sábado, 11 de agosto de 2012

Crítica: Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises, 2012)

Em 2005 estreava nos cinemas "Batman Begins", do até então pouco conhecido Christopher Nolan. Na época, era somente mais um começo para o herói, dentre tantas histórias que o cinema já havia visto. Não sabíamos, porém, a grandiosidade de tudo aquilo, o que de fato aquele Nolan estava prestes a realizar. Hoje, "O Cavaleiro das Trevas Ressurge" chega com um final épico, algo que nos últimos anos não tivemos a chance de ver, a saga de um herói, incrivelmente construída, do início ao fim, eleva o nível do gênero para um outro patamar, faz qualquer outro já lançado parecer pequeno, sem graça. O público agradece, Nolan fez um bem para o cinema este ano.

por Fernando Labanca

A história ocorre oito anos após os ocorridos do último filme, onde a morte de Harvey Dent definiu os rumos de Gotham City. Ele passa a ser visto como herói, seu nome foi dado a uma lei onde devido a ela, os crimes desapareceram da cidade e o povo vive um tempo de paz, já Batman, é visto como aquele que causou a morte de Dent. Enquanto isso, Bruce Wayne (Christian Bale) se esconde na solidão de sua mansão, mas se vê obrigado a retornar quando Selina Kyle (Anne Hathaway), uma habilidosa e sedutora mulher cruza seu caminho e estraga seus planos. Ele, retorna como Batman também, ao compreender que a cidade ainda precisava de um herói, capaz de deter os terríveis planos de Bane (Tom Hardy), um homem que diferente de Bruce, nasceu na escuridão mas que também fora treinado por Ra's al Ghul (Liam Neeson), e passa a controlar Gotham levando a diante os ideais da Liga das Sombras.

"O Cavaleiro das Trevas Ressurge" é muito mais uma sequência de Batman Begins do que do segundo filme. Muitos elementos do primeiro filme retornam aqui, acredito eu, aconteceu devido a ausência do vilão Coringa, era a única ponta solta deixada do longa anterior e que não teve a chance de ser continuada. Coringa foi um personagem épico, genial, obviamente fez falta nesta história, mas o roteiro brilhante conseguiu construir inúmeros outros elementos que esta falta acabou sendo pequena, há muita coisa nova, personagens novos, e definitivamente, tudo é muito bom, cada detalhe, cada cena, cada novo ser que surge na tela, tudo com uma extrema qualidade, qualidade que há muito não se via no gênero. É interessante essa conexão que ele faz com o "Begins", é como se conseguisse de forma magistral fechar todas as pontas, fecha um ciclo, busca situações do passado e retorna de forma conveniente, onde tudo passa a fazer sentido, tudo tem um porquê, o que percebemos disso tudo, é que Christopher Nolan é um gênio, parece que tudo fora pensado desde o primeiro filme, pois cada pequeno detalhe faz a diferença, tudo se encaixa, uma trilogia muito bem planejada. 


