segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Crítica: Jovens, Loucos e Mais Rebeldes (Everybody Wants Some!!, 2015)

Denominado como sequência espirituosa de "Jovens, Loucos e Rebeldes" (1993), o filme, novamente escrito e dirigido por Richard Linklater, traz novos personagens mas a mesma sensação libertadora de seu grande clássico.

por Fernando Labanca

"Jovens, Loucos e Mais Rebeldes" é, de longe, a obra mais simples da carreira de Linklater, o que, de certa forma, é compreensível se pensarmos que seu último trabalho foi o complexo e grandioso "Boyhood". É quase como um momento de descanso, de regresso, de voltar às origens e a simplicidade de quando havia começado. Ao mesmo tempo em que isso é  aceitável, é estranho assistir ao filme e pensar que estamos falando do mesmo diretor que realizou obras tão incríveis como a Trilogia do Antes. Estamos falando de um cineasta que sempre soube encontrar a genialidade na sutileza, que revelou ao longo de sua carreira o poder que pode ser encontrado no cinema menor, mais genuíno. Tudo isso se perde aqui, onde entrega mais do que um produto pequeno, mas um produto sem relevância e sem a inteligência que o trouxe até aqui.


Apresentando personagens e tramas completamente diferentes do original, sua intenção é realizar algo perto da antologia, que tem se firmado com êxito na TV recentemente. Nada de sequência, apenas mostrar um novo acontecimento dentro do mesmo universo. Logo, estamos nós novamente naquela vibe gostosa existente em "Dazed and Confused", de jovens se descobrindo e sentindo a liberdade de uma vida longe dos pais, desfrutando de uma rotina libertadora de festas, drogas e rock n roll, agora nos anos 80. Na nova trama, acompanhamos a chegada de Jake (Blake Jenner) à Universidade, que por ter entrado para o time de baseball, passa a morar no alojamento dos jogadores. E ao lado daqueles novos amigos, passa a aproveitar a loucura dos poucos dias que restam até as aulas começarem.

A intenção de Richard Linklater é boa, mas infelizmente "Everybody Wants Some!!" não funciona. Ainda que parte de sua proposta seja trazer a ingenuidade das comédias antigas, seu roteiro é frágil demais para conquistar tal ambição. É, ainda, interessante essa ruptura com o cinemão clássico, sem começo, meio e fim e sem personagens enfrentando grandes dilemas. Seria quase como a vida real, caso a ótima intenção tivesse sido alcançada. Mas não foi. É tudo muito raso e estranhamente superficial, isso vindo de um roteirista que sempre conseguiu expressar os sentimentos humanos de forma tão honesta. Não há sinceridade aqui e não chegam perto disso. Enquanto seu elenco de homens musculosos de 30 anos tentam simular uma vida cotidiana da faculdade, as mulheres aqui não servem de muita coisa a não ser ficarem semi nuas para realizar os fetiches dos estudantes e lutarem sujas de lama. Chega a ser vergonhoso sua noção da realidade, que mira na geração jovem e inspiradora da década de 80 e acerta nos adolescentes tolos de American Pie.

É válido ressaltar, porém, o resgate visual da época. Os locais, figurinos e objetos que compõem as cenas são belos de serem observados. É nostálgico e por isso nos desperta algo bom. A trilha musical, elemento que ajudou a eternizar o primeiro, ressurge mais tímida, no entanto, ainda muito eficiente. Funciona esta relação dos personagens com as canções que ouvem. É nelas que habitam suas identidades ou a tribo que melhor os define. Da balada disco ao revigorante show de punk, os jovens procuram em suas saídas uma nova jornada da qual se sintam parte. Este é o único índice de autenticidade da obra, que se torna pequeno em meio a suas tantas banalidades.

"Jovens, Loucos e Mais Rebeldes" é dispensável e pequeno demais dentro da brilhante carreira de Richard Linklater. É ingênuo e inofensivo, assim como indicava sua proposta, mas parece reciclado demais, incondizente com os novos tempos. Como consequência, é difícil se envolver com seus personagens e por esse caminho despretensioso que percorrem. A falta de química entre o elenco também dificulta esta conexão, assim como a falta de carisma do protagonista e nesta despreocupação do roteiro em inserir algum sentimento mais verdadeiro nele. Sua jornada é vazia e os momentos corriqueiros deste recorte de sua vida é revelado de maneira teatral e pouco convincente. Se trata de um filme leve, sem altas pretensões, que tem a capacidade de divertir, entretanto, diferente do anterior que sobreviveu ao tempo e virou clássico, este entretém sem o mesmo êxito e será esquecido assim que os créditos finais subirem.

NOTA: 6



País de origem: EUA
Duração: 117 minutos
Distribuidor: California Filmes
Diretor: Richard Linklater
Roteiro: Richard Linklater
Elenco: Blake Jenner, Glen Powell, Wyatt Russell, Zoey Deutch




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