
Problema de gente grande.
por Fernando Labanca
Brad (Ben Stiller) é um homem bem casado, classe média alta e com uma vida profissional lucrativa. Isso, para muitos, poderia ser uma grande conquista, mas para ele isso não é suficiente. Esta crise de inferioridade cresce ainda mais quando é obrigado a assistir o sucesso de seus amigos da época de faculdade, que são matérias de revistas e televisão e possuem uma vida mais perfeita que filtro de instagram. Enquanto vive este momento de muitas reflexões, Brad se lança a uma jornada ao lado de seu único filho (Austin Abrams), para que ele decida qual faculdade ingressar no futuro, dando, enfim, seu primeiro passo de sucesso.
"O Estado das Coisas" possui um texto fascinante e funciona quase como um diário do protagonista. E durante seus minutos, acompanhamos um relato bastante íntimo sobre tudo o que lhe passa a mente, dos pensamentos mais vergonhosos aos mais absurdos, mais corrosivos. É o status atual de Brad - assim como anuncia seu título original -, mas poderia ser o meu, poderia ser o de qualquer um. Por mais cruel que seja este estado em que ele se encontra, o roteiro, escrito pelo comediante Mike White, fala mais sobre nós do que gostaríamos de aceitar e justamente por isso, é estranhamente doloroso, desconfortável. Comparar nossa vida com a dos outros é um exercício natural, inútil, mas que fazemos com uma certa frequência. O único resultado disso é uma sensação de fracasso, de que a grama do vizinho é mais verde, de que a felicidade e o sucesso alheio são sempre mais altos que o nosso. De longe, parece uma crise existencial tola, mas ela existe, faz parte de nós. Faz parte, ainda, principalmente, desta geração que assistiu a evolução da tecnologia, que hoje vê seus melhores amigos esbaldando uma vida que nunca teremos, onde cada pequeno pedaço de sucesso é postado, vendido, compartilhado. Uma ideia falsa, claro. Mas uma ideia que nos afeta.