O que mais surpreende no filme, porém, é a belíssima composição dos personagens. Em certo momento Batman diz aquilo que todos sabemos, Batman pode ser qualquer um de nós e essa é a grande sacada do herói e esta qualidade se torna mais nítida neste filme. Sem poderes especiais, sem apelações visuais, Batman é o que é e a seriedade com que o roteiro nos apresenta o herói, faz dele o melhor que já existiu no cinema, e a ligação que ele tem com a cidade de Gotham, a necessidade que ele tem em salvá-la, diferente dos outros heróis que possuem como única preocupação, se livrar do vilão. Bane como vilão, é definitivamente, menor que o Coringa e o Duas Caras, mas ainda assim se mostra um personagem interessante e bem construído, é assustador até, sua voz modificada e o modo como ele age, sem temer, decidido a implantar o terror e o caos, como mesmo diz, é um torturador, não do corpo, mas da alma, e é exatamente o que o vilão consegue, o medo que causa não é por sua força, mas o quão ele afeta o psicológico das pessoas, até mesmo do público. A outra grande sacada do roteiro é colocar Batman como coadjuvante, não porque o herói não tem força para levar o filme como protagonista, mas sim porque a história de como Gotham precisa ser salva não depende somente dele, porque os heróis são todos, o herói é aquele homem que coloca a mão no ombro de uma criança e lhe dá esperança, este é o Comissário Gordon que é um outro grande herói da trama, desde o primeiro filme, é aquele homem que não é enaltecido pela mídia, mas sempre esteve lá. A composição de Selina Kyle é genial, sua ambiguidade, nunca sabemos ao certo qual o caminho que ela irá seguir, mais interessante ainda é como em nenhum momento ela é chamada de "Mulher Gato". Ainda temos outros personagens fortes que surgem de repente, com destaque, e somente no final compreendemos o quão eles eram importantes na história, como o detetive John Blake (Joseph Gordon-Levitt) e Miranda Tate (Marion Cotillard). Além dos clássicos Alfred (Michael Caine) e Fox (Morgan Freeman). O roteiro incrivelmente consegue, durante as quase três horas de filme, dar destaque para cada um desses personagens, provando a força e a qualidade da obra. 

Assim como o segundo filme da trilogia e diferente de qualquer outro filme de herói já feito, "O Cavaleiro das Trevas Ressurge" trás e muito conteúdo. Não é uma história furada, não necessita de piadas e efeitos visuais exagerados para conquistar o público. Um filme que aposta na inteligência daquele que assiste, constrói uma trama rica em detalhes, com personagens perfeitamente inseridos e cheio de oscilações, complexos, até, eu diria. Um filme maduro, adulto, que leva sua ideia de forma séria e por isso consegue um respeito que nenhum outro filme do gênero conquistou. O longa trata como seu tema principal, o medo e é interessante como essa mesma palavra definiu toda a trilogia, como seus personagens tinham uma ligação com este sentimento. Batman que surge como aquilo que ele mais temia, os morcegos, surge para dividir com os bandidos o que ele tinha medo de encarar, assim como o Espantalho que usava como o medo alheio sua principal arma. E como um ciclo, a palavra retorna aqui e o que é debatido é justamente o medo da morte e como Bruce ausente deste medo era incapaz de compreender as ações de seu inimigo, como temer a morte não nos faz mais fracos, pelo contrário, nos faz mais fortes, pois sem a dúvida do que acontecerá no futuro, sem o receio de falhar, jamais crescemos, jamais encontramos a força suficiente para vencer, o medo trás consigo, a esperança. É belo, então o momento em que Bruce compreende isso, retornando em sua mente a imagem de seu pai e sua antológica pergunta..."porque caímos?", deixando um vazio para sua resposta e este mesmo vazio é preenchido por aquele sentimento em que todos os heróis do filme buscam em si mesmos, pois todos estão em busca de ressurgir, de se reerguer, acreditar no melhor, voltar a ter esperança. Caímos justamente para aprendermos a levantar.


Chega a ser brilhante o ritmo que este filme possui. Este é Christopher Nolan. Daqueles filmes que acabam e realmente bate aquela estranha vontade de levantar e bater palmas, pois é tudo magnífico. Cada cena parece algo memorável, desde a primeira sequência no avião que é simplesmente de tirar o fôlego, passando pela luta entre Batman e Bane, ausente de trilha sonora, sentimos a dor e cada pancada que os personagens levam, as perseguições, a presença de Selina Kyle, que por si só já é um espetáculo, o emocionante diálogo entre Bruce e Alfred, a antológica luta entre policiais e cidadãos no meio da rua, a explosão do campo de futebol, simplesmente genial. E cada um desses elementos fortalecidos pelo som, que assim como todos os filmes de Nolan, parecem diferenciados, fazem o coração parar de bater. A trilha sonora de Hans Zimmer é um show a parte, faltam palavras para descrever a grandiosidade de seu trabalho. Mas é claro que o filme também não escapa de alguns erros, chega a ser estranho como os personagens conseguem se encontrar tão facilmente numa cidade tão grande, sem contar que os heróis chegam sempre no momento e na hora certa, e são nesses momentos que o roteiro deixa a coerência de lado, ou a sequência em que Wayne fica preso, enrola no desnecessário, constrói acontecimentos um tanto quanto inverossímeis e a finaliza de forma bastante clichê e forçada. Entretanto, os erros se tornan pequenos quando há tanto acerto. Um conjunto perfeito de uma direção impecável de Christopher Nolan, com um roteiro genial, inteligente e muito bem detalhado, inserção de personagens ricos interpretados por um grupo de atores talentosos e dispostos a fazerem algo de qualidade, com cenas que ficarão na memória depois de muito tempo. Mais do que um filme memorável, é aquela obra que a gente faz questão de não mais esquecer, pois é algo único e raro.

