Longa de estreia do diretor Marcelo Gomes, o filme fez parte da Mostra "Um Certo Olhar" de Cannes em 2005, além de ter vencido diversos prêmios, inclusive os principais no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. É, com certeza, e isso fica nítido nos primeiros minutos, umas das obras mais incríveis que o cinema nacional lançou desde sua "retomada".
por Fernando Labanca
No ano de 1942, acompanhamos Johann (Peter Ketnath), um alemão que fugiu da Segunda Guerra Mundial e veio parar no sertão nordestino como vendedor de aspirina, até que conhece Ranulpho (João Miguel) no meio do caminho, que pretende chegar no Rio de Janeiro à procura de trabalho. Já que estava por ali mesmo, Ranulpho decide ajudar o estranho nas vendas, parando em algumas cidades do interior e exibindo filmes promocionais do remédio, para uma população que desconhecia o cinema. Deste encontro, nasce uma amizade, entretanto, diante de tudo o que acontecia no país da época, alguns de seus planos passam a ser alterados.
A arte de saber contar uma história. Até mesmo no cinema, nem todos detém deste poder, desta grande sabedoria. O grande trunfo de "Cinema, Aspirinas e Urubus" é justamente este, saber contar uma história, sem a necessidade de grandes reviravoltas ou conflitos, sem a necessidade de exageros ou diálogos forçados, tudo acontece de uma maneira deliciosamente natural, a trama flui a partir do momento em que temos dois personagens bem definidos, e a história depende unicamente deles. Mesmo tendo o sertão nordestino como cenário, Marcelo Gomes em nenhum momento ignora a seca ou qualquer problema social que exista no local, esta informação vem intrínseca, mas não deixa de ser apenas um pano de fundo, ele está mais interessado em seus protagonistas e nesta relação que nasce entre eles. E neste road movie, viajamos ao lado de Ranulpho e Johann, conhecemos seus sonhos, seus medos e a busca constante por uma vida melhor, através de diálogos que surgem quase como um improviso e de situações absurdamente naturais. O filme nos expõe esta genuína beleza de uma amizade, da rotina, da vida, a genuína beleza do cinema e o encantamento que nos desperta ao ver os olhos daquela população humilde ao ver imagens numa tela grande, mais do que isso, aquele êxito em conseguir contar uma história sem o uso de grandes artifícios, é bom porque é bom, apenas.
