nascimento, um nome a anotar. Dentre os coadjuvantes, Dira Paes, surge mais uma vez ótima, além de Ângelo Antônio e Denise Weinberg.

Além das canções de Roberto Carlos, o filme conta com uma belíssima trilha instrumental, de Berna Ceppas, minimalista e que consegue trazer emoção nos momentos certos. Ainda vemos na tela uma incrível fotografia, de Lula Carvalho. Enfim, um longa nacional repleto de elementos positivos, de um roteiro bem elaborado e uma direção cuidadosa. Seu único grande defeito, acredito eu, foi seu final, com medo de deixar pontas soltas, acaba que deixando tudo muito resolvido, muito redondinho, um típico final que o público gosta de ver, mas que acaba não sendo muito condizente com o resto da trama. Com certeza, "À Beira do Caminho" será mais um daqueles filmes que usarei em defesa do cinema nacional, realmente me conquistou, por sua simplicidade, por seu humanismo, por conseguir emocionar sem ser piegas, clichê, algo que merece ser visto, apreciado. Recomendo.

NOTA: 8,5





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