O longa conta com um grupo de atores admiráveis. Christian Bale é o Batman, ponto. A verdade é que ele acaba sendo o ator que menos tem chance de mostrar talento na trama, mas nenhum outro ator na pele do herói conseguiu convencer tanto quanto ele. Mas o destaque mesmo são os coadjuvantes. Anne Hathaway rouba a cena, a maneira como a atriz se comporta frente as câmeras, capaz de transmitir toda a ambiguidade de sua personagem, auxiliada por sua beleza e carisma, faz muito mais do que ser a heroína sexy, é uma atriz talentosa que deu o seu melhor e entra para a lista do que houve de melhor na trilogia. Tom Hardy, infelizmente tem sua voz alterada, seu rosto escondido, é um grande ator, mas some. Joseph Gordon-Levitt é outro grande destaque na história, tem cenas ótimas, emociona em alguns de seus diálogos e se mostra um dos melhores atores de sua geração. Marion Cotillard, surge menor para uma atriz vencedora do Oscar, e temos sempre a sensação de que ela merecia mais e poderia ter feito algo melhor. Já o veterano Gary Oldman se mostra ainda mais a vontade como Gordon e se destaca por sua grande atuação, assim como Michael Caine que emociona e tem uma performance admirável.

"O Cavaleiro das Trevas" de 2008 foi um filme incrível, de fato, um dos melhores do gênero, conseguiu então, em 2012, um grande concorrente, e o que parecia impossível, Christopher Nolan faz uma sequência a altura de seu antecessor, não o superou, o segundo longa é ainda o ponto alto dos três filmes, no entanto, como conjunto, vemos aqui uma das trilogias mais fantásticas dos últimos anos. Recomendo. Como escrevi anteriormente, Nolan fez um favor para o cinema este ano, mostrou como se faz uma história de um herói, como criar algo grandioso, como se faz um blockbuster sem subestimar a inteligência de seu público, mostrou o que é um final épico, para uma trilogia épica.

NOTA: 9,5





2 comentários:

  1. Legal sua crítica. Também escrevi sobre o filme em meu blog. E demos a mesma nota. Caso queria dê uma olhada lá e comente. Abraços.

    ‘Batman Ressurge’ é um épico recheado de cenas de ação, diálogos inteligentes, referências aos quadrinhos, história bem encadeada com os filmes anteriores, atuações excepcionais (onde destoa apenas a caricata Marion Cotillard que interpreta Miranda Tate), várias respostas e algumas perguntas. Superior a quase totalidade de filmes baseados em quadrinhos que desde o começo da década de 90, e com mais vigor na década passada, invadem os cinemas. Deixa o bom, ‘Vingadores’ envergonhado. Ensina a Zack Snyder (‘Watchmen’) a como dar tons reais a um mundo de fantasia e lobotomiza das nossas mentes o estupro praticado por Joel Schumacher e Gorge Clooney e sua armadura com mamilos e o batcartão de crédito.

    Crítica completa em: http://amahet.blogspot.com.br/2012/08/batman-dark-knight-rises-conlusao-de-um.html

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  2. vilão muito fraco porem atuação da mulher gato foi otima apesar de ele nao ter assumido a indenidade de mulher gato péssimo desfecho e batmam e nao v de vingança